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Ninguém resiste às histórias dos últimos 70 anos do Acre contadas pelo Idel Diniz, o “Lorde do Iaco”; o AcreNews também se rendeu

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Por Jorge Natal

Nascido no Seringal Baturité, Colocação Silva Jardim, no Rio Iaco, Eduardo Reis Ferreira Diniz, de 75 anos, mais conhecido como Idel Diniz, ou como “o lord do Iaco”, é um cidadão popular no município de Sena Madureira. Filho de um seringalista bem-sucedido, no período áureo da borracha, foi morar em Manaus e estudou nas melhores escolas. Mas a saudade da terrinha o fez retornar quatro anos depois. Por quase cinco anos, foi gerente do seringal da família.

A decadência da economia extrativista e a consequente desativação dos seringais na década de 80, no entanto, fizeram o nosso personagem migrar para a cidade, onde casou, tornou-se funcionário público e o maior radialista de todos os tempos no município. E foi no rádio, o melhor telefone público do município naquela época, que esse aposentado bonachão fez sucesso, amigos e colecionou alguns ‘causos’.

Em um curtíssimo espaço de tempo, transformou-se no “menino prodígio do Iaco” e, por onde andava, era recebido com foguetes e papéis para autografar. “O Dr. Ulisses [ex-prefeito Ulisses Modesto] me chamou para montar a Rádio Difusora, que servia para tudo: mandar recados para o interior, veicular notícias nacionais e locais, utilidade pública, dar alô e parabéns para os ouvintes, além de abrir espaço para os artistas da região se apresentarem”, lembrou Idel, que resume a magia do rádio em duas palavras: som e emoção.

Além de comandar programas de notícias e entretenimento, ele se tornou narrador esportivo. “Certa vez, eu fui transmitir um jogo no Estádio José de Melo. Um grupo de moças começou a me vaiar. A cabine não tinha vidro. Ao presenciar aquela situação, a minha mulher saiu de perto de mim, fez que não me conhecia [risos]. Aí eu fiz valer o meu suposto talento. Entoei a voz e elogiei as meninas, que passaram a me aplaudir e a minha esposa voltou”, contou ele, às gargalhadas.

O prestígio e a fama, no entanto, não eram exclusividade do nosso bon vivant. “Todo mundo tinha uma legião de fãs, inclusive tem episódio de um amigo meu, o Ronaldo Queiroz, que me disse: ‘Idel, por que você não namora? Tem gente que namora e a esposa nem sabe’, propôs ele. Aí, no programa de maior audiência, eu contei essa história. Em um minuto a mulher do Ronaldo estava na rádio querendo pegar ele”, lembrou o “amigo da onça”.

Idel também coleciona pérola de políticos. O seu preferido é o ex-prefeito Aguinaldo Chaves. “Certa vez, na rua que dá acesso à BR, ele estava com seu carro próximo de cinco caminhões atolados. Todos ajudando uns aos outros até que um caminhoneiro fez o seguinte comentário: “Pelo o amor de Deus! Essa cidade não tem prefeito. Se encontrasse esse fi d’uma égua eu o matava”. E o Aguinaldo respondeu: “Eu faria o mesmo, meu amigo”.

A reportagem do Acre News encontrou essa figuraça jogando dominó na casa de um amigo. Nesta entrevista, risonha e descontraída, concedida em sua casa, ele fala um pouco da sua vida, dos hábitos sena-madureirenses e principalmente do rádio, que é uma de suas paixões. Ei-la:

Acre News – Quais as músicas e os cantores que o senhor mais gostava de tocar nos programas?

Idel Diniz – Agepê e Roberto Carlos. Temos muitos discos de vinil e quase a coleção completa do Rei. Os amigos já levaram muitos. Eu ainda tenho uma vitrola que está ali na sala.

Acre News – Sena Madureira tem fuxico?

Idel Diniz – Aqui? Sena é a cidade do fuxico: na feira, no dominó, no estádio, no tacacá e nos bares. Mesmo com a Televisão, Sky, internet e WhatsApp isso nunca mudou. O fuxico é a nossa maior tradição.

Acre News – Como é o agricultor de Sena Madeira?

Idel Diniz – Ele é extremamente preguiçoso. O governo tem culpa sim, mas ele não gosta de plantar. Agora meninos eles têm muito.

Acre News – Como está a economia do município?

Idel Diniz- Aqui é a cidade do já teve: já teve dois jornais impressos diários, já teve castanha e borracha, madeira, peixes e até narrador esportivo, que sou eu. Eu tenho três diplomas garantindo que sou o melhor narrador da cidade. Mas só tinha eu de concorrente [gargalhadas].

Acre News – Como está o patrimônio histórico e a memória da cidade?

Idel Diniz – Do jeito que você está vendo, abandonado e sem manutenção. O poder público não está nem aí para a nossa história. Os políticos não acham que isso é importante, infelizmente. Temos prédios centenários abandonados, bem como documentos e objetos que deveriam estar em um museu ou memorial.

Acre News – Os seus três filhos possuem, digamos assim, nomes inusitados. O senhor pode explicar o motivo disso?

Idel Diniz – Eu tinha certeza que o primeiro bebê seria uma moça, que é a mais bonita da cidade. A menina nasceu linda, com cabelo de ouro. Então ela tinha que ter um nome bonito, concorda? Eu gostava muito da atriz Sophia Loren. Então eu juntei o nome de uma irmã do presidente Kennedy, que é Kathleen, com o as iniciais de MacGovern, que é de um político democrata americano, e Loren da atriz, ficando Kathleen Macloren. O nome do meu segundo filho foi assim: tinha um pastor que queria que colocasse o nome de Macmiller, que era um ministro da Inglaterra. Então eu registrei MacMaillan para se diferenciar do pastor. E o nome da terceira filha foi a mãe dela, que fez uma adaptação com o nome da mais velha, e ficou assim: Kethleen Maklaine.

Acre News – Na manhã do dia de 28 de setembro de 1972, um avião DC-3, da Cruzeiro, vitimou 32 pessoas. Foi o maior acidente da aéreo até então. O que o senhor lembra daquela tragédia?

Idel Diniz – Foi uma coisa terrível. O acidente aconteceu às margens do Rio Caeté, a cerca de quatro quilômetros daqui, mas o cheiro dos corpos carbonizados infestou a cidade. Muitas pessoas ficaram semanas sem comer carne. Lamentamos, também, a perda do arcebispo da Diocese do Acre e Purus, Dom Giocondo Maria Grotti.

Acre News – É verdade que o senhor não gosta do PT? E também nunca votou na legenda?

Idel Diniz – Depois da minha família, esse é o meu maior orgulho. Viu o que eles fizeram com o Brasil e o nosso Estado? Todo mundo aqui já foi do PT, menos eu. Olha essa vergonha de BR. O Orleir foi o melhor governador para nós. Quando se rouba o dinheiro da saúde, matam-se pessoas. Quando o dinheiro é da educação, deixam-se pessoas sem instrução. E, quando desviam verbas da segurança, o resultado é o que está acontecendo no nosso estado.

Acre News – O que é o bem viver?

Idel Diniz – Sou um homem religioso e por isso sou feliz. Amo e sou amado por Jesus Cristo. Sou católico, mas convivo naturalmente com outras religiões. Tem um padre, nosso amigo, que eu disse a ele: quando estamos em pecado adoecemos. Veja um exemplo. Eu saí daqui para ir à cidade de Aparecida (SP) e findei parando na capital Fluminense. Gostei muito e nem fui. Sabe o que aconteceu? Peguei dengue e quase me lasco. Isso foi um castigo [gargalhadas].

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