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ARTIGO

Professor e advogado Júnior Feitosa reconstitui a história de Tarauacá por meio de artigo

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*Prof.° Júnior Feitosa
O resgate da memória de Tarauacá vem à tona, após um mergulho nas profundas e pardacentas águas, dos rios Tarauacá e Murú. Pois, mergulhando nessas águas, somos inundados por uma rica e bela história de um povo alegre, pacato hospitaleiro, festeiro, guerreiro e acima de tudo feliz.
A história de Tarauacá teve sua origem na sede do Seringal Foz do Murú fundado na confluência dos dois rios. Esse seringal cresceu de importância por ser porto de abastecimento de lenha para os navios, combustível da época, como também era ponto de partida para os altos Seringais produtores de borracha, e em 1907, foi elevado a categoria de Vila, com o nome de Vila SEABRA, em homenagem ao então, Ministro da Justiça José Joaquim Seabra.
Com as grandes secas ocorridas no Nordeste, obrigou milhares de nordestinos se deslocarem para cortarem seringa nos seringais dos Rios Tarauacá e Murú, e com isso também imigraram para Vila Seabra, grande leva de sírio-libanês que tinha larga experiência em comércio e vieram atrás de enriquecimento rápido, já que a borracha nessa época valia ouro.
Vila Seabra, passou ainda a categoria de Intendência, tendo como intendente Dr. Sansão Gomes, que atualmente leva o nome do hospital da cidade. Já em 1913, foi elevada a categoria de município, tendo como primeiro prefeito o Cel. Antônio Antunes de Alencar. A cidade preservou o mesmo nome, até a edição de uma lei federal, que impedia duas cidades brasileiras ter nomes iguais. Então somente em 1943 houve a alteração do nome para Tarauacá, nome indígena que significa “Rio dos paus ou Rio das Tronqueiras”, atualmente a cidade é conhecida como “cidade da mulher bonita e do abacaxi grande”, duas principais características que lhe são peculiares hodiernamente.
Esses nordestinos foram os primeiros a subirem até a categoria dos rios e demarcarem as terras, para a formação dos seringais. Quando lá chegaram, expulsaram os habitantes nativos, que lá se encontravam. Através de um movimento denominado de “correrias”, ou melhor, na verdade, por analogia, o “holocausto indígena”, onde milhares de índios foram mortos, dizimados, tiveram suas vidas ceifadas, de forma covarde e cruel, bem como tiveram seus filhos tomados de suas mães para serem mortos, a ponta da faca, ou a bala, de rifles.
Já suas mulheres foram obrigadas, após testemunhar tamanha atrocidade, a serem esposas e escravas de seringueiros, tudo isso, com a aquiescência dos governos da época, que de certa forma financiaram e incentivaram o massacre. E esse genocídio, deixou como legado, uma mancha negra na história dos povos indígenas não só de Tarauacá, mas de todo o Acre. Sendo encabeçado, por dois principais algozes, na região do Tarauacá Envira, um senhor conhecido pelo codinome de Pedro Biló, e na região do Juruá outro tabacudo insano, conhecido pela alcunha de Felizardo Cerqueira.
Quando expulsaram os indígenas, e se instalaram nos seringais, surgiu a necessidade por parte dos grandes seringalistas, de manter os seringueiros permanentemente nas terras ora conquistadas, com o fim de, cortarem seringa. Surgiu então, a necessidade de abastecer a vila, os seringais e posteriormente a cidade, Destarte, começaram navios, aportarem no Porto de Tarauacá para deixar mercadoria dos comerciantes na sua maioria sírio-libaneses e depois subir aos altos rios para abastecer os seringais, recolher as pélas de borrachas, que seriam enviadas ao comércio de Manaus e Belém, locais onde se localizavam as grandes Casas Aviadoras que abastecia os seringalistas.
Mesmo com toda borracha produzida nos seringais de Tarauacá e Murú fosse enriquecer Manaus e Belém, Tarauacá também se evoluía. O farmacêutico senhor Irineu Catão que já Adquirira uma farmácia, também foi o primeiro a possuir uma bicicleta, o que causava admiração às pessoas por onde passava. O Aeroporto local começava a ser construído a braço, com o uso de pá, enxada, picareta e carro de boi, o que causou grande infortúnio às varias famílias, porque quando chovia, mesmo que fina o avião que descia aqui uma vez no mês não podia pousar e muitas mães de famílias, morreram de parto, por não poderem se dirigir para outros centros e serem atendidas. O primeiro avião a pousar em Tarauacá, foi no ano de 1942, pilotado pelo oficial da força área brasileira Ten. Sérvulo de Paula.
