COLUNA DO PITTER LUCENA — As ameaças à democracia brasileira

A democracia brasileira enfrenta atualmente uma série de perigos que ameaçam seus fundamentos e colocam em risco a consolidação desse sistema político tão importante para a sociedade. Desde a redemocratização do país, em 1985, o Brasil avançou significativamente em termos democráticos, mas as recentes tendências políticas e sociais têm levantado preocupações sobre o futuro da democracia no país.

Uma das principais ameaças à democracia brasileira é o crescente autoritarismo e a erosão das instituições democráticas. Observamos um aumento da polarização política, em que a disputa de poder prevalece sobre o debate de ideias e a busca por soluções para os problemas do país. Essa polarização tem fomentado um clima de confronto e radicalização, enfraquecendo a coesão social e dificultando a construção de consensos.

Além disso, a corrupção sistêmica e a falta de transparência na gestão pública minam a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas. Escândalos de corrupção, envolvendo altos escalões do governo, abalaram a confiança da população e geraram um sentimento de descrença na classe política como um todo. Essa desconfiança fragiliza os alicerces da democracia, já que a confiança mútua entre governantes e governados é essencial para o bom funcionamento do sistema.

Outra ameaça preocupante é o surgimento de discursos e práticas antidemocráticas por parte de certos setores da sociedade. Movimentos extremistas, que pregam a violência e a intolerância, têm ganhado espaço e influência, propagando discursos de ódio e divisão. Essas manifestações colocam em risco os direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e a igualdade de todos perante a lei.

Outro perigo que merece destaque é o ataque à liberdade de imprensa. A liberdade de expressão e a existência de uma imprensa livre e plural são pilares fundamentais de qualquer democracia saudável. No entanto, temos presenciado um aumento preocupante de ataques e intimidações a jornalistas e veículos de comunicação. A disseminação de fake news e a desqualificação do jornalismo profissional minam a credibilidade da imprensa, enfraquecendo seu papel de fiscalização e controle do poder público.

Ademais, é importante mencionar a interferência de interesses econômicos e poderes não eleitos no processo político. Grupos de pressão, corporações e grandes empresas exercem influência desproporcional sobre as decisões políticas, muitas vezes em detrimento dos interesses da sociedade como um todo. Essa captura do poder pelo setor econômico enfraquece a democracia e a capacidade do governo de atuar em benefício dos cidadãos.

Diante desses desafios, é fundamental que a sociedade brasileira esteja atenta e engajada na defesa da democracia. É necessário fortalecer as instituições democráticas, promover a educação cívica e política, e incentivar a participação ativa dos cidadãos na vida política do país. Além disso, é fundamental garantir a independência dos poderes, a transparência na gestão pública e a responsabilização dos agentes públicos envolvidos em práticas corruptas.

A defesa da democracia no Brasil exige o compromisso de todos os setores da sociedade, independentemente de suas divergências ideológicas. É preciso reconhecer que a democracia é o sistema que melhor assegura os direitos e liberdades individuais, além de proporcionar uma plataforma para a resolução pacífica dos conflitos e a busca por um desenvolvimento social e econômico sustentável.

Os perigos que ameaçam a democracia brasileira são reais e exigem a atenção e a ação de todos os cidadãos. A preservação desse sistema político é essencial para o fortalecimento da sociedade e para o avanço do país. Somente através do engajamento democrático, da participação cívica e do respeito aos valores democráticos é que o Brasil poderá superar os desafios e garantir um futuro democrático, justo e inclusivo.

Pitter Lucena – Jornalista e escritor