POLÍTICA
“Diga-me com quem andas” é tema de novo artigo do Valterlucio Bessa Campelo
Valterlucio Bessa Campelo
O ditado é muito conhecido, não carece de explicação, mesmo assim, arrisquemos para facilitar. É uma proposição simples que pode ser reorganizada assim: Se andas com o bom, então és bom. Ou, se andas com o mau, então és mau. Na verdade, todos nós ouvimos isso de muitas formas desde a infância. Quem não ouviu da mãe cuidadosa: “olhe as companhias!”. Ou, de uma mãe chorosa: “ele andava em más companhias…”. Pois é. Ocorre que para a conclusão “te direi quem és”, é preciso a premissa “diga-me com quem andas”, o que autoriza outra proposição: “sem me dizeres com quem andas, não saberei quem és”. Em resumo, a elaboração pode ser explicada em um silogismo clássico: “Todas as pessoas que andam com os bons são boas, você anda com os bons, então és uma pessoa boa”. Vale o mesmo para pessoas más.
Isto deve ocorrer em uma campanha eleitoral. Os candidatos devem mostrar com quem anda para que o eleitorado saiba quem ele é. Não basta discutir o buraco da rua, apresentar planos mirabolantes, fazer velhas promessas que não cumprirá, registrar planos bem envelopados etc. O candidato tem que mostrar seus apoios, suas companhias, seus acordos. Isso fará com que identifiquemos a turma que o acompanhará na prefeitura e suas âncoras ideológicas. Se o candidato esconde as companhias, como é que vamos saber? E mais. Se esconde, por que esconde? Arrisco duas hipóteses: tem vergonha ou elas podem afundar a credibilidade do candidato. De todo modo, se não mostra, podem não ser boas, logo, o candidato pode não ser bom. É como o garoto que sai pra balada sem dizer em casa com quem anda. Motivo pra família se preocupar, né?
O que dizer, então, de um candidato que apresenta uma chapa floreada com todos os partidos de esquerda, boa parte fazendo parte do governo federal, com representantes aboletados em cargos de toda ordem recebendo o capilé público e, mais do que tudo, com o apoio de Vossa Excelência o Presidente do Brasil, Lula da Silva, o homem “mais inocente” sobre a terra? Por que um candidato assim afastaria da própria campanha gente tão importante? Como é que alguém tira da propaganda o Presidente Lula, seu maior apoiador?
Convenhamos, não colocar o nome do Lula nem no santinho, nem nos cartazes, nem nas faixas, nem na propaganda de TV é “sacanagem”. Desconfio que do jeito que é vaidoso e arrogante, o Lula não está sabendo disso não. Ou será que é combinado? Vai ver, alguém mais íntimo chegou no ouvido do Lula e falou “olha, presidente, desculpe, fica bravo não, mas se você aparecer no Acre, nós TAMUFU”. Pode ser.
Um exemplo ocorreu recentemente nos dias da ExpoAcre, quando por aqui esteve o arguto político Jorge Viana, atual presidente da APEX, ex tudo que quis no Acre. Apesar de seu elevado prestígio nas hostes federais, de ser um político de primeira grandeza, homem de alto senso administrativo e, ainda, padrinho do atual candidato petemedebista Marcus Alexandre, Jorge foi escondido pela campanha como se não fosse relevante. Nem imagino como suportou a desfeita.
Outro exemplo nos aguarda na próxima semana, quando virá ao Acre para uma audiência pública, a Ministra Marina Silva, ícone da esquerda e apoiadora do candidato Marcus Alexandre. Duvido que a campanha faça um gesto de reconhecimento à Ministra, mesmo agora quando nossos corações queimam de paixão pela Amazônia em chamas. O momento seria, em tempos normais, de volumosa demonstração pública de apoio, quem sabe uma carreata, entretanto, pelo visto até aqui, também a Marina será mantida longe.
Certo é que, pela primeira vez nos últimos 40 anos, temos uma campanha sem o vermelho sangue ornamentando a cidade. Comerciante que se antecipou e comprou malha vermelha, se ferrou. Nem torcedor do Internacional a gente viu na Exposição, por exemplo. Só tinha azul da cor do céu. Nem os candidatos a vereador estão autorizados a vestir vermelho pra pedir votos para o candidato petemedebista Marcus Alexandre. Tenho a impressão de que a ideia é misturar todo mundo no azul e, assim, confundir a opinião pública.
Tudo isso pode ser traduzido como estratégia de campanha. Nessa hora, os escrúpulos são jogados de lado e o que importa é passar aquela mensagem neutra como sabonete de recém-nascido para fisgar o eleitor incauto. O candidato da esquerda não quer ser visto ao lado da esquerda e estamos conversados, não quer mostrar com quem anda. O resultado pode não ser o esperado porque se não dizes com quem andas, sabemos com quem andavas, o que dá no mesmo.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS e em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro de contos mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail valbcampelo@gmail.com.