RAIMUNDO FERREIRA
Professor Raimundo Ferreira bebe na obra ‘O Profeta’, de Khalil Gibran, para escrever mais profundamente sobre a oração
ORAÇÃO
Na concepção mais comum e atual, o termo oração é entendido como a comunicação do ser humano com Deus. Em geral, associa-se esse ato a um pedido, louvor, súplica ou agradecimento. Essa prática, no cotidiano, muitas vezes se restringe ao momento de necessidade, quando as circunstâncias não se apresentam de modo satisfatório.
Entretanto, Khalil Gibran, em sua obra O Profeta, especialmente no capítulo A Prece, propõe uma visão mais profunda e abrangente. O autor, em forma de diálogo, sugere que a oração não deve ser limitada às situações de dor ou dificuldade, mas deve também florescer nos instantes de plenitude e alegria. Para ele, orar é reconhecer não apenas nossas carências humanas, mas sobretudo as necessidades divinas que habitam em nós.
Nas palavras do Profeta: “Quando rezais, encontrais no ar aqueles que rezam à mesma hora e que, se não fosse na oração, nunca encontraríeis. Por isso, deixai que a vossa visita a esse templo invisível não seja senão para o êxtase e a doce comunhão. É suficiente que entreis também invisíveis no templo.
Não vos posso ensinar a orar por palavras. Deus não ouve as vossas palavras, a não ser quando Ele próprio as murmura através dos vossos lábios.
E não vos posso ensinar a oração dos mares, das florestas e das montanhas. Mas vós, que nascestes nas montanhas, nas florestas e nos mares, encontrareis a oração em vossos corações; e, se escutardes na quietude da noite, ouvi-la-eis em silêncio”.
Assim, a oração, para Gibran, não é mero recurso a ser usado em tempos de aflição, mas um estado de comunhão constante, que ultrapassa palavras e se revela na intimidade do coração humano em diálogo com o eterno.