Da Colômbia ao Acre rumo à Patagônia: as aventuras de um ciclista que por onde passa alimenta os animais

Jonathan tem 33 anos e quer alcançar a Patagônia a bordo de sua bicicleta

(Foto: Arquivo Pessoal)

Por Wanglézio Braga / Foto: Wanglézio Braga/ Arquivo Pessoal

Muito mais que uma simples aventura, a vida do colombiano Jonathan Suarez Álvares, de 33 anos, se resumiu em acolher, reverenciar e respeitar os animais. Pintor de profissão, largou tudo em seu país em busca de realizar um sonho de adolescência: De bicicleta, conhecer a Patagônia. Antes de chegar ao destino final, passou brevemente pelo Acre e ficou encantado com a cultura, a gastronomia e a forma como foi recebido pelos locais. De companhia, trouxe consigo o simpático cão “Astro”.

Jonathan saiu de casa no dia 10 de março de 2021. Na despedida da família, muito encorajamento e trocas de afagos. Mas, ele precisava também de uma preparação para encarar a jornada. Por isso resolveu recorrer, antes, a toda a Colômbia para testar a bicicleta adaptada. Ambos passaram no teste. A viagem seguiu pela latitude 0° da linha do Equador. Eles encararam gelo e a altitude das Cordilheiras dos Andes, no Peru. E agora ambos estão na Floresta Amazônica tendo o Acre como portal de entrada.

“Foram mais de um ano de viagem pedalando por inúmeras cidades e por esses maravilhosos países (…) O meu sonho era conhecer toda a América do Sul, em especial a Patagônia. Não poderia deixar de passar pelo Brasil, seria impossível. Entrei pelo Acre e foi a melhor escolha (…) Estou gostando muito da cultura das pessoas, a história do estado. A minha experiência nas ruas está sendo muito boa. Estou sendo respeitado e acho que os ciclistas são respeitados aqui também, assim como também os pedestres. Os motoristas não ficam todo o tempo buzinando, apressando a gente. Isso é muito diferenciado dos outros países”, comentou ao AcreNews.

A rotina de Jonathan começa às 7 horas da manhã. Faz um pouco de exercício físico para fortalecer os músculos, desarmar a barraca que dormiu na noite anterior e arrumar a bicicleta para mais algumas pedaladas. Às 9h, monta na magrela e segue pedalando até às 12h, daí faz uma pausa para o almoço. Em seguida, procura os semáforos mais movimentados da cidade. É hora de trabalhar e ganhar dinheiro com malabarismo. No final da tarde, busca um posto de gasolina ou uma área segura para armar o camping e dormir.

Entre uma jornada e outra, o viajante tira um tempo para fazer caridade, voluntariado: procura animais de rua para alimentá-los. A ração vem do dinheiro de doações da internet e do que conseguiu apurar nos ‘corres’ dos semáforos. Muitas das vezes, a comida é da ‘dispensa’ do Astro que não se importa de dividir com os outros dogs. Além de alimentar os bichos, Jonathan também faz a remoção de carrapatos e pulgas, trata de feridas e ajuda até na fisioterapia dos que precisam. O serviço fica mais completo com banho usando produtos especiais. “Essa é uma viagem para valorizar a vida”, destacou.

“Quando cheguei aqui em Rio Branco enfrentei uma pequena barreira com o idioma. Eu pensei que as pessoas me compreendiam. Oferecia algumas obras de artesanato, infelizmente não conseguia explicar o motivo da venda e nem vender uma peça. Eu não tinha comido nada, estava sem se alimentar direito. Ele, o Astro, tinha um quilo de ração. Sentei na calçada e fiquei pensando na vida. Dois cachorros passaram e começaram a comer alimentos do lixo. Chamei o Astro e os cachorros e dividi o último pacote de ração. Os três cachorros comeram e em questão de minutos tudo acabou. Senti-me bem vendo os animais comerem. Aí, depois de uns cinco minutos, passou um senhor pela rua, sorriu para mim e me entregou R$ 50 reais. Com esse dinheiro, pude comer e comprei mais comida para o Astro e para a caridade. Então, isso foi muito bonito. Pude compartilhar e receber uma das experiências mais felizes, até agora, da viagem”, disse visivelmente emocionado.

Por falar em alimentos, Álvares apreciou algumas das iguarias locais e prontamente aprovou frutas, sucos e pratos que nunca ouviu falar. Mas, o que mais gostou foi da Saltenha, talvez por lembrar as típicas ‘empanadas’ colombianas. “Foi surpreendente, pois me remeteu a minha casa. Matei a saudade! Ainda não comi o famoso churrasco do Brasil. Devo fazer isso em breve, quando tiver oportunidade”, citou.

Entre um elogio e outro, Jonathan fez uma queixa. “O que não gostei do Brasil é que não admitem cachorros em hotéis ou pousadas. Isso é complicado! Às vezes a gente quer dormir confortavelmente, mas, não é admitido o ingresso de cachorros. Não posso deixar o Astro dormir lá fora, não é? Se ele dorme lá fora, eu durmo junto com ele lá fora. Os hotéis deveriam pensar um pouco neste quesito”, disparou. 

Antes de seguir viagem, o viajante deixou uma mensagem fortalecedora sobre não deixar que os problemas diários ou as barreiras impostas pela vida atrapalhem os seus sonhos. “Se agarre aos seus sonhos! Não deixem que os problemas fiquem na frente deles. A hora é de sair e viajar. Não pense nas barreiras. Tente viver um dia após o outro. Tenha fé”, aconselhou.

Jonathan Álvares e o cão Astro já seguiram o destino rumo à Patagônia. Pegaram a BR-364 rumo a Porto Velho, capital de Rondônia. Antes, porém, o viajante prometeu voltar para as terras acreanas após alcançar o seu projeto. De fato, não a data definida. De pronto, deixo um recado: “O Acre é boa onda!”.

Quem quiser acompanhar a trajetória dos dois aventureiros pode acessar a página, no Facebook, “Un viaje para valorar la vida”. Por lá, você também pode verificar o trabalho voluntário de resgate dos animais que tem ganhado a aprovação de mais de 10 mil seguidores.