GERAL
Artigo do Alexandre Bispo: Miriam Leitão, entende de uma vez que o pecuarista não é cúmplice do tarifaço
Em participação dia 6 de agosto, no Jornal Bom Dia Brasil, a Jornalista Miriam Leitão apresentou uma narrativa equivocada e oportunista: a de que o setor da pecuária brasileira teria margem de sobra para absorver o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre a carne bovina nacional.
Essa afirmação, além de desconectada da realidade do campo, desrespeita milhões de produtores que atuam na base da cadeia, enfrentando margens cada vez mais apertadas, volatilidade de preços, aumento nos custos de produção, arrocho no crédito rural e uma carga tributária que só cresce.
A verdade é que quem lucra com as exportações não é o pecuarista, mas os intermediários e a indústria frigorífica, que opera com alto poder de barganha. O produtor, na ponta, recebe cada vez menos pelo boi gordo, muitas vezes abaixo do custo de produção, enquanto vê sua atividade desvalorizada e sacrificada por decisões políticas e comerciais que ignoram o campo.
Alegar que a pecuária tem “gordura” para queimar é fechar os olhos para um setor que:
- Carrega risco climático, sanitário e financeiro diariamente;
- Emprega milhões direta e indiretamente, em regiões onde muitas vezes é a única atividade econômica relevante;
- Investe cada vez mais em genética, bem-estar animal, rastreabilidade e sustentabilidade, sem o devido reconhecimento ou apoio de políticas públicas estruturantes;
- Não participa das decisões que impactam sua própria sobrevivência econômica.
O tarifaço imposto pelos EUA deveria ser enfrentado com estratégia diplomática, diversificação de mercados e valorização dos produtores, e não com discursos que tentam empurrar o prejuízo para quem já está no limite.
Pecuarista não é almofada de ajuste fiscal, nem bode expiatório de más decisões internacionais.
Se há gordura no setor, não está no pasto — está nas cadeiras que tomam decisões longe da poeira da lida.
Alexandre Bispo é Economista e Pecuarista
DIÁRIO DO ACRE