POLÍTICA
Chico Mendes e Plácido de Castro que se cuidem: população de Xapuri já tem dois novos candidatos a heróis: Gladson Cameli e Márcio Bittar
POR TIÃO MAIA, ENVIADO ESPECIAL PARA O ACRENEWS
O governador Gladson Cameli (PP) e o senador Márcio Bittar (PSL-AC) acabam de se tornar candidatos a heróis do povo de Xapuri, município do interior do Acre no qual, em 1903, o coronel José Plácido de Castro, liderando um exército de seringueiros sem maior experiência de combate – ainda mais na selva – derrotou o exército regular da Bolívia ao fazer eclodir a chamada Revolução Acreana, que anexou o território local à geografia do Brasil. O primeiro, pela decisão de construir a ponte sobre o rico Acre ligando Xapuri à localidade de Sibéria, e o segundo, por ter sido responsável pela obtenção da maior quantia dos recursos necessários à obra, algo acima de R$ 40 milhões. A ponte deverá ser concluída em mais de dois anos.
As figuras dos dois políticos passam a ser fixadas no imaginário popular como heróis do povo local, talvez na mesma proporção de um Plácido de Castro ou de um Chico Mendes – o filho ilustre que, após ser assassinado, em 1988, virou mártir internacional do meio ambiente -, porque desde a consolidação do Acre como parte do território brasileiro, o maior anseio da população local é a construção da ponte.
Em Sibéria, de acordo com o presidente da associação de moradores, Josias dos Santos, estão 40% da população de Xapuri, estimada em 19.586 pessoas, segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2020, e 48% de todo o território do município. A designação da localidade não é por acaso: Sibéria é uma vasta província da Rússia que abrange a maior parte da Ásia Setentrional e apresenta paisagens que variam entre tundra, florestas de coníferas e cadeias de montanhas, como os montes Urais, a cordilheira de Altai e a cordilheira de Verkhoiansk. O lago Baikal, no sul, é o lago mais profundo do mundo, contornado por uma rede de trilhas chamada de Bolshaya Baikalskaya Tropa. A ferrovia Transiberiana passa por Baikal na rota entre Moscou e o Mar do Japão, informa o Google.
O que a plataforma não diz é que a temperatura média, por ali, chega a incríveis 50 graus negativos, congelando árvores e a própria água, fazendo com que a vida na região seja quase impossível. Aliás, segundo a história, era para Sibéria que, nos anos de chumbo que se seguiram à tomada do poder na Rússia, transformada pelos Bolcheviques em União Soviética, em 1917, eram enviados os adversários do novo regime comunista. Era também o local onde, por ordem do sanguinário ditador Josef Stalin, centenas de milhares de russos foram degredados para uma morte certa e congelante, no frio implacável.
Em matéria de sofrimento para a população local, a Sibéria de Xapuri, embora localizada na maior floresta tropical do planeta, faz jus ao nome do inferno gelado da Rússia. Sem posto de saúde, farmácia, escolas, delegacia de polícia ou qualquer outro bem de infraestrutura para o mínimo atendimento ao público local, a população da Sibéria tropical depende, quase que integralmente, da infraestrutura instalada do outro lado do rio, no centro de Xapuri. O problema é que, para ter acesso a esses benefícios, principalmente à noite, surge uma enorme dificuldade quando a balsa que faz a travessia de veículos e pessoas durante o dia, suspende as atividades, por volta das 22 horas. Depois deste horário, quem sentir uma dor de dente ou tiver qualquer outro contratempo de saúde, incluindo as mulheres em trabalho de parto, tem que esperar o dia seguinte, para buscar socorro do outro lado do rio, quando a balsa volta a funcionar.
A balsa encerra em sua própria imagem a história de sofrimento daquele povo. Mantida pelo Deracre (Departamento de Estradas, Rodagens e Hidrovias do Acre), a balsa – na verdade, são duas, em dias de maior movimento -, de tão velha, parece pedir socorro. O motor, embora possante, às vezes, não consegue conter a fúria das águas e o operador tem que se virar para não permitir que o equipamento seja vencido pela correnteza e levado rio abaixo e com risco de afundar, com veículos e pessoas a bordo. O risco de desastre é constante, admite o operador.
