Crônicas, poemas, desenhos e observações
A bem humorada coluna do Braga hoje é sobre as histórias de outro chargista tão bom quanto, o Dim Mendes, da Gazeta
OS RAIMUNDOS E O MANDIM DO DIM
Em 1993 eu cheguei ao Acre. Fiz muitos amigos, no meio deste tanto, quatro caros chamados Raimundo cada um. O primeiro desses caras foi o Raimundo Fernandes, editor de esportes do jornal O Rio Branco, onde consegui meu primeiro emprego na Terra de Galvez. Então, na hora do almoço, no refeitório, me enturmando com os colegas de redação ouvi do Raimundo o que me pareceu ser uma pegadinha. Que ele estava me gozando.
– Ô cearense, ainda vou te levar pra passar um final de semana na colônia, pra gente pescar e caçar! – Disse o jornalista, se gabando de ser de origem humilde e ter chegado aonde chegou vindo do seringal. Certa vez vi a carteira de trabalho dele e ri muito, pois seus empregos anteriores ao de repórter e radialista eram de pedreiro, servente e marceneiro. “Nossa que evolução!”, pensei. Aí ele completou: “Já viu chover peixe? Aqui no Acre chove peixe!”.
Aí eu dei aquela gargalhada, falei que ele tava de sacanagem, isso e aquilo. Ninguém riu como eu ri. O pessoal que estava ao redor da mesa, os de outras mesas próximas, todos criticaram minha risada de deboche. Confirmaram com Raimundo de que sim, de vez em quando, chove peixe na floresta. Eu fiquei sem graça, me sentindo um abestado incrédulo, vindo de uma terra (Ceará), que não chove nem água sequer.
O segundo, Raimundo Melo, meu grande amigo Ray, com quem dividi o aluguel de uma casa, onde fazíamos belas cervejadas e churrascadas nos inúmeros finais de semana daquele ano, também estava ali, almoçando e contando estórias. Ele era o chefe da gráfica que imprimia o jornal O Rio Branco e trabalhava como diagramador. Ray “mangou” foi muito de mim e exagerou mais ainda ampliando as lendas amazônicas.
Falou do tal mapinguari, criatura que se iguala à lenda do pé grande na América do Norte e da cobra grande que vive debaixo da catedral. E, no assunto cobra, meu chapa Ray Melo é “cobra” mesmo. Em papo de pescador e caçador ele é um monstro amazônico. Me falou das grandes serpentes que já viu pelas matas acreanas. E jurou, beijando os indicadores cruzados que aquela estrada que ia dar no rio, era mesmo na verdade um caminho de anaconda.
Anos depois, numa das festas do Prêmio de Jornalismo José Chalub Leite, eu, Ray Melo, Raimundo Fernandes, junto com o então presidente do sindicato, repórter cinematográfico Raimundo Afonso, nos lembrávamos dos velhos tempos em que trabalhamos na mesma empresa (conheci o terceiro Raimundo na TV Rio Branco), mas agora quero lembrar mesmo é da estorinha que o quarto Raimundo contou naquele dia.
Raimundo Mendes, o Dim. Chargista em quem me espelhei e observei e estudei para me tornar também um chargista daquela terra maravilhosa. Esse cara, o Dim é um safaDIM (era assim que ele assinava sua página semanal no jornal Página 20). Com seu sorriso gozador, agradável ele se aproxima, já com a piada pronta e sapeca em cima da gente. Não dá tempo de se proteger, a saída é só cair na gargalhada mesmo. Só isso.
Fernandes disse que pegou um tambaqui, no Rio Acre, que era isso assim, ó! O Ray, menosprezando o colega falou que aquilo era nada, que ele mesmo já pescou, de anzol, um bichãozão que dava marromeno uns dois desses do Fernandes, mas o Dim – Ah, o Dim! – disse que eles nunca pescaram peixe coisa nenhuma, que eram dois pescadorezinhos de nada, pois ele