ARTIGO
Jornalista e escritor Pitter Lucena diz que Mariano Maciel é “um farol na capital das decisões”
Na série de homenagens que vem fazendo a velha guarda da imprensa acreana, o jornalista e escritor Pitter Lucena traz para o tablado nesta quinta-feira, 24, ninguém menos que o nosso colega Mariano Maciel. Veja o que ele escreveu:
MARIANO MACIEL: UM FAROL NA CAPITAL DAS DECISÕES
Pitter Lucena
Nas entranhas da Amazônia, onde a densa vegetação e os rios majestosos moldam os rumos da vida, surge uma figura que transcende as páginas da história: Mariano Maciel. Desde os primeiros passos da infância, ele abrigava em seu peito um sonho audacioso, um desejo inextinguível de irradiar sua voz e imagem através dos meios mais poderosos da comunicação: o rádio e a televisão. Naqueles rincões, Mariano plantou as sementes da paixão pela informação, e cada etapa de sua jornada se desdobrou como uma história épica de determinação, coragem e triunfo.
Seu nome ecoava como um cântico nas ondas do rádio, tornando-se o elo entre a Amazônia e a rádio Nacional de Brasília. Como locutor, sua voz fluía como um rio caudaloso, levando notícias e entretenimento até as profundezas da floresta e além. Ele era mais do que um comunicador; era um contador de histórias, um artista que pintava com palavras os quadros da imaginação de seus ouvintes.
Minha própria narrativa se cruzou com a de Mariano nos primórdios da década de 90, quando ambos encontramos abrigo na TV Record. Enquanto eu tecia as tramas jornalísticas como editor-chefe, Mariano se metamorfoseava em um repórter destemido, decodificando os enigmas da realidade com agilidade e sagacidade. Embora nossos papéis fossem diferentes, nossas almas se entrelaçaram como cúmplices na busca pela verdade. Nossa amizade floresceu como uma rosa rara no deserto.
Contudo, Mariano não se contentaria em ser um mero espectador da notícia. Sua curiosidade insaciável o conduziu à ousadia de ser correspondente do jornal “A Gazeta” em Brasília, um território impregnado de desafios monumentais. Em meio a tempos sombrios, muitos duvidaram de sua resiliência e determinação, profetizando sua queda em meros seis meses na Capital Federal. A descrença alheia não o intimidou; ao contrário, ele abraçou a adversidade, enfrentando noites em viadutos frios, sempre nutrindo o desejo intrínseco de vencer.
Através de um labirinto de paciência e dedicação inabalável, Mariano abriu caminho na Câmara dos Deputados, penetrando nas profundezas da política nacional. Sua caneta era uma espada afiada que desvendava intrigas e exibia a verdade nas páginas da história. Ele cruzou olhares com presidentes da república, mas sua humildade permaneceu inabalada, refletindo a essência daquele menino da Amazônia, enraizado em princípios sólidos.
A colaboração entre Mariano e o jornalista Pitter Lucena deu origem ao site “Direto do Planalto”, uma fonte de verdade em um oceano tumultuado de desinformação. Eles ergueram esse farol virtual para iluminar o Acre, a Amazônia e todo o Brasil com notícias autênticas e imparciais.
Mariano reverenciou suas raízes ao retornar à terra natal, Cruzeiro do Sul, onde sua jornada teve início. De lá, ele alçou voo para a capital do Brasil, Brasília, onde se estabeleceu como um dos jornalistas mais brilhantes na Câmara Federal e como correspondente de destaque da TV Gazeta, acumulando 23 anos de expertise. Sua trajetória começou nas rádios locais de Cruzeiro do Sul, depois migrou para Rio Branco, e, finalmente, foi convocado para assumir seu posto em Brasília.
Um marco indelével em sua carreira foi a conquista do Prêmio José Chalub Leite, uma honraria que atestou sua habilidade excepcional. Ao chegar em Brasília, ele se deparou com uma encruzilhada de pautas quentes, envolvendo políticos acreanos em escândalos nacionais. Ele se destacou como uma voz destemida em um cenário tumultuado, testemunhando e reportando o processo do coronel Hildebrando Pascoal, um capítulo intenso na história política do Brasil.
A árdua tarefa de compreender os meandros do Congresso e da política na capital Federal ecoa na memória de Mariano. Ele recorda a transição desafiadora de um Acre acolhedor para uma Brasília que já abrigava 2 milhões de veículos no ano 2000, uma cidade que hoje floresce com uma população de 3 milhões de habitantes.
À medida que Mariano evoca memórias de amigos perdidos para a cruel mão da Covid-19, seus pensamentos retornam à época em que ele habitava a Linha do Tiro e formava uma dupla imbatível de zaga com Raimundo Bananeira. Lágrimas silenciosas se misturam com lembranças de bons tempos compartilhados, e sua voz carrega o peso da saudade e da reverência.
Hoje, Mariano Maciel reside em Águas Claras, um recanto distante 22 km do centro de Brasília. A pandemia o forçou ao isolamento, e sua casa se transformou em um reduto de trabalho intenso e reuniões virtuais. A aposentadoria não o impediu de continuar desbravando o mundo da imprensa, pois sua dedicação persiste.
Em meio a uma era de turbulências, Mariano enxerga com clareza os desafios que a imprensa enfrenta. A liberdade de imprensa é alvo de ataques contínuos, os órgãos de comunicação enfrentam adversidades e os jornalistas são alvo de investidas nefastas. Ele ergue sua voz em defesa do jornalismo ético, da verdade e da nobreza dessa profissão.
Mariano Maciel personifica o equilíbrio perfeito entre sonho e realidade, uma alma sonhadora enraizada nas bases sólidas da realidade. Ele emerge como um farol da verdade, navegando pelos mares tumultuados da desinformação, guiando com destemor aqueles que buscam a clareza no turbilhão das incertezas.
O jornalista Mariano Maciel é mais que um marco na história da imprensa acreana; ele é uma lenda viva, um pioneiro que desbravou o terreno árido da política no coração do planalto central. Sua jornada, imbuída de paixão e perseverança, é um lembrete vívido de que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, a determinação e o comprometimento podem transformar sonhos em realidade e construir um legado duradouro.
Mariano Maciel é um sonhador de pés no chão, uma voz que emerge da floresta para desbravar o terreno da política no planalto central. Sua jornada inspiradora e sua paixão pelo jornalismo continuam a moldar a narrativa da imprensa acreana, levando a informação confiável a lugares distantes e trazendo clareza à escuridão. Em um mundo sedento por autenticidade, Mariano Maciel é uma inspiração e um farol que ilumina o caminho da verdade.
Pitter Lucena é jornalista, escritor e editor-literário