SAÚDE
Filhos separados por política de isolamento da hanseníase cobram justiça em Rio Branco
Famílias atingidas pela antiga política de isolamento compulsório de pessoas com hanseníase voltaram a cobrar justiça em Rio Branco nesta terça-feira (17). A sessão da Câmara Municipal foi marcada por emoção e mobilização social, com a presença de dezenas de familiares e representantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), que ocuparam a tribuna popular para reivindicar o pagamento de pensões vitalícias previstas em lei.
A política de isolamento foi adotada no Brasil por mais de seis décadas. Nesse período, pessoas diagnosticadas com hanseníase — chamada pejorativamente de “lepra” — eram internadas compulsoriamente em hospitais-colônia, como o Curupaiti, sem previsão de alta. Filhos dessas pessoas eram separados à força e enviados para abrigos ou entregues a famílias substitutas, um trauma que marcou gerações.
“Eu não tive infância. Fui separada do meu pai. Peço reconhecimento, pois indenização nenhuma vai reparar a dor que eu senti”, declarou Marilza Assis, filha de um paciente, com a voz embargada.
A mobilização na capital acreana ocorre em meio à publicação, no Diário Oficial da União, da aprovação dos primeiros 147 processos de indenização. Estima-se que cerca de 8 mil pessoas sejam beneficiárias em todo o país. Embora uma lei federal de 2007 tenha garantido pensão vitalícia aos ex-internos, só em 2023 — após anos de articulação do Morhan — foi aprovada uma nova legislação estendendo esse direito aos filhos separados. A regulamentação foi publicada no fim do ano passado, mas os pagamentos ainda caminham lentamente.
O vereador João Paulo, que propôs a tribuna popular, defendeu celeridade no processo: “O que essas pessoas passaram é uma ferida aberta na história do Brasil. O mínimo que o Estado pode fazer agora é reparar esse erro com dignidade”.