Valterlucio Campelo
“A química de reação nula”, escreve Valterlucio Campelo em sua coluna desta sexta-feira, 17
A química de reação nula
Valterlucio Bessa Campelo
Nesta quarta-feira, 15/10, nos EUA, ninguém menos do que Scott Bessent (Secretário do Tesouro dos EUA) e Jamieson Grerr (Representante Comercial dos EUA), desenharam para todo mundo ver, os motivos da sobretaxa aos produtos brasileiros determinadas anteriormente pelo presidente Donald Trump. Bem objetivamente, as causas são: censura, perseguição política e insegurança jurídica. Citaram ainda a prisão de cidadãos americanos no Brasil e “juízes brasileiros” como culpados.
Não sei a mágica que farão os jornalistas da grande imprensa e seus ventríloquos espalhados no Brasil para, depois dessa, sustentarem que a culpa é do Eduardo Bolsonaro que “encheu a cabeça” do Trump, como se o homem mais importante do mundo fosse assim, uma espécie de menino besta que se deixa iludir por um filho angustiado.
Para quem exercita normalmente o ato de pensar, isso estava claro já naquela carta enviada ao Brasil, onde está escrito com todas as letras a motivação e a sanção. Mas não para lulopetistas, declarados ou disfarçados de jornalistas, que comemoraram a taxação que “caiu do céu” para dar ao Lula uma boia de salvação na qual se segura vestido de patriota.
Traidores do Povo! Começaram a gritar os lambetogas, esquivando-se de ir ao cerne da questão, ou seja, o regime brasileiro, enfiado até metade na lama socialista de inspiração venezuelana, que combina Executivo e Judiciário numa dança macabra, está sendo chamado às falas pela maior democracia do mundo. Oportunista como sempre, o governo mudou até de slogan e de publicidade para faturar em cima de uma “soberania” de araque, sob aplauso da imprensa amestrada.
Mais recentemente, depois de uma piscadela que Trump deu na ONU, Lula já se achou pronto para desmanchar “o fuxico” do Eduardo e informar direitinho o Trump desinformado. É hoje, é amanhã, vai e vem e, enfim, aconteceu o encontro nesta quinta-feira 16/10, entre Marco Rubio, secretário de estado norte-americano, e Mauro Vieira, chanceler brasileiro. Seria a hora de testar a “química” entre os dois máximos representantes de política externa dos dois países. Rolou?
Não rolou, os frascos estavam vazios. O enviado brasileiro voltou como foi, sem nada, a não ser uma certa disposição a uma reunião futura. Por que não rolou? Ora, porque Marco Rubio, que tem as tarifas na mão, não viu nada nas mãos do brasileiro. Na reunião, O representante do Donald Trump praticamente repetiu a carta que deu início à pendenga, ou seja, reafirmou que a questão é basicamente de natureza política e, na bucha, enfiou uma cunha do tipo: “ou põe na mesa a opressão e a juristocracia brasileira contra os opositores, ou a conversa não progride”.
Em entrevista à imprensa brasileira, o tom do Itamaraty foi de otimismo burocrático. “Foi positivo, vamos conversar novamente”. Negativo, não foi, claro. Pelo menos, serviu de treino para quem não havia ainda dialogado com o governo americano, mas positivo mesmo, no sentido de somar, não foi.
E agora? Não se sabe. Penso que continuaremos nessa guerra de narrativas por algum tempo ainda, esperando que o coraçãozinho do Laranja amoleça perante o charme irresistível do Lula. Se não amolecer, o caldo pode engrossar. Enquanto isso, o STF, que tem um container de responsabilidades na coisa toda, se desmilingue com a saída de Barroso e, conforme a boataria, de Carmen Lúcia e Gilmar Mendes, que estariam pensando em também arrumar as gavetas. Repentinamente, as criaturas mais poderosas do Brasil, dessas que literalmente mandam prender e soltar sem dar satisfações a ninguém, tipo senhores feudais, resolveram pedir aposentadoria antes do tempo e cuidar de suas humildes vidinhas cidadãs. Comovente, diria.
É o Brasil atual. Essa barafunda que tem um presidente permanentemente no palanque, discursando para o aplauso de seus bate-paus em discursos e pautas mofadas, uma economia de encontro marcado com o desastre para 2027, um STF político e, no meio, uma eleição polarizada cujos atores, independentemente de seus nomes, não poderão ser pacíficos enquanto milhares de presos políticos sofrem, se aniquilam e morrem.
Valterlucio Bessa Campelo escreve semanalmente nos sites AC24HORAS, DIÁRIO DO ACRE, ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites. Seu último livro “Arquipélago do Breve” encontra-se à venda através de suas redes sociais e do e-mail valbcampelo@gmail.com.