Professor da UFAC, Raimundo Ferreira, volta com tudo nos artigos de opinião; hoje ele escreve sobre ‘pensar diferente’

PENSANDO DIFERENTE

Pensar diferente exige coragem. Na verdade, atualmente, até o ato simples e despretensioso de pensar requer coragem e disposição, pois essa prática parece estar caindo em desuso. As comodidades estão tão presentes e facilitadas que a maioria das pessoas se sente confortável em não levantar questionamentos. As tendências do modismo vigente parecem satisfazer suas necessidades. Ou seja, se os veículos de comunicação estão divulgando e nenhuma opinião contrária está se manifestando, a questão é considerada pacificada e pode ser adotada como o direcionamento correto.

No entanto, a nosso ver, essa letargia e apatia podem ser bastante enganosas, para não dizer perigosas. Afinal, a realidade cotidiana nunca se apresenta de forma tão simplista. O caminho para o paraíso não surge como um achado ocasional.

Não podemos afirmar categoricamente que essa confortável comodidade nos levará ao abismo. No entanto, esse comportamento de rebanho pode estar atendendo aos interesses de alguém que organizou projetos ambiciosos e está contando com o apoio do povo desavisado para, posteriormente, usufruir dos benefícios. Da mesma forma, pode estar encaminhando os seguidores para um fracasso anunciado. E, devido à ausência de manifestações contrárias, mesmo diante de decepções, as pessoas não terão como reivindicar seus direitos. Em vez disso, serão obrigadas a digerir as possíveis consequências.

A verdade é que casos encaminhados com características de radicalismo e ideias fixas nunca conduziram os simpatizantes à obtenção de benefícios coletivos. A história está repleta de exemplos de pessoas e países que seguiram esse roteiro, alicerçado no egoísmo e na polarização. E no final da saga, o resultado foi sempre o mesmo: tragédia.

Sem a pretensão de oferecer uma receita pronta, mas apenas alertando os desavisados, sabemos que cada indivíduo, de acordo com seu referencial, vê, entende e age sobre o mundo de forma diferente. Partindo dessa premissa elementar, não é plausível acreditar que os destinos de uma população possam ser conduzidos de forma promissora sem que as metas estejam alicerçadas na confrontação de opiniões, onde teses, antíteses e sínteses embasam as diretrizes.

Jamais poderemos imaginar — tampouco acreditar — que em uma nação do tamanho do Brasil, aproximadamente cinquenta e dois por cento da população pense de uma única forma e os outros quarenta e oito por cento de outra.

Alguém pode indagar o que fazer diante disso. A resposta é que, em relação ao atual status quo, nada pode ser feito de imediato. Contudo, individualmente, podemos refletir sobre a situação, tentar formular e divulgar conjecturas que atendam aos interesses coletivos. Ou seja, mesmo diante do que podemos denominar de “maioria normalizada”, devemos tentar ser diferentes.

Raimundo Ferreira é professor universitário e arquivista