ARTIGO
Ere Hidson conta parte da história do Desembargador Pedro Ranzi, o prefeito mais novo da história de Cruzeiro do Sul
O prefeito mais novo da história do Acre é um descendente de Italianos que nasceu em Espumoso, Rio Grande do Sul, depois cidadão acreano: Pedro Ranzi. Órfão aos oito anos de idade, com muito esmero, sobretudo pela força dos estudos, tendo chegado inclusive a limpar o chão do Ginásio onde estudou e foi bolsista no que hoje chamamos de ensino médio, terminou por alcançar o topo da carreira de magistrado no Poder Judiciário, Desembargador.
Mas vamos a história para mostrar como ele acaba sendo o prefeito mais novo do Acre. Nascido no dia 29 de junho de 1947 no interior rio-grandense, Pedro Ranzi é filho de Saul Ranzi, nome de gente grande, belo e importante, segundo as sagradas escrituras. A mãe, dona Carolina Basso, como o pai, italiana ou descendente.
Casado com uma acreana, a professora aposentada Maria Bibiana, o ex-prefeito de Cruzeiro do Sul é pai da médica Cláudia Cibele Ranzi e do advogado e Policial Militar Carlos Alexandre Ranzi. Desembargador aposentado, poeta, de uma lira e memória atualizada, Pedro Ranzi é membro imortal da AAL, a gloriosa Academia Acreana de Letras.
Figura altamente agradável, com um acervo de informações e conhecimentos da história real do Acre, do Brasil e do Mundo, tendo sido inclusive professor por 30 anos da nossa querida Universidade Federal do Acre (Ufac), no curso de Direito.
Transferir conhecimento sempre foi sua grande paixão, investir em pessoas, apostar no potencial de cada um, e ter a percepção que a educação transforma vidas, muda rumos e destinos. Ao longo das últimas décadas, ajudou a formar muitas pessoas, assunto que ele não gosta de explorar. “Isso é coisa apenas para Deus saber”, costuma justificar. Nessa saga de passar o que sabe para quem está chegando, entrou para história, também, como professor da escola da magistratura do TJAC, uma espécie de faculdade que atualiza mensalmente os membros da corte, uma escola importante pra vida orgânica do tribunal, passando valores, princípios e uma expertise incomensurável aos novos juízes.
Filantropo por convicção, Pedro Ranzi mantém viva suas tradicionais na veia. Sócio-fundador do Centro de Tradições Gaúcha no Acre (CTG), uma associação que completará 50 anos de existência na capital Rio Branco em 2024. Pedro Ranzi também é um dos fundadores do colégio Flodoardo Cabral, em Cruzeiro do Sul, erguida a época na qualidade de Escola Técnica.
Um verdadeiro desbravador e defensor convicto da causa da educação, junto com a Prelazia (Igreja Católica) foram contribuintes significativos, na formação de pessoas e melhorando a qualidade da educação. Ele cita como exemplo educacional os irmãos Maristas, que chegaram em Cruzeiro nos anos 1960, escolhidos pelo o então Bispo Dom Henrique Ruth.
Gremista apaixonado, amante do bom churrasco e, claro, bebedor do tradicional chimarrão, adora uma boa conversa com os amigos. Pedro Ranzi lembra de quando chegou em Cruzeiro do Sul, no final dos anos 1960, com um saudosismo notório. Conta que estranhou muito a comida, ou a falta dela. Carne no Acre, praticamente não existia. Tinha muita fartura de peixe e até carne de caça, que era vendida livremente nos mercados. Carne de boi, raríssima.
Primeiro emprego em Cruzeiro do Sul? Foi o primeiro secretário de finanças do município. Naquela época não havia o que conhecemos hoje como secretário de finanças, portanto essa função era alguma coisa que envolvia a contabilidade e a vida financeira da prefeitura. Nesse cargo, organizou as finanças de Cruzeiro do Sul na gestão do então prefeito Moacir Rodrigues. Função de destaque e logo em seguida foi convidado a ser prefeito, pelo o então deputado federal Nosser Almeida Tobu, na época do regime militar. O prefeito mais novo do Brasil, com apenas 22 anos, viu o Sétimo BEC se instalar em Cruzeiro do Sul. Ficou um ano e meses a frente da prefeitura, tendo sido deposto pelos militares pela razão natural em que os milicos cassavam políticos, suspeita de atividade subversiva. Antes de ser tirado do cargo pelo regime, fez muito pela cidade e zona rural. Em uma época que não tinha estradas, e nem tijolos, sua gestão conseguiu fazer ramais e sobrir ruas com tijolos. A rua Rui Barbosa, saindo da frente da nossa catedral Nossa Senhora da Glória, até o antigo Craveiro Costa, atual UPA de Cruzeiro, foi a primeira pavimentada, na lembrança dele.
Foi tudo muito legal sua vida no Juruá naquela época. Ele se arrepende de poucas coisas, uma delas a de não ter participado das famosas desobrigas. Não foi por falta de vontade, mas de oportunidade. As desobrigas eram feitas pelos padres nos rios, numa época ainda forte na produção de borracha. Eles levavam saúde e cidadania a quem estava embrenhado nas matas no ofício da extração da borracha. Seringalistas e comerciantes faziam negócios nos rios, trocavam mercadorias por galinha, pato, porco, carneio, pele de animais silvestres etc… Praticavam o milenar “escambo”, um tipo de transação em que um negócio é fechado sem que haja envolvimento de moedas.
Morando em Rio Branco por ócio do ofício de Juiz (Desembargador), Pedro Ranzi lembra Cruzeiro do Sul de maneira muito saudosa e cita amigos que conviveram em sua época, alguns ainda entre nós, outros não. Na lista do Desembargador, Geraldo da Silva, Maurício Mappes, José Adauto Batista, Magid Almeida, Euclides Queiroz, Floriano Bandeira, Liberman (Liba), Edu (Eduzão), Jamil Jereissati, entre outros.
Em fevereiro de 1988 foi empossado como Juiz de Direito substituto, atuando na Vara Criminal da Comarca de Cruzeiro do Sul; na 3° Vara Criminal da Comarca de Rio Branco, além de coordenador da Vara Especial Criminal da Comarca da capital e juiz eleitoral da 9° zona. Em junho de 2005, Pedro Ranzi assume o topo da carreira como Desembargador do Tribunal de Justiça do Acre.
Foi vice-presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Acre, no Biênio 2005/2007 e vice-presidente do Tribunal de Justiça do Acre na gestão 2007/2009, tendo assumido a Presidência da Corte em 2 de fevereiro de 2009.
Pedro Ranzi viveu muitas coisas no Acre, desde que chegou aqui no final dos anos 1960, uma delas foi vê se cumprir uma profecia feita por ele mesmo quando desembarcou nessas terras, a de que um dia seria governador. Dito e feito. Dia 10 de dezembro de 2009 assume interinamente o Governo, por força da lei. Com as viagens do então governador Arnóbio Marques (PT), do vice-governador, César Messias e do então presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães, ele entrou na linha de sucessão, presidente que era do Tribunal de Justiça.
Sentiu-se lisonjeado em assumir tão importante cargo. “Foi uma honra muito grande para mim ter assumido o Governo. Tava cumprida aquilo que falei anos atrás, despretensiosamente”, diz.