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Farinha de mandioca do Acre vira xodó de nordestinos e empresário fatura alto levando o produto para a beira-mar

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A farinha de mandioca produzida no Acre é a melhor do Brasil. Além dos selos de qualidade adquiridos, qualquer negócio com o produto é sucesso dentro e fora do Estado. Sua crocância e sabor são inigualáveis, bem como seus subprodutos. A cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, virou um entreposto e essa delícia da nossa culinária começa a abastecer a mesa de toda a região, sem dar para quem quer, literalmente.

Quem achou esse nicho no mercado de exportação foi o visionário empresário Gilmar Torres, que trabalhou cerca de 20 anos em diversos ramos por aqui e a cerca cinco anos se estabeleceu no Nordeste. Chegando lá percebeu o interesse pela nossa farinha ao levar amostras. Surgiu a ideia de exportar e o sucesso do negócio veio antes do previsto. Gilmar leva do Acre grande parte da produção de Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves, além da torrada em Tarauacá, todas da mais alta qualidade e altamente desejada por quem prova pela primeira vez.

Gilmar (camisa azul), com o gerente Tiago Felix: grandes negócios com a farinha do Acre

“Quando a gente fala aí que a nossa farinha é a melhor, não é gabolice, é fato. Tu sai do Acre e trás farinha pras pessoas provarem e elas se entusiasmam. É muito bem produzida nossa farinha”, elogia o empresário Gilmar, que criou a empresa Norte Nordeste para fazer a importação do produto direto de João Pessoa, onde mora, e de onde começa a mandar para outros estados, sobretudo os mais próximos da Paraíba.

Gilmar afirma ao Acrenews que a produção do Acre começa inclusive a não atender mais as demandas. “Tem muita gente interessada em toda essa região aqui”, garante. Por essa razão estuda uma localidade nas cercanias de João Pessoa para fazer o plantio. O estudo de solo está praticamente concluído e será nesse lugar que ele plantará a mandioca e construirá uma casa de farinha para produção em larga escala. Vai importar mão-de-obra do Acre para que o produto seja industrializado com a mesma qualidade. “Vou trazer uma equipe de Tarauacá para torrar a farinha para que o produto continue sendo apaixonante nas mesas daqui”, promete.

Essa farinha acreana que chega na mesa do nordestino é reposta de uma saga de mais um século. Quando vieram para o Acre, no início dos anos de 1900, os nordestinos fugiam da seca e mais na frente, início dos anos 1940, vieram para servir ao Brasil durante a Segunda Guerra, sob a influência da propaganda federal do ‘leite pra vitória’, numa referência a extração do látex para servir a indústria bélica internacional, sobretudo dos países aliados. E foram eles que iniciaram a cultura da torrefação da massa de mandioca por aqui, depois do final do conflito. Agora os descendentes começam a mandar o produto daqui para o lugar de onde eles partiram sem saber para onde, sobre paus-de-arara e navios. Gilmar é neto de nordestino é nasceu em Tarauacá. O avô, Antônio Torres, está na lista dos muitos que vieram para o Acre e, nas selvas acreanas, perderam a vida prematuramente. Faleceu por complicações de uma ferrada de cobra. “Ele já estava se preparando pra votar pro Nordeste, quando aconteceu o acidente com o animal e ele faleceu”, conta Gilmar, esse ousado neto que está refazendo o caminho de volta levando na bagagem um produto que seu antepassado começou a produzir no século passado.

Como a cultura da mandioca foi introduzida no Brasil e no Acre

Mandioca, aipim, macaxeira, castelinha, uaipi, maniva, maniveira…todos esses nomes são maneiras de chamar a mesma espécie de raiz tuberosa pelo Brasil. Ela é tão importante que foi considerada alimento do século 21 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ganhou um programa inteirinho do Minha Receita como homenagem. Parece justo para um ingrediente que pode virar tantos alimentos diferentes, como mandioca frita, assada, farinha, tapioca, biscoito de polvilho salgado e doce, pão de queijo, tucupi e sagu. Mas afinal, de onde vem a mandioca?

A mandioca tem origem brasileira e espalhou-se pelo mundo a partir de Portugal e suas colônias, principalmente as africanas. O ingrediente nativo do País já era plantado pelos índios como parte fundamental do cardápio, junto com feijão e milho. Inclusive, o nome mandioca vem do tupi-guarani “Mani-oca”, ou “casa de Mani”.

De acordo com o gastrônomo Saulo Zhamis Benício, a narrativa do nascimento da mandioca possui algumas versões, mas todas envolvem uma menina, a Mani. “Em Santarém [no Pará], uma das lendas diz que uma índia foi engravidada por Tupã. Um dia o pajé foi para o lado do rio e lá escutou Tupã dizendo que ia nascer uma filha linda e ia dar o nome dela de Mani. E a partir daí a criança já sabia falar e andar. Até que um dia ela foi dormir e nunca mais acordou. Sentindo a falta da presença de Mani, o pai enterrou dentro da oca. E ali nasceu uma florzinha, e o pessoal viu que dentro tinha raiz que poderia fazer várias coisas”, conta.

Acredita-se que a mandioca já era cultivada na região amazônica há 4 mil anos, mas a primeira referência à raiz aparece na época do Descobrimento, nas cartas de Pero Vaz de Caminha para Portugal. “Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam”, escreveu.

Sim, apesar de brasileira, o atual maior produtor de mandioca do mundo é a Nigéria. O Brasil fica em quarto lugar.

No Acre, a maniva foi trazida principalmente por nordestinos, mas historiadores acreditam que os nativos que habitavam a região cultivavam ao menos uma espécie por aqui.

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