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Um tributo a Fernandinho

Fernando Façanha foi um exímio marceneiro da cidade de Rio Branco

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Manoel Façanha / Foto: Danto Freitas

O décimo ano de aniversário do falecimento do marceneiro Fernando Correia Tavares ocorreu na última quinta-feira (24), mas a data foi lembrada pelos familiares na noite da última sexta-feira (25), em celebração litúrgica ocorrida na Catedral Nossa Senhora de Nazaré.

Nascido na metade da 2ª Grande Guerra Mundial, precisamente dia 25 de junho de 1942, na então pacata cidade de Rio Branco-AC, Fernando era filho do imigrante cearense Manoel Façanha Tavares, um simpático sargento da velha guarda territorial do Acre que adorava declamar poesias aos amigos durante alguns goles de aguardente nos bares da cidade. Um dos fãs das poesias era o ex-atacante Danilo Galo, campeão pelo Vasco da Gama-AC, em 1965, este capaz até hoje de recitar algumas delas.

Retornando à história do personagem, ele fez o ensino básico no Colégio Acreano. Lá construiu inúmeras amizades e entre os amigos da sua juventude que ele sempre citava, em suas conversas, estão o cantor Auricelio Guedes e o advogado Edmir Borges Gadelha (ex-presidente do Rio Branco), ambos já falecidos, entre outros nomes. Nesta época (segunda metade da década de 1950) essa turma sempre estava reunida para longas resenhas nas proximidades da escadaria do Palácio Rio Branco ou na frente do extinto Cine Rio Branco. Mas antes das 22h todos eram “forçados” a retornarem aos seus lares, isso devido ao fato de que motor que fornecia energia elétrica à cidade ser desligado.

Na década de 1970, Fernando (D) numa mesa de bar com um amigo de boemia. Foto/Acervo Manoel Façanha

Certa vez, ainda adolescente, na companhia do irmão João, foram ao matinê para assistirem um filme de Bang Bang. Os dois se sentaram na primeira fila. Logo no primeiro tiroteio, o irmão deixou a sala de cinema as carreiras. O nosso personagem sempre contava essa história sorridente e dizendo que só alcançou o irmão na porta de casa.

Mestre na arte do acabamento e apelido de professor Pardal

Fernando Tavares, também conhecido como Façainha, era considerado um mestre na arte de fabricar móveis nas décadas de 1970-1980. A convite de um amigo (Amadeu), ele aceitou o desafio de trabalhar uma temporada numa marcenaria montada na cidade de Xapuri, isso nos últimos anos da década de 1960. Lá, na Princesinha do Acre, nasceu o filho caçula do seu primeiro casamento, no caso o autor destas linhas.

Fernando Correia Tavares posa para foto documental. Foto/Acervo Manoel Façanha.

Quase uma década depois – últimos anos de 1970, época que a iluminação pública era carente em algumas partes da cidade de Rio Branco -, Fernando usava uma bicicleta Monark para se deslocar da sua residência, localizada no bairro da Estação Experimental, para o Abrahão Alab, onde trabalhava. O retorno para casa sempre se dava no período noturno e o risco de acidente era iminente.

Eu lembro que o meu pai era um cara inteligentíssimo e, ao mesmo tempo, inquieto. Para resolver o problema de andar de bicicleta na escuridão, ele comprou uma lanterna e instalou o bico da mesma na parte frontal, enquanto o seu miolo, onde ficavam as pilhas, ele instalou no varão da bicicleta. Algo sensacional para aquela época.

O jornalista Manoel Façanha posa ao lado pai durante a festividade do seu casamento. Foto/Danto Freitas.

Marceneiro de acabamento excepcional, o nosso personagem tinha vários clientes da alta sociedade como era o caso do saudoso economista acreano Alberto Merched, funcionário aposentado do Banco Central e interventor do extinto Banco do Estado do Acre (Banacre), durante o Governo Flaviano Melo, de 1989 a 1990.

“O Fernandinho era um profissional bem requisitado. Tinha um acabamento perfeito, além de muita criatividade”, disse o sobrinho Francimar Façanha (proprietário do Instituto de pesquisa Delta), que também o apelidou de professor Pardal, isso pelo fato dele criar de um simples pedaço de madeira algum tipo de engenhoca para facilitar o seu dia a dia.

Coração dividido na final do Campeonato Acreano de 1973

Internacional – 1972. Em pé, da esquerda para a direita: Serjão, Zé do Elpídio, César Forma, Santiago, Lero e Zezinho Melo. Agachados: Guto, ,Zelito, Norberto, Ilaércio, Chicana e Darci. Foto/Acervo Norberto.

Torcedor do Rio Branco, Fernando quase não era de frequentar o Stadium José de Melo, mas esteve na final do Campeonato Acreano de 1973, isso pelo fato do adversário do clube de coração ser o Internacional do Ipase, equipe então presidida pelo seu compadre Antônio Gadelha e recheada de atletas que eram do seu convívio pessoal, como os irmãos Vasconcelos (Sérgio, Peré e Gilvan), todos filhos do saudoso guarda territorial José Vasconcelos (Sr. Deca), esse também compadre de Façainha e, posteriormente, presidente do Saci do Ipase.

“Eu lembro que eu tinha oito anos (1973) quando o meu pai me levou naquele histórico jogo vencido pelo Rio Branco por 2 a 1. Também lembro que muitos moradores do Ipase marcaram presença nas arquibancadas do José de Melo para torcer pelo Internacional e o clima era de muita festa entre os torcedores que movidos por alguns goles de aguardente vibravam com cada jogada”, lembrou o bancário Rômulo Afonso, primogênito de Fernando.

Vendeu tacacá e consertou fogões antes da aposentadoria

Fernando com os filhos durante festa de aniversário de 69 anos, ocorrido em 2011. Foto/Acervo Manoel Façanha.

Após largar a profissão de marceneiro, isso devido a problema clínico na coluna, Fernando, que tinha habilidade na arte cozinhar, não pensou duas vezes: colocou uma banca para vender tacacá e dela tirou seu sustento durante alguns anos. Logo depois, ele passou a trabalhar com o conserto de fogões e máquinas de lavar até adquirir a aposentadoria pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Fã do tempero do tio, o historiador e geógrafo da Universidade Federal do Acre (Ufac), Domingo Almeida Neto, considerava o tio como um homem inteligentíssimo e de opinião própria, além do bom papo e conhecer, como poucos, a história da sociedade acreana das décadas de 1960 e 1970.

Fernando era um homem simples, assim como milhões de “Joões” deste país, deixou boas amizades e oito filhos (Rômulo Afonso, Manoel Façanha, Maria do Socorro, Fernanda e Fernando, Neilson, Adria e Andresa), oito netos e três bisnetos.

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