Para compensar a falta de meios de travessia à noite, a Prefeitura local disponibiliza, mediante aluguel, uma catraia para atender casos de emergências em período noturno. “Mas esse paliativo, como o nome sugere, é só mais um paliativo, que não resolve. Aqui moram pessoas que adoecem, deficientes físicos que precisam se deslocar e outras pessoas que são privadas da liberdade por falta da ponte”, disse o prefeito do município, Ubiraci Vasconcelos, o “Bira”, sem conseguir esconder, apesar dos princípios ideológicos distintos, o agradecimento a Gladson Cameli e a Márcio Bittar pelo ato que permitirá o início de uma obra pela qual ele, particularmente. “Deus há de me dar, como meu deu a oportunidade de ser prefeito pela terceira vez do meu município, de, ao final do meu mandato, poder inaugurar esta obra”, acrescentou, sobre a ponte.
Membro de alto coturno no comissariado do petismo local, o prefeito está de fato no cargo pela terceira vez. Seus dois mandatos anteriores coincidiram com o tempo em que os ocupantes do Palácio Rio Branco eram exatamente os dirigentes máximos do PT local, como os ex-governadores – pela ordem – Jorge Viana, Binho Marques e depois Tião Viana, num período de 20 anos.
Durante o período, esses governos construíram pelo menos seis grandes pontes no Acre, investimentos que superam a casa dos R$ 700 milhões – três em Rio Branco, incluindo a passarela do Novo Mercado Velho, no centro de Rio Branco; a terceira ligando o bairro da Cadeia Velha à Avenida Amadeo Barbosa, no Segundo Distrito da Capital, e a quarta ligando a Via Verde à região da Praia do Amapá; as outras três são sobre o rio Tarauacá, em Tarauacá, sobre o rio Envira, em Feijó, e a do rio Juruá, em Cruzeiro do Sul – esta última apontada como uma das maiores pontes da Amazônia, construída com tecnologia de ponta, uma autêntica joia da engenharia nacional.
Enquanto isso, para Xapuri ou para Sibéria, nada! – e isso a despeito de ter sido dali que surgiram para o país e para o mundo, a partir do chamado sindicalismo de resultado, matriz do petismo e de sua bandeira ambiental, lideranças como Marina Silva, Jorge Viana, Binho Marques e, o mais conhecido entre eles, o sindicalista Chico Mendes. Mas, a propósito, seria exatamente a existência dessas pessoas e seus conceitos de preservação ambiental, baseados no que eles chamaram de “florestania”, uma espécie de cidadania da floresta, uma abstração que ninguém – talvez nem eles mesmos – saiba o que é, a razão pela qual a população de Sibéria continuava condenada ao isolamento.
É que, por causa da tal “florestania”, a ponte não era feita por causa do temor, manifestado em várias oportunidades pelo então governador Jorge Viana, que é engenheiro florestal de formação, de que com a realização da obra a chamada Reserva Chico Mendes, que se estende pelas florestas da região, pudesse vir a sofrer com a especulação fundiária, o que causaria a devastação do meio ambiente. Sobre isso, o senador Márcio Bittar, responsável, através de suas emendas de relator do Orçamento Geral da União, por mais de 60% dos recursos públicos a serem aplicados na obra, se manifestou no último sábado, no ato de assinatura da ordem de serviço para a obra.
“Eu tenho vergonha de ser brasileiro quando o assunto em debate é a Amazônia. Eles ficam com esse argumento de que [a construção da ponte] vai destruir a reserva [Chico Mendes]. Isso é como se as pessoas que vivem na reserva, tivessem uma vida boa como eles têm – o Jorge Viana, o Binho, o Tião Viana, que são todos aposentados como ex-governadores, a Marina Silva, que nem mora mais no Acre. A realidade é que, na Reserva Extrativista Chico Mendes, o que os homens e mulheres que moram lá, com raríssimas exceções, querem é poder plantar, criar. Eles querem poder progredir na vida e a ponte é essencial para elas”, disse Bittar. “O pessoal do PT, o pessoal de esquerda vive dizendo [quando se fala de progresso, como o asfaltamento de rodovias]: a estrada vai trazer problema, a ponte vai trazer problema. Problema existe é quando não há estrada, quando não há ponte, como aqui em Xapuri, onde a população sofre a mais de meio século”, afirmou
Sobre os mesmos argumentos para a não-edificação da ponte ao longo dos anos em que governadores do PT estiveram no poder, o governador Gladson Cameli também se manifestou: “essas pessoas deviam passar um pouco de óleo de peroba no rosto porque elas têm muita cara-de-pau ao dizerem isso”. “Quer dizer que, em nome de uma ideologia, de um conceito ambiental que ninguém nem sabe direito o que é, essas pessoas, como aqui em Sibéria, têm que ser condenadas a morrerem na miséria, sem infraestrutura, sem o mínimo de cidadania por falta de uma obra fundamental como essa ponte?”, perguntou o mais novo candidato a herói do povo xapuriense.
