ARTIGO
Pitter Lucena lembra a trajetória do jornalista Tião Maia, a quem chama de ‘Dom quixote’
TIÃO MAIA: O DOM QUIXOTE DA IMPRENSA ACREANA
Pitter Lucena
Nos confins da selva amazônica, onde as árvores se erguem como sentinelas da natureza e os rios sussurram segredos do passado, habita um cavaleiro moderno cuja lança é uma caneta afiada, e cuja armadura é a verdade. Tião Maia, um jornalista do Acre, personifica o espírito destemido de Dom Quixote, empenhando-se incansavelmente em defender as causas dos mais necessitados através das páginas de seus artigos. Ele não cavalga um rocim, mas sim cavalga nas asas da justiça, alçando voo com palavras carregadas de empatia e paixão.
Há mais de quatro décadas, Tião Maia trilha os caminhos do jornalismo amazônico, e sua armadura é feita da mais pura verdade. Ele não hesita em denunciar injustiças, expor corrupções e levantar a voz pelos menos favorecidos. Seus artigos são como lanças direcionadas ao coração dos problemas sociais, buscando incansavelmente justiça e igualdade. Seu compromisso com a ética e a veracidade é inabalável, e sua caneta é sua espada na batalha pela informação.
Conheci Tião Maia há muitos anos, quando suas palavras já ecoavam no jornal Folha do Acre, em 1985. De lá para cá, tive o privilégio de testemunhar sua persistência incansável e sua dedicação incansável em diversos meios de comunicação no Acre. No entanto, a trajetória de Tião Maia não foi isenta de obstáculos. Ele já sentiu as algemas da prisão por defender a liberdade de expressão, e as ameaças de morte não o fizeram recuar de seu compromisso.
Além de sua coragem inquebrantável, Tião Maia é também um boêmio apaixonado, um amante da vida e das artes. Ele aprecia as sutilezas da boa leitura, das melodias harmoniosas e dos filmes que capturam a essência da existência humana. Sua alma sensível encontra expressão na poesia que ele tece com maestria, capturando a profundidade das emoções humanas e a complexidade da vida em suas palavras.
Enquanto alguns envelhecem e se tornam cínicos, Tião Maia continua a brilhar como um farol de esperança e vitalidade. Sua mente afiada é capaz de desvendar os mistérios da vida e da humanidade, e ele compartilha seus insights com a desenvoltura de um verdadeiro sábio. Ele já amou e foi amado, e suas experiências moldaram-no em um ser humano completo, capaz de compreender tanto a beleza quanto a tristeza do mundo ao seu redor.
É inegável que Tião Maia é um defensor da natureza e da vida, um Dom Quixote que escolheu sua pena como espada e suas palavras como escudo. Seu estilo refinado e requintado, sua paixão ardente e sua escrita sublime o elevam a um patamar de escritor de qualidade ímpar. Seus textos são como uma sinfonia de emoções, tocando os corações daqueles que têm o privilégio de lê-los.
No entanto, em meio a todas as suas conquistas e batalhas, Tião Maia também compartilha suas lutas pessoais. A solidão e o silêncio tornaram-se seus companheiros frequentes, uma consequência da partida da mulher que havia escolhido como sua companheira vitalícia. Essa solidão, porém, não é apenas um fardo; é uma escolha consciente de se cercar apenas daqueles que contribuem positivamente para sua vida.
Assim como Dom Quixote teve seu fiel escudeiro, Sancho Pança, Tião Maia encontrou sua companhia em animais de estimação – três cachorros e gatos. A preferência por sua presença silenciosa e leal talvez seja um reflexo de sua jornada de superação, onde ele mesmo precisou renascer e se reinventar após ter sido jogado ao fundo do poço. Sua serenidade é admirável, e sua postura diante da vida é uma lição para todos nós.
Com o tempo, Tião Maia também encontrou uma forma única de autodescobrimento. No silêncio de suas refeições solitárias, ele aprendeu a valorizar a própria companhia. Em um mundo repleto de distrações e superficialidades, ele escolheu aprofundar-se em si mesmo e encontrar a verdadeira riqueza dentro de suas próprias reflexões. Sua jornada é um lembrete inspirador de que a solidão pode ser uma oportunidade para o crescimento pessoal e a autenticidade.
E ao longo de sua jornada, ele adotou um lema que define sua filosofia de vida: “sem recuar, cair, sem temer”. Esse mantra é um testemunho de sua resiliência inabalável, sua força interior e sua capacidade de renascer das adversidades. Sua jornada não é apenas a de um jornalista, mas a de um espírito que encontra significado na luta e beleza na sua concretude.
E ao envelhecer, Tião Maia ganhou uma perspectiva única sobre a vida. Ele experimentou a alegria do amor e a tristeza da perda, as vitórias conquistadas com esforço e as dores superadas com resignação. Ele compartilha suas reflexões sobre a vida e a humanidade com desenvoltura, oferecendo um olhar penetrante sobre os mistérios do existir.
Então, aqui está Tião Maia, o Dom Quixote da imprensa acreana, um herói moderno que escolheu a caneta como sua lança e a verdade como sua armadura. Ele cavalga pelos campos da informação, defendendo os necessitados, desafiando os poderosos e inspirando todos nós com seu compromisso incansável em fazer do mundo um lugar melhor. Seu legado é um testemunho vivo de que a coragem e a paixão podem criar mudanças reais, e sua história nos lembra que o jornalismo, quando praticado com integridade, é uma das forças mais poderosas para a transformação social.
E assim, enquanto o sol continua a brilhar sobre a Amazônia e os rios continuam a fluir, a caneta de Tião Maia nunca para de escrever, contando histórias de coragem, amor e compromisso. Ele é mais do que um jornalista; ele é um contador de histórias, um defensor da verdade e um Dom Quixote dos tempos modernos, cujo legado perdurará muito além das páginas de jornais e revistas.
Pitter Lucena é jornalista, escritor e editor-literário