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Filhos de reeducandas festejam Dia das Mães em encontro organizado pelo Projeto Abraçando Filhos do TJAC
Com apenas oito anos de idade, a pequena Ana tem uma saudade que não cabe no peito: a mãe dela está presa. A mãe de Ana deixou ela com 10 meses de vida aos cuidados da família. A reeducanda explicou que só consegue ver, segurar, beijar, fazer carinho em Ana por causa do Projeto “Abraçando Filhos” da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), pois não tem visita na unidade prisional.
E nesta segunda-feira, 19, mais uma edição da iniciativa foi realizada no átrio do TJAC, em comemoração ao Dia das Mães, como explicou a vice-presidente do Tribunal, desembargadora Regina Ferrari, que também é coordenadora da CIJ:
“Hoje é um dia de alegria, vocês vieram ver vossos filhos. Hoje é um dia de alegria porque estamos aqui comemorando, embora tardiamente, o Dia das Mães. A esperança é que faz a gente viver. Que não desanimem, que seus filhos e filhas não desanimem e que vocês acreditem que amanhã será melhor. Vocês já iniciaram esse processo de retorno a vossas famílias”, comentou a magistrada.
Sem visitas
Muitas mulheres em cumprimento de pena privativa de liberdade não recebem visita, seja por impedimentos legais para as famílias conseguirem autorização para entrar no presídio, seja pelos familiares morarem em outra cidade e não terem condições de se deslocar. Segundo a assistente social, Bianca Souza, do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), parceiro do Judiciário no projeto, em torno de 36 mulheres, “sendo a maioria de mães, não recebem nenhuma visita”, disse a profissional.
Ana e a mãe tinham se visto há seis meses, em dezembro de 2024, por causa do Projeto “Abraçando Filhos”. Por isso, a menina não aguentou, correu e pulou nos braços da mãe assim que as 21 mulheres chegaram em fila indiana na área onde filhas, filhos e familiares esperavam. “Eu nunca mais eu vi ela. E agora eu tô vendo, porque eu amo muito ela. Ela é o amor da minha vida”, disse Ana, grudada no colo da mãe. vVencer distâncias
Esta edição do projeto contou com apoio das prefeituras e da Assistência Social de três cidades do interior, Capixaba, Plácido de Castro e Xapuri, e ainda do juiz de Direito Bruno Perrotta, titular de Capixaba, que ajudaram a trazer as filhas e os filhos para Rio Branco, para a manhã de confraternização e carinho.
Para a família de Lúcia chegar à capital hoje, a mãe da reeducanda acordou às 4h30 para arrumar os quatro filhos, três meninas e um rapaz. Lúcia estava há mais de um ano sem ver seus filhos. Emocionada, a filha mais velha de Lúcia agradeceu: “É uma oportunidade que a gente tem, porque é difícil para mãe (avó) vim e trazer todos nós. Então, quero agradecer demais, que isso é muito bom, para matar a saudade”, disse a adolescente de 14 anos de idade.
Com dois filhos, um menino de oito e outra de nove anos de idade, Joana estava ansiosa pela oportunidade e ver os filhos. Quando ela foi presa as crianças foram morar com a mãe dela, em Xapuri. O deslocamento até a capital é difícil para a família. Mas, com a logística do Projeto um pouco da saudade foi resolvida. Ela contou que já foi atendida pelo projeto em 2023, quando estava há cinco anos sem ver a filha. Mas, nesta segunda-feira, foi a primeira vez que pode ver os dois filhos e a mãe dela, todos os três juntos. Ela estava sem dar um abraço na mãe há mais de oito anos.
“Quase oito anos sem conseguir abraçar minha mãe e vinha pedindo para Deus ‘Senhor, tudo que eu preciso é de um abraço de uma mãe, tudo que eu queria agora era o colo dela para poder chorar e pedir perdão’. E foi a primeira coisa que falei para ela ‘perdoa, mãe por todos os conselhos que não te ouvi’. Agora, o sofrimento me ensinou e hoje quero voltar uma verdadeira filha, uma mãe de verdade”, disse a reeducanda.
Além da equipe do Judiciário responsável por organizar a atividade, com a parceria do Iapen, também compareceram ao momento, representantes do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), da Defensoria Pública Estadual (DPE/AC), da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac).
*Os nomes das reeducandas e de seus filhos foram alterados para garantir direitos das crianças e das mães