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Valdir Perazzo Leite escreve sobre seu tetravô: Francisco Miguel de Siqueira foi grande fazendeiro no Pajeú

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Um dos aspectos da biografia de Francisco Miguel de Siqueira que venho pesquisando – ainda sem muito sucesso – já faz algum tempo, é quanto à sua atividade como fazendeiro na região do Vale do Pajéu. Nesse objetivo fiz uma visita à sede da “Fazenda Buenos Aires”, que se localiza no Município de São José do Egito, e que, nos últimos anos, pertenceu à família Valadares.

Poucos vestígios do que foi a Fazenda Buenos Aires existem na atualidade. Uma velha caldeira, fabricada na Inglaterra, encontra-se abandonada no interior da propriedade. Acho que o atual proprietário nada sabe a respeito do que foi no passado a Fazenda Buenos Aires.

Por diversas vezes já tentei localizar o processo de inventário de Francisco Miguel de Siqueira como inventariado. Tenho cópia do inventário de sua filha Leopoldina Lina de Siqueira, minha trisavó, que consegui em Afogados da Ingazeira.  Através de alguns amigos tentei fazer uma busca no Museu da Justiça de Pernambuco. É possível que lá esteja o inventário que busco.  Ainda não obtive sucesso!

Fiz uma busca na Comarca de São José do Egito, pesquisando os autos do inventário de Inácio Mariano Valadares, adquirente da Fazenda Buenos Aires, com o objetivo de localizar a escritura pública da venda da propriedade, dos herdeiros de Francisco Miguel de Siqueira para quem a vendeu para à família Valadares.  A cadeia dominial não me permitiu chegar aos meus objetivos.

A tradição oral me informa que a Fazenda Buenos Aires, que pertenceu a Francisco Miguel de Siqueira era muito grande. A referida tradição oral informa que a Fazenda Buenos Aires chegava aos limites do que é hoje o Município de Teixeira, no vizinho Estado da Paraíba. Como parte de suas propriedades, o Coronel chegou a ter 30 (trinta) escravos.

Ora, para integrar a Guarda Nacional no posto de Coronel, somente cidadãos de prestígio e grandes proprietários. Ninguém chegava ao posto de Coronel da Guarda Nacional sem ser um grande proprietário. Chega-se à conclusão de que Francisco Miguel de Siqueira era um grande proprietário, por esse raciocínio lógico.  Mas, ainda não obtive documento cartorial que me levasse a essa dedução.

Chego à conclusão de que sua família era possuidora de grandes extensões de terras por outro raciocínio lógico. No livro de Tombo organizado pelo Padre Carlos Cottart, há a transcrição de um escritura pública em que o sogro de Francisco Miguel de Siqueira  (Agostinho Nogueira de Carvalho), e o casal Major Laurindo Ângelo de Almeida e Silva, e sua esposa Antônia Nogueira de Brito (genro e sobrinho e filha do Coronel), doaram as terras que hoje integram a sede do Município da Ingazeira. Terras doadas ao Padroeiro São José, de quem o Coronel era procurador, e nessa condição assinou o documento público.

Tenho a escritura pública, através da qual o meu bisavô Antônio Perazzo, adquiriu a Fazenda Riachão (que pertence a vários proprietários da família Perazzo na atualidade), vendida pelo mesmo casal acima referido (Major Laurindo Ângelo de Almeida e Silva, e sua esposa Antônia Nogueira de Brito), que, com certeza, herdaram do Coronel Francisco Miguel de Siqueira. Registre-se que essa escritura foi assinada à rogo de Antônia Nogueira de Brito (analfabeta), por seu filho Francisco Miguel de Siqueira Neto, no ano de 1885

O Coronel havia morrido já fazia 07 (sete) anos. Portanto, as terras da Fazenda Riachão eram de propriedade do espólio de Francisco Miguel de Siqueira. 