“Se essa ponte sair mesmo, o governador merece uma estátua aqui”, diz moradora de Xapuri. Veja o que dizem outros moradores que sempre esperaram pela ponte
As pessoas que estão passando a cultuar o governador Gladson Cameli e o senador Márcio Bittar como seus novos candidatos a heróis são aquelas que, algumas com mais de 40 ou 70 anos, vivem o sonho de, antes de morrerem, poderem atravessar o rio Acre sobre uma ponte. A seguir, alguns depoimentos colhidos em Xapuri pelo AcreNews:
Márcio Azevedo Moura, pecuarista, casado, 58 anos, dois filhos: “Eu morro no Acre há 55 nos. Vivo há mais de 30 anos nesta região de Xapuri, trabalhando na pecuária. Durante todo esse tempo, entra Governo e sai Governo, a gente ouve a promessa de que esta ponte um dia vai sair. Tanta espera deixava a gente sem esperança de que isso um dia viesse acontecer. Mas, neste atual Governo, pela movimentação que está acontecendo, a esperança votou. Eu creio que o governador Gladson Cameli vai realizar esta obra”.
Francisco das Chagas Pereira, 73 anos, casado, dez filhos, 14 netos e seis bisnetos: “Durante toda a minha vida ouço falar da construção desta ponte. Aqui nasci e me criei ouvindo essas promessas. Agora, eu acredito que sai porque acredito, primeiramente, em Deus, e em segundo lugar na palavra e na potência do governador que temos. Tenho certeza de que graças a este Gladson Cameli, antes de morrer, vou passar por essa ponte”.
Hermes da Rocha Melo – 76 anos, três filhos, 11 netos, seringueiro aposentado e natural de Brasiléia: “moro aqui há 12 anos e sempre ouvi falar que a ponte vai sair. É uma história de muitos anos. Quando o governador Gladson Cameli entrou, graças a Deus, as coisas comeram a sair do papel. A gerente ver que o Gladson é um governador que sempre procurar tá junto com o povo, donde a necessidade impera. É por isso que eu estou com ele até o fim. Vou votar pra ele de novo”.
Antônio França, 59 anos, dois filhos, policial aposentado e vereador pelo Partido republicano em Capixaba, natural de Xapuri – “Vim do município onde vivo para acompanhar essa assinatura como personagem da história. Desde criança, ouço falar dessa ponte e nunca vi uma inciativa dessas para construí-la. O governador está de parabéns”.
Sebastião Marinho do Nascimento – “Sabá Martinho”, ex-companheiro de Chico Mendes, morador da Reserva que leva o nome do sindicalista assassinado, 78 anos, oito filhos, 52 netos, viúvo – “O primeiro governador que falou desta ponte foi Jorge Kalume, que era filho daqui de Xapuri. Mesmo assim, ele não conseguiu cumprir a promessa. Espero que, desta vez, a obra saia, mas é preciso que o governo também cuide do meio ambiente para que nós, que vivemos na reserva, não sejam oprimidos por aqueles que, por causa da ponte, vão chegar comprando terras”.
Maria Euvana Pereira da Silva – doméstica desempregada, um filho e um neto, 48 anos, solteira – Nasci e me criei no Xapuri sempre esperando esta ponte. Estou começando a ter fé, pelo que estou vendo de que desta vez vai dar certo. Se o governador cumprir a promessa, esse Gladson Cameli vai ser o nosso herói. Se essa ponte sair, ele merecera uma estátua aqui”.
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