POLÍTICA
Deputado José Bestene lembra os 60 anos do Estado do Acre e as tragédias de 1992
Deputado é único em atividade a testemunhar os acontecimentos mais importantes da história política do Acre
O deputado José Bestene (Progressistas) é de Brasileia, mas há quem pense que é de Xapuri. Quando não está engravatado na tribuna da Aleac, é comum vê-lo vestindo camisetas e tênis, revelando seu culto às atividades físicas e ao esporte. Como cultiva a cabeleira que usa desde a juventude, há quem pense que ele ainda está nas aulinhas da faculdade, mas já foi gerente de banco e presidente de empresa estatal. Atualmente, exerce seu quarto mandato de deputado estadual, mas jamais esquece sua estreia na tribuna, entre 1991 e 1994, quando foi presidente do Legislativo acreano e testemunhou os dois episódios mais chocantes da história política do Estado: o incêndio do prédio da Aleac e o assassinato do governador Edmundo Pinto, em um curto espaço de 17 dias entre ambos, às vésperas do 30º aniversário de criação do Estado do Acre, há 30 anos.
NH – Bestene, podemos dizer, sem dúvida, que hoje você é o deputado mais longevo de nosso Parlamento e o único que pode dizer que é testemunha ocular da história do Acre desde o Império de Galvez (rsrsrs).
Bestene – (rsrsrsrs) Peraí, menos! Posso dizer que acompanho a histórica política do Acre desde o movimento autonomista, pois era o que mais se ouvia em casa ou nas ruas quando eu estava ainda na pré-adolescência, tempo de empinar pepeta e jogar peteca nas ruas. Eu tinha 10 anos de idade. Houve nas vésperas uma grande campanha de conscientização e convencimento sobre as vantagens da criação do Estado, assumir o comando da administração e de eleger nossos governantes, o legislativo e criar um judiciário próprio. O interessante é que 30 anos depois eu seria presidente do Parlamento acreano e veria aquele prédio quase destruído por um incêndio alguns dias antes do assassinato do governador Edmundo Pinto.
NH – Então neste ano de 2022 o Acre tem várias efemérides para comemorar e para chorar!
Sim, a história precisa ter suas datas destacadas na folhinha da parede para que nunca nos esqueçamos. Todo mundo sabe que o passado serve de guia para o futuro. Neste ano o Acre festeja 60 anos da criação do Estado, em 15 de junho de 1962, e das primeiras eleições, em 7 de outubro de 1962. Foram menos de 4 meses de campanha, de organização dos partidos, escolha dos candidatos, do esclarecimento do eleitorado, da organização das urnas. As primeiras eleições resultaram na instalação do primeiro Governo, de José Augusto de Araújo e da primeira legislatura da Assembleia Legislativa do Estado, composta por 15 deputados. No mesmo pleito foram escolhidos os deputados de nossa primeira bancada federal, com sete parlamentares e de um senador, José Guiomard dos Santos que foi derrotado na eleição para o Governo, embora considerado o pai do Estado do Acre. Como era permitido na época ele disputou as cadeiras de governador e de senador, ficando com esta última.
NH – Quando você passou de espectador a protagonista do cenário político do Acre?
Eu comecei a militar muito cedo, mas tive minha estreia na 8ª Legislatura, que começou em fevereiro de 1991 e foi até janeiro de 1995, quando assumi meu segundo mandato na gestão Orleir Cameli e hoje tenho a honra e a felicidade de exercer meu quarto mandato na 15ª Legislatura, ou seja, estive na comemoração do 30º aniversário do Estado do Acre, em1992 e agora estamos na comemoração do 60º aniversário.
NH – Desde 1990 você participou de quais legislaturas?
Pode-se dizer que eu participei de 20% dos anos legislativos do Acre, ou seja 12 dos 60 anos, com mandatos entre 1991 e 1998 (8ª e 9ª legislaturas); na 11ª (2003 a 2006) e nesta 15ª que começou em feveiro de 2019 e termina em janeiro de 2023.
NH – Como você acompanhou os episódios de 1992?
Aquele foi um ano de muita turbulência política no Acre. O Estado era manchete nos jornais do Brasil inteiro por conta de uma busca incessante por erros do governo Collor e no meio disso surge o chamado escândalo do Canal da Maternidade. Uma CPI é instalada para apurar supostas irregularidades na contratação dos empréstimos para as obras de canalização e urbanização do entorno do Canal. As sessões legislativas são muito tensas e disputadas, alguns parlamentares se exaltam, sobem o tom e no dia 30 de abril um incêndio, por volta das 15h, quase destrói nossa sede. Tivemos que transferir o parlamento para o auditório da Secretaria de Educação, no Morro do Marrosa, e alguns dias depois, em 17 de maio, o governador Edmundo Pinto é assassinado em São Paulo. Foi uma notícia estarrecedora, inacreditável, emudeceu o Estado. Os três poderes passaram por momentos de total paralisação até se recompor e realinhar as peças para recolocar o Governo nos trilhos, empossando o vice Romildo Magalhães e reabrindo os debates parlamentares.
NH – Além do prejuízo à estrutura física do prédio houve danos às atividades parlamentares?
O incêndio comprometeu seriamente a estrutura do edifício e destruiu muitos documentos, entre os quais as gravações e papéis produzidos pela CPI, mas nada que pudesse impedir nossas atividades. No ano seguinte eu fui eleito presidente da Mesa Diretora e tive a responsabilidade de reconstruir a sede de nosso parlamento. Na ocasião contei com a preciosa colaboração dos especialistas da UFAC para uma avaliação nos danos causados pelo fogo à fundação do edifício e elaboração do laudo técnico para a reconstrução da sede.
NH – Com tantos anos de Aleac você já pode até ser considerado um “servidor da Casa”.
Enquanto presidente da Mesa Diretora eu entendi que nossas atividades jamais seriam executadas com eficiência e segurança sem um quadro de servidores capacitados e satisfeitos no trabalho, o que exige valorização profissional e ambiente de qualidade. Neste sentido, ouvindo os servidores, construímos um plano de cargo, carreiras e remunerações e pagamos as perdas salariais decorrentes dos famosos planos econômicos das eras Collor e Sarney, como o famigerado Plano Bresser. Também pagamos o FGTS de 30 anos aos servidores e contribuímos com o sindicato para a aquisição da sua sede social. Na verdade, eu fiz apenas a obrigação de qualquer líder que é atender a necessidade de seus auxiliares, mas muito antes de ser um parlamentar já tinha amigos ali. E bastante. Antes de ser político eu sou humano e gosto mesmo é de multidões”, finaliza Bestene
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