A Fazenda Riachão, quando da morte do italiano e de sua mulher, foi dividida por 08 (oito) herdeirosEra uma grande propriedade. O Coronel tinha mais 09 (nove) filhos além da sogra do italiano (Leopoldina Lina de Siqueira). Enfim, pode-se concluir que o Coronel era um grande proprietário, mesmo ainda sem dispormos de uma prova cabal para confirmar o raciocínio.

Confirmando nossa tese de que Francisco Miguel de Siqueira era grande proprietário, valho-me ainda de outro raciocínio. Era genro de Agostinho Nogueira de Carvalho, de quem sua mulher (Íria Nogueira de Carvalho), recebeu terras em herança. Vejamos a discrição das terras de Agostinho Nogueira de Carvalho, como nota de rodapé do livro “O Reino dos Cantadores ou São José do Egito etc., coisa e tal”, de autoria de José Rabelo,   extraído do “Livro de Vínculo do Morgado da Casa da Torre”, de autoria de Yony Sampaio:

De fato, no Livro de Vínculo, o referido Agostinho aparece como rendeiro (10$). Suas terras da Ingazeira (ou Engazeira) extremavam, pelo rio abaixo, na Várzea Comprida, e, pelo rio acima, no Riacho Fundo, terras da fazenda de Santa Ana, e, para o sul, com terras da fazenda da Alagoa, e, para o norte, “onde verdadeiramente deva extremar”.

Francisco Miguel de Siqueira, tornou-se também grande proprietário em razão do seu casamento com a filha do primeiro fazendeiro da Ingazeira, ou seja, Agostinho Nogueira de Carvalho, cujo pai, que tinha o mesmo nome, foi comandante da Guarda Nacional em Flores.

Em razão de ser um grande proprietário, esse título guindou o Coronel Francisco Miguel de Siqueira para ocupar outros relevantes cargos na comunidade em que viveu. A condição de grande proprietário lhe permitiu chegar ao posto de Tenente-Coronel da Guarda Nacional, Juiz Municipal, Delegado, líder do Partido Conservador, e também Comandante da Guarda Nacional, onde se destacou na repressão dos revoltosos do Movimento Quebra Quilos e da Revolução Praeira.

O grande fator de produção na região do Vale do Pajéu, inevitavelmente, era a propriedade rural. A projeção social, política e econômica se dava pela propriedade fundiária. Eis um texto extraído do livro “A Coluna Prestes na Paraíba”, de autoria do Padre Manuel Otaviano, que confirma o que dizemos. Recorro à introdução feita pelo escritor Celso Mariz, no que diz respeito ao prestígio da família Leite no município do Piancó (PB), cuja colonização foi feita de forma similar à colonização do Vale do Pajéu:

O papel da família Leite na vida do município, ou melhor, da região e do Estado. O seu predomínio natural como elemento de onde saíam os fazendeiros mais ricos, os homens de mais traquejo, de maior ousadia, de mais largas relações e consequentemente de mais segura influência social”.

Sem grande prestígio, com certeza, o Coronel Francisco Miguel de Siqueira não conseguiria as terras que obteve – tornando-se grande latifundiário no Pajeú, ocupando vários cargos de destaque -, junto à Casa da Torre. O caminho era esse. Confirmo o que acabo de dizer recorrendo ao livro citado, em relato sobre o prestígio político que a família Leite ocupou na Paraíba, a partir da cidade do Piancó, e como família de fazendeiros:

Descendentes dos antigos conquistadores, João Leite Ferreira ali se instalava nos decênios do século XVII, adquirindo terras à Casa da Torre, de cujas posses pedia confirmação ao governo da Capitania em 1759. O segundo João Leite, neto ou bisneto do primeiro e filho de Pedro Leite, era chefe do Partido Liberal no segundo Império, com um prestígio sem igualdade no Piancó. Foi deputado à Assembléia Provincial na legislatura de 1840-42. Se no triênio seguinte, prejudicou-se a sua representação com a queda dos Liberais em todo o País e a insuficiência das leis que regulavam os pleitos, já na composição de 1846, e em outras sucessivas, vinha como deputado o seu genro Izidro Leite, bacharel em Direito, e nunca mais os Leite deixaram de ter representante na Assembleia quando a sua parcialidade subia. Em 1862 vinha como deputado o dr. João Leite Ferreira, o 3º do nome, que se casara na Capital com a primogênita do Chefe do Partido na Província, o Comendador Felizardo Toscano de Brito, a quem, com a morte deste, sucedeu no comando partidário e em postos parlamentares e de governo. Em seguida aparecem o dr. Paula Primo e o Cel. Tiburtino Leite Ferreira com a mesma força e o mesmo fastígio de poder”.

