Ao atravessar as portas do restaurante Seldeestrela, em Foz do Iguaçu, é como se o visitante fosse magicamente transportado para o coração da Amazônia. Mais do que uma casa de comidas típicas nortistas, o espaço idealizado por Selma, uma ex-professora natural do Acre, é uma aula viva de cultura, sabores e ancestralidade.

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A história do restaurante começa com a mudança de Selma para Foz do Iguaçu, em 2020, acompanhando os filhos que vieram estudar Medicina. Durante a pandemia, confinada como todos, a professora de 20 anos viu na saudade de casa e na vontade de falar um caminho para empreender: começou criando cápsulas de cappuccino artesanal, bolos de mandioca e trufas. Com o incentivo da família, passou pelas feiras da cidade até decidir mergulhar de vez na culinária regional da sua origem.

O ponto de virada veio quando escreveu nas redes sociais a frase: “Tenho orgulho de ser feirante”. A repercussão foi tão grande que a reportagem viralizou, e ali nasceu a vontade de consolidar seu trabalho.

Uma homenagem ao Norte

Inicialmente batizado de “Sonho Meu”, o negócio ganhou novo nome quando a marca passou pelo processo de registro: Seldeestrela. A escolha veio da junção entre o nome de batismo de Selma, a estrela vermelha da bandeira do Acre e o desejo de prestar homenagem às suas origens. A pronúncia do nome, curiosamente, é “Seldeestrela”.

Com um trailer, ela começou a vender tacacá, vatapá de camarão, açaí verdadeiro, unha de caranguejo, sucos de cupuaçu e graviola, trufas de frutas amazônicas e a inusitada cachaça de jambu. Com o tempo, percebeu que o público queria mais do que comida: queria viver algo único.

Foi aí que nasceu o restaurante fixo, inaugurado em frente à antiga Planeta Bola, próximo à Faculdade Uniguaçu. O espaço, que comporta 68 pessoas, foi inteiramente pensado como um cenário de floresta: folhas pendentes, sons de pássaros e água, objetos típicos e decoração inspirada nas lendas amazônicas e até no filme “Avatar”.

Gastronomia com alma

No cardápio, pratos preparados com insumos trazidos diretamente do Norte: o peixe vem de Porto Velho, a farinha de mandioca de Cruzeiro do Sul, os camarões e caranguejos de Fortaleza, e o açaí vem puro, sem adição de açúcar. Tudo é pensado para proporcionar ao cliente uma jornada sensorial e afetiva — não à toa, muitos nortistas que visitam o restaurante se emocionam.

“Não vendemos comida. Vendemos uma experiência amazônica”, diz Selma, que não hesita em mostrar ao cliente o fruto do açaí, explicar o processo de preparo e até contar lendas enquanto o prato chega à mesa.

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O banheiro que conta histórias

Um dos espaços mais curiosos e comentados do Seldeestrela é o banheiro. Com acessibilidade e um único espaço sem divisão de gênero, ele é decorado com a lenda do boto cor-de-rosa — símbolo da sedução e magia da floresta. O espaço possui iluminação especial, som ambiente e elementos pensados para acolher todos, inclusive pessoas neurodivergentes. Para Selma, o banheiro representa uma mulher que gera todos os tipos de pessoas, e por isso, é feito para todos.

“Todo mundo que entra no restaurante é convidado a visitar o banheiro”, diz ela, entre risos, “porque ali também mora uma parte da nossa história.”

A força de uma rede

A família inteira participa da operação: o filho, futuro médico, comanda a cozinha; a filha atua no marketing e atendimento; o marido cuida das compras. Os colaboradores vêm de diferentes partes do Brasil e até da Venezuela, todos treinados não apenas para servir, mas para contar histórias, transmitir valores e encantar.

O Seldeestrela funciona de terça a sexta das 18h às 23h, e aos sábados e domingos, das 11h às 23h. A ideia é sempre estar disponível, inclusive nos horários em que os demais restaurantes costumam fechar. Petiscos, pamonhas (que já venderam mais de 700 unidades em dois dias), pratos típicos e noites temáticas fazem parte da programação.

Muito além do restaurante

Além da gastronomia, Selma desenvolve um projeto infantil: um livrinho para colorir com lendas amazônicas. Segundo ela, é uma forma de continuar sendo educadora e deixar sementes de cultura por onde passa. Ao participar de grupos de mulheres empreendedoras, encontrou a Revista 100fronteiras e viu a chance de somar com outras iniciativas da cidade.

“Quando você entra no Seldeestrela, você não entra só num restaurante. Você entra numa floresta viva, com cheiro, som e alma da Amazônia.”

E se depender de Selma, o norte agora tem morada definitiva no sul. Para os que buscam afeto em forma de comida, ou cultura em forma de experiência, o Seldeestrela é o destino certo.