ACRE
Jornalista e filósofo César Negreiros conta a história desfecho trágico da vida de Plácido de Castro, por meio de crônicas
Foto: Jornalista e filosofo César Negreiros
O jornalista, filósofo e professor César Negreiros inicia neste domingo, 24, a contar, por meio de crônicas fragmentadas o desfecho da história do coronel José Plácido de Castro no Acre. Na parte 1 ele traz surpreendente revelação de um ocorrido com o irmão do comandante da guerra acreana contra os Bolivianos.
Vamos a primeira parte:
CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
Cesar Negreiros
A prisão arbitrária de Genésio de Oliveira Castro (mais conhecido pelo apelido de Genesco), depois de uma invasão, na calada da noite, da residência do médico cearense Leorne Herbster Menescal por tropa do Exército, comandada pelos tenentes Luiz Sombra, Figueredo Aranha e Álvaro Conrado Niemeyer, acompanhado do sub-delegado de polícia Alexandrino José da Silva, com a sua horda de jagunços, foi o estopim de um iminente conflito armado na região do Vale do Rio Acre. O irmão caçula do coronel Plácido de Castro tinha desembarcado na Villa Rio Branco antes de escurecer daquele dia, na companhia de um seringueiro do seringal Capatará. Os dois estranhos chegaram a percorrer, montados a cavalo, algumas casas aviadoras para tratar de negócios, mas como havia anoitecido, Genesco parou no Hotel 24 de Janeiro (Hotel da Maroca) para jantar, mas durante a refeição foi convidado pelo médico para pernoitar na sua residência.
Sem mandado de segurança, os oficiais conduziram o irmão do seringalista Plácido de Castro até a Intendência Municipal, com a justificativa que havia entrado na cidade à margem esquerda do Rio Acre, disfarçado. “Disfarçado, porque visto esta blusa de azulão?”, questionou Genesco. “ Isto, senhor Intendente, é roupa de quem trabalha e não vem aqui lhe pedir emprego!”, desabafou. Sendo insultado, pelo oficial Figueredo Aranha, um antigo colega da Escola de Guerra, mas um serviçal do prefeito Augusto Alves da Silva Bacurau, procurou atuar como bombeiro para conter os ânimos dos ex-colegas de caserna. Em seguida, o detido foi encaminhado para uma cela para que pudesse passar o resto da noite, por desacato a autoridade constituída, segundo o relato do médico cearense Esperidião Queiroz Lima, no livro de memórias: 11 anos na Amazônia.
Acerto de contas – Assim que Gabino Bezouro assumiu a prefeitura do Departamento do Alto-Acre, os velhos inimigos políticos passaram a tramar contra o coronel Plácido de Castro, que buscava esquecer as tramoias do poder na extração do látex no seu seringal Capatará e criar algumas cabeças de gado leiteiro nos verdes campos da sua propriedade Esperança, destinada ao experimento de uma pequena criação de gado. Com o decorrer dos meses, o seu barracão passou a ser o centro de peregrinação dos moradores do antigo seringal Empresa, descontentes com os abusos patrocinados pelos correligionários do intendente da Villa Rio Branco. No dia seguinte, no percurso de volta ao seringal Capatará, Genesco atravessou o Rio Acre em frente do barracão do seringal do Riozinho para avisar o seringalista José Maria Dias Pereira que, durante a sua prisão arbitrária, tinha escutado o tenente Aranha dizer que o próximo alvo seria o seu barracão. (Primeira parte)