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Redemoinho de fogo, céu vermelho e ribeirinhos ilhados pela fumaça: os impactos dos incêndios que destruíram 1,2 milhão de hectares no Pantanal
Os incêndios no Pantanal começaram mais cedo este ano e já causaram a destruição de 1,245 milhão de hectares (979,9 mil hectares em Mato Grosso do Sul e 265 mil em Mato Grosso), segundo dados desta segunda-feira (5) do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ). Só nas últimas semanas, as chamas que castigam o bioma formaram um redemoinho de fogo, deixaram o céu cor de sangue e ribeirinhos Ilhados pela fumaça.
No início de junho, os incêndios florestais chegaram a zerar no Pantanal, mas o período sem fogo durou apenas 10 dias, e os focos voltaram a aparecer impulsionados pelas altas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar.
Um dos incêndios de grandes proporções na primeira “onda de fogo” foi na região ao entorno de Corumbá, cidade conhecida como a “Capital do Pantanal”. As chamas ameaçaram a BR-262, principal rodovia de acesso ao bioma pantaneiro em Mato Grosso do Sul, e o Buraco das Piranhas, área que atrai turistas anualmente.
Desde o fim de julho, após uma frente fria zerar o número de focos de incêndio, as chamas voltaram a consumir o Pantanal. Atualmente, as chamas atingem principalmente fazendas nas cidades de Aquidauana e Miranda.
Fortes rajadas de vento facilitaram a propagação das chamas sobre a vegetação seca. Nesta segunda-feira (5), há focos de fogo também na Serra do Amolar e ao entorno de Corumbá.
Ribeirinhos ilhados
Ribeirinhos estavam ilhados por fogo em volta de residência — Foto: PMA/Reprodução
Durante um grande incêndio na BR-262, ao longo da ponte do rio Paraguai, na noite desse domingo (4), policiais ambientais de Corumbá notaram duas residências cercadas pelo fogo e se dirigiram até o local.
A Polícia Militar (PM) conta que a equipe se deparou com a movimentação de moradores combatendo o incêndio e, os policiais foram informados de que no Corixo Gonçalo havia uma família em risco, que relutava em deixar a residência.
Conforme a PM, devido à baixa profundidade do Corixo, apenas uma moradora e seu bebê de dois meses conseguiram utilizar a embarcação. Os outros resgatados foram conduzidos pelos policiais a pé até uma área segura.
Segundo a polícia, foram resgatadas duas mulheres, duas crianças e um bebê.
No sábado (3), outro incêndio de grandes proporções deixou o céu completamente vermelho, na região da ponte sobre o Rio Paraguai, em Corumbá (MS).
Policiais Militares Ambientais que passavam pela região para o Passo do Lontra, sentido Corumbá-Miranda, perceberam duas residências cercadas pelo fogo. Quando chegaram perto, os policiais se depararam com os ribeirinhos tentando combater as chamas e foram informados que uma família do outro lado do corixo estava correndo risco.
Com o auxílio de uma embarcação, os policiais conseguiram transportar uma moradora e seu bebê de dois meses. Os outros membros da família, incluindo duas mulheres e duas crianças, foram guiados a pé pelos policiais até uma área segura.
Cemitério ao ar livre
Carcaças de dezenas de animais queimados pelo fogo são encontradas no Pantanal — Foto: Reprodução/TV Globo
Para os bichos, é mais difícil encontrar local seguro em meio às chamas e muitos morrem. Ainda não há informações precisas sobre quantos animais já foram perdidos desde que os incêndios ficaram mais intensos, mas, muitas carcaças já foram encontradas por grupos de resgaste.
Entre as espécies da fauna pantaneira mais afetadas pelo fogo estão as serpentes e os jacarés. Os lagartos e os anfíbios, como sapos, também estão entre os animais que mais morrem em razão dos incêndios florestais.
Destruição em números
Segundo dados do Lasa-UFRJ, a área destruída pelos incêndios no Pantanal somente em 2024 chega a 1,058 milhão de hectares, uma área quase do tamanho da Jamaica (1,099 milhão de hectares), considerando as áreas em Mato Grosso do Sul (825,1 mil hectares) e Mato Grosso (232,9 mil hectares).
Especialistas alertam que a escalada do fogo em 2024 caminha para um cenário semelhante ou pior ao de 2020, até então o pior ano para o Pantanal desde o fim da década de 1990.
Fotógrafo Araquém Alcântara registra fuga de animais e a destruição das queimadas no Pantanal. — Foto: Araquém Alcântara/Divulgação