Apesar dessas dificuldades sofridas pela população, o município se desenvolvia culturalmente, com a construção de um Teatro, onde recebia artistas de outras localidades e realizavam grandes apresentações. Alegrando as tardes e início das noites tarauacaense, pois os grandes seringalistas residiam na cidade e investiam em seu bem estar e de sua família e constituíam uma sociedade reservada.
Apesar de Tarauacá ter como santo padroeiro São José, em 1927, foi introduzido no município, à comemoração a São Francisco, esse episódio aconteceu devido a um naufrágio no rio muru, ocorrido com o senhor Raimundo Eustáquio de Moura, e o mesmo no momento da aflição, fez uma promessa que se escapasse com vida passaria a realizar novena em homenagem ao santo. O empenho desse senhor foi tanto e devido também o município ser desbravado por nordestinos que cultuavam muito esse santo, que essas simples novenas ocorridas na colônia Marechal Hermes atualmente bairro de Copacabana, tornou-se o maior novenário do município. E isso fazia com que no final de setembro e começo de outubro a cidade dobrasse sua população para comemorar o santo. O seringueiro trabalhava o ano inteiro acumulando dinheiro para gastar nas festas da cidade, o qual davam grande trabalho a policia. Depois de se divertirem durantes as festas, rumavam para suas lutas da fabricação da borracha.
Com a decadência da borracha os seringalistas não tendo mais como abastecê-los, foram abandonados a própria sortes. A vida que já era difícil tornou-se pior. Os seringueiros que eram então explorados pelos patrões, passam agora a ser explorado por um tipo de vendedor ambulante, chamado de regatões, que subiam aos altos rios trocando mercadoria por borracha num preço exorbitante. O seringueiro não tendo mais nenhuma perspectiva de sobreviver do corte da seringa, vende suas plantações e vem embora para a cidade em busca de melhoria de vida. Chegando a cidade sem dinheiro, sem estudo, nem eles e os filhos, vão povoar as periferias da cidade, construindo seus casebres, semelhantes aos que viviam nos seringais, pois, suas condições financeiras são mínimas e ficam sujeitos a todos os tipos de mazelas por falta de qualquer higiene básica que um ser humano necessita.
E isso tem trazido prejuízos graves para ao desenvolvimento da cidade, bem como sua infraestrutura, malha viária, mobilidade urbana, crescimento desordenado, saneamento básico, luz, esgoto, geração de emprego e construção de casas em áreas alagadiças, o que tem demandado um alto custo para o município, atender a todas essas demandas de seus munícipes.
Essa cidade, sempre foi um celeiro de bons políticos, de campanhas partidárias envolventes, algo singular dessa terra. Ao longo de sua existência sempre houveram forças partidárias organizadas, que motivam e levam multidões as ruas. Os comícios são verdadeiras manifestações populares, expressando apoio a seus candidatos. Podemos dizer, em que pese à divergência, que a escola política taraucaense, é, sobretudo a melhor escola da política acreana, e tem projetado muitos filhos ilustres, não só para o Acre, mas para o País. E diga-se, de passagem, de excelentes oradores, que como os retóricos gregos, usam a verbalização para emocionarem o povo.
E nesses 111 anos de fundação de Tarauacá, é preciso darmos as mãos, unidos, e imbuídos no mesmo propósito, que é melhorar a vida do nosso povo. Corrigindo problemas que atravessaram e permaneceram durante uma existência. E para tanto, é preciso, com muito zelo e determinação, rumar em direção a essa história, com um olhar voltado para o futuro, de um novo tempo de progresso e esperança para a nossa gente. É preciso ainda, que se faça no presente e no futuro, o que não foi possível se fazer no passado, quebrando o retrovisor, sempre almejando dias melhores.
Portanto, essa cidade e seu povo merecem dias, sempre melhores, sem medo, com segurança, mais educação, saúde de qualidade e qualidade de vida para nosso povo. Todos, de mãos dadas, independente de qualquer natureza, quebrando as barreiras e com um olhar voltado para a cultura indígena, dos seringueiros, dos caboclos, dos sírios libaneses, dos nordestinos e dos taraucaenses acreanos, que formam essa gigantesca miscigenação e foram eles os precursores de nossa história. Concluo dizendo, Tarauacá é terra de todos. É terra de gente feliz. Que viva nosso povo, que viva Tarauacá. Obrigado meu Deus por viver esse marco da história.
* Prof.° Júnior Feitosa, Licenciado em Matemática, Pós-graduado em Psicopedagogia e Advogado Criminalista.
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