A inclusão social e o empoderamento de mães de crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista (TEA) foram os destaques da quarta noite da Expoacre Juruá, nesta sexta-feira, 4, no estande da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), comandada pela vice-governadora Mailza Assis. A ação fez parte da programação especial “Inclusive Eu”, voltada à valorização da pessoa idosa e da pessoa com deficiência.
Mães que participaram do projeto “Empoderar para Cuidar”, desenvolvido pelo Centro Especializado em Transtorno do Espectro Autista (Cetea), mostraram aos visitantes as habilidades adquiridas no curso de automaquiagem oferecido pela iniciativa. Além de promover autoestima, o projeto oferece a essas mulheres uma nova fonte de renda, sem que elas precisem abrir mão do cuidado integral com seus filhos.
Uma das participantes do projeto foi Caroline de Andrade, mãe do pequeno Carlos Eduardo, de seis anos, diagnosticado com autismo aos quatro anos. Ex-professora, Caroline largou a carreira para se dedicar exclusivamente ao filho e, agora, encontrou no curso de maquiagem uma forma de reencontrar sua identidade e conquistar autonomia financeira.
“Esse projeto me ajudou a me reencontrar como mulher, como mãe e como pessoa. Eu me via apenas como a mãe do Carlos Eduardo. Hoje eu consigo trabalhar de casa, tenho a chance de ajudar no sustento da família e ainda me cuidar, algo que eu tinha deixado de lado”, relatou.
Caroline também falou sobre as dificuldades diárias que enfrenta com o filho e sobre o diagnóstico tardio do marido, também autista. Ela relatou que decidiu se dedicar integralmente à família ao perceber que, sem rede de apoio em Cruzeiro do Sul, não conseguiria conciliar trabalho e os cuidados necessários.
“Meu filho ainda não desfraldou, vai fazer sete anos e tem muito medo de barulho, de chuva, até de uma borboleta passando. Ele não sabe lidar com as emoções e cada conquista, por menor que seja, é uma vitória. Foi quando percebi que precisava me dedicar a ele”, contou.
Além do pequeno Carlos Eduardo, o marido de Caroline também recebeu o diagnóstico de autismo já na vida adulta, o que trouxe explicações para muitas situações vividas ao longo dos anos. “É difícil você passar a vida inteira sem saber o porquê de certas coisas, mas quando o diagnóstico vem, mesmo tarde, a gente aprende a lidar melhor. Assim como meu filho, ele também tem suas limitações, suas estereotipias, faz ruídos. Mas com o apoio da APAA e com as terapias, a gente vai aprendendo a ter dias melhores”, completou.
O Empoderar para Cuidar foi criado justamente para atender mães que não conseguiam ingressar no mercado formal de trabalho devido à dedicação aos filhos com TEA. A proposta é oferecer uma alternativa de geração de renda, sem abrir mão da rotina de cuidados tão essencial para o desenvolvimento das crianças.
“Muitas mães se veem sem opções porque precisam estar disponíveis para atender as necessidades específicas de seus filhos. O projeto permite que elas tenham uma renda extra, elevem sua autoestima e não precisem escolher entre trabalhar ou cuidar de quem amam”, explica Peter Rogers Nogueira dos Santos, coordenador do Cetea e presidente da Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Autismo de Cruzeiro do Sul (APAA/CZS).
O Cetea, inaugurado em 2024 pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul e gerenciado pela APAA, já atende mais de 500 famílias, oferecendo terapias como fonoaudiologia, fisioterapia, musicoterapia e apoio emocional. Além do Empoderar para Cuidar, a instituição desenvolve ainda o projeto Cuidando do Cuidador, com rodas de conversa e suporte psicológico.
Missão de vida do fundador da APAA
A história de Peter Rogers, pedagogo especializado em Neuropsicopedagogia e Análise do Comportamento Aplicada (ABA), é um reflexo da realidade de muitas famílias. Natural de Ipixuna, no Amazonas, Peter se mudou para Cruzeiro do Sul em 2016 em busca de diagnóstico e tratamento adequado para a filha, hoje com 16 anos, diagnosticada com autismo de nível 3. Desde então, ele se dedica a lutar por políticas públicas e inclusão social para pessoas com autismo e seus familiares.
“O diagnóstico não foi fácil. Passamos por muitos médicos até chegarmos a um profissional que realmente identificou o autismo. A partir daí, comecei a estudar e me especializar, para entender e ajudar melhor a minha filha e outras famílias que viviam a mesma situação”, relembra.
A presença das mães maquiadoras na Expoacre Juruá simboliza mais do que uma simples demonstração de talento, representa a força da inclusão social como ferramenta de transformação de vidas. Com o apoio da SEASDH, o evento reafirma o compromisso do governo do Acre em promover uma sociedade mais justa, acolhedora e solidária.
A psicóloga Bernadete Lucchesi, chefe da Divisão do Departamento da SEASDH responsável pela articulação com organizações da sociedade civil, destacou a importância da parceria entre o poder público e as instituições. “O governo abre este espaço para que as organizações possam divulgar seus trabalhos e fortalecer as redes de apoio. Hoje temos aqui a APAA, que desenvolve um trabalho de excelência com as famílias atípicas. Essas mães estão aqui mostrando que também podem cuidar de si mesmas e ter autonomia, o que reflete diretamente no bem-estar de seus filhos”, afirmou.