RAIMUNDO FERREIRA
Professor Raimundo Ferreira, nosso articulista, faz uma viagem nas piracemas dos rios acreanos nessa época do ano
PIRACEMAS DE MANDI
Nessa época em que o nível das águas dos rios da Amazônia atinge volumes muito baixos, várias espécies de peixes migram para as cabeceiras (nascentes) dos rios, buscando depositar seus ovos — ou, como se diz popularmente, “fazer a desova” — o que propicia o nascimento de milhões de alevinos. Esses filhotes, por sua vez, contribuem para o repovoamento dos rios com as espécies típicas da região.
Esse fenômeno ocorre em todos os rios amazônicos e, na região do Acre, não é diferente: todos os seus rios passam por esse ciclo natural. É nessa época que espécies populares como pacus, tambaquis, sardinhas, curimatãs, surubins e, especialmente, o mandi — um dos bagres de pequeno porte — percorrem os rios em grandes cardumes, protagonizando o fenômeno conhecido como piracema.
Os ribeirinhos, equipados com as chamadas redes de arrasto, aproveitam esse momento para pescar grandes quantidades desses peixes. Em alguns municípios do Acre, inclusive, são realizados eventos chamados Festivais do Mandi.
O jornal local do Alto Juruá, Diário em Tempo, município de Cruzeiro do Sul, publicou no dia 06/08 uma reportagem acompanhada de vídeo, mostrando uma equipe de pescadores que cercou tantos mandis em uma única lançada de rede que não conseguiu arrastá-los até a margem.
Embora esse momento represente uma verdadeira fartura proporcionada pela natureza — sendo uma importante fonte de alimento para as populações ribeirinhas —, é preciso ponderar. Considerando que parte desses peixes será comercializada e, principalmente, que a pesca com redes de malhas finas resulta no descarte de muitos peixes por serem considerados de pequeno porte, é fundamental que existam critérios claros, consciência ambiental e fiscalização eficaz para regulamentar essa atividade. Isso contribuirá para a preservação do meio ambiente e para a sustentabilidade desse recurso natural tão valioso.