A viagem não foi exatamente para os fins aludidos nesse parágrafo anterior. Aproveitei para isso tudo sim, mas o cerne da questão foi participar das comemorações dos 88 anos de fundação da gloriosa Academia Acreana de Letras, entidade na qual eu ocupo a Cadeira 28, desde o ano de 2004.
Durante dois dias, sexta-feira e sábado, desfrutei do convívio dos acadêmicos e convidados do sodalício. E foi com extremado orgulho que recebi a Comenda da Ordem do Mérito Cultural José Potyguara. Uma honraria sem paralelo, destinada a poucas criaturas no curso de uma vida.
Como se não bastasse receber tão significante comenda, a Academia ainda me reservou um espaço para lançar o meu livro mais recente. Uma coletânea de seis ensaios sobre a sétima arte, reunidos sob o título “Um minuto depois da meia-noite – Especulações sobre a memória do instante”.
“A memória do instante”, aliás, foi o tema de uma conversa entre os presentes ao Museu dos Povos Acreanos, sede atual da Academia, na tarde de sexta-feira, quando do recebimento da comenda e do lançamento do livro. Uma conversa, ao meu ver, plena de boas possibilidades de reflexões.
Quando eu digo “boas possibilidades de reflexões”, penso nos desdobramentos conceituais que cada uma das pessoas pode ter levado pra casa, após algumas afirmações. Caso, por exemplo, do conceito de memória que, de acordo com o meu entendimento, existe mesmo é para não lembrar.
A memória, cada vez tenho mais convicção disso, guarda somente fragmentos do vivido. Muitas vezes, depois de algum tempo, a gente junta pedaços de fatos diferentes e acha que viveu mesmo aquilo, como se tivesse sido um único momento. E, às vezes, apaga tudo de determinada situação.
No dia mesmo da conversa, eu encontrei um antigo colega do curso de Letras da Ufac, em meados da década de 1970. E falei com o dito cujo sobre um time de basquete onde eu e ele formamos um dia, nos Jogos Universitários. Resposta dele: – Que eu me lembre, jamais joguei basquete!
Conversamos por algum tempo e ele continuou sem lembrar desse “nosso” tal time de basquete. Mesmo eu dizendo quem eram os outros três jogadores, o meu antigo colega não lembrou de absolutamente nada nesse sentido. E então, ao final, até eu passei a duvidar dessa minha lembrança!












