GOSPEL
A docilidade e inocência da pequena Ester, que muda a atmosfera de um dos abrigos de vítimas das cheias cantando louvores
Evandro Cordeiro
A Ester nasceu há seis anos em uma chácara de duas hectares no bairro Belo Jardim II, segundo distrito de Rio Branco. Filha do Clairton de Souza Santos, 31, e da Jucilene de Brito Braga, 27, que sobrevivem às duras penas por meio do plantio artesanal de macaxeira e pimenta de cheiro, Ester é uma menina bem criada. Apesar das dificuldades, a família toda é feliz. Ela tem uma irmãzinha de seis meses, a Letícia, que também irradia alegria. No meio do abrigo, comendo papa, a recém-nascida sorrir pra tudo, alheia a tragédia das cheias.
A Ester, os pais e a irmãzinha foram surpreendidos pela primeira vez com o alagamento do rio Acre e, principalmente, o transbordamento do igarapé Judia. Tiveram que deixar a casa as pressas, na última sexta-feira, socorridos pelo Governo, para se abrigar na sala 10 da escola Antônia Fernandes de Souza, no bairro Santa Inês. A água chegou em velocidade recorde, sem dar chance ao Clairton de tirar qualquer móvel.
Os pais da Ester não sabem o que vai sobrar na chácara deles, quando as águas baixarem, mas a probabilidade de perderem o plantio de mandioca e pimenta é grande. Além do mais, o Clairton conta que tinha tirado a madeira para a casa nova e tinha acomodado toda ela no terreiro de casa. Não sabe ainda se a água levou tábuas e vigas. Certo mesmo é a perda dos poucos móveis da casa. “Acho que perdemos tudo”, preve, numa melancolia só, típica de maioria das pessoas instaladas nesses abrigos improvisados.
Todo esse desterro sofrido pela família tem sido combatido com muito esforço pelos servidores da Cageacre, que cuidam do abrigo, sob o comando do diretor presidente, um devoto de Santo Antonio Pádua Bruzugu, conhecido por ser barriga cheia. A família da Ester dorme em uma sala com ar-condicionado e come na hora certa, inclusive a merenda, que chega exatamente nos intervalos das refeições tradicionais. Além do mais, a pequena Ester ajuda a amenizar o infortúnio com sua voz tão angelical, toda inocente, cantando louvores a Deus. Vez por outra ela está entoando hinos, o que aprendeu com o avô.
Da parte da equipe que cuida da Ester, de sua família e de outras dezenas de pessoas naquele abrigo, não tem faltado apoio. O coração parece presente em todos os ambeintes. “Nosso esforço é pra que partido ambiente seja o mais agradável possível, como tem orientado o governador Gladson Cameli”, diz uma das diretoras da Cageacre, Gigliany Lima.