Pois bem. Qual paralelo eu quis estabelecer sobre a liderança do Coronel Francisco Miguel de Siqueira no Vale do Pajéu, com a liderança da família Leite no Vale do Piancó, no Estado da Paraíba?

Aqui destaco uma outra consciência entre a liderança de Francisco Miguel de Siqueira no Vale do Pajéu, com a liderança da família Leite no Vale do Piancó. O grande adversário dos Leite no Piancó, foi um Padre (Padre Aristides). O livro de Manuel Otaviano narra a morte trágica do Padre Aristides quando da passagem da Coluna Prestes pelo Piancó. Os adversários de Francisco Miguel de Siqueira foram dois padres. Um defensor da ideologia liberal (anticlerical) da revolução francesa (Padre Pedro de Souza Pereira); o Coronel líder do partido conservador, e o outro (Padre João Vasco Cabral d´Algonez), defensor do Movimento subversivo contra o Império do Brasil, denominado “Quebra Quilos”, que o Coronel tinha o dever profissional de reprimir.

Muita atenção!.  O que (os padres) dizem contra Francisco Miguel de Siqueira não se pode dizer que eram crimes. O que alegam contra o Coronel são pecados (soberba, orgulho, prepotência, etc). Ora, um padre não publica, nem deixa registrado em livro Tombo pecado das pessoas sob sua direção espiritual (o Coronel era católico praticante). O normal era um padre ter compaixão do pecador. Mas, ao contrário, revelaram muito  ressentimentos  por motivos políticos!

A liderança de Francisco Miguel de Siqueira no Vale do Pajéu encontrou resistência e oposição de dois padres. A família Leite do Vale do Piancó encontrou resistência e oposição de um padre.  Destaco essa consciência relativamente à liderança  dessas duas regiões que tiveram a mesma forma de colonização, a partir da Casa da Torre.

Pois bem. Prestígio para obter grandes propriedades, via Casa da Torre, o Coronel Francisco Miguel de Siqueira tinha. Prestígio junto à maior liderança  no Vale do Pajéu (deputado do Império, Monselhor Joaquim Pinto Campos), o Coronel tinha. O que percebi na incorreta condução da família  Siqueira  pelo Coronel?

Como eu disse anteriormente, o Coronel Francisco Miguel de Siqueira teve uma numerosa prole. O casal (Francisco Miguel de Siqueira e Íria Nogueira de Carvalho), teve 10 filhos, dos quais 05 (cinco) eram homens. Um deles, José Januário de Siqueira, foi padrinho de minha bisavó Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza em 1861, quando esta nasceu.

Não consta que nenhum dos 05 (cinco) varões filhos de Francisco Miguel de Siqueira tenham dado continuidade à liderança do pai. Os Siqueira, descendentes do Coronel, não receberam a educação que os descendentes de Pedro Leite (fundador da família no Piancó) receberam.

Vários representantes da família Leite do Vale do Piancó, ainda no século XIX, foram deputados à Assembleia Provincial e ao Parlamento do Império. Inclusive um deles (França Leite), foi o primeiro comentarista da Constituição de 1824.

Conclusão. Por não ter dado a educação necessária aos seus descendentes, o legado de Francisco Miguel de Siqueira terminou por ser esquecido. Nem sequer o prestígio do sobrenome (Siqueira) foi mantido.

Valdir Perazzo Leite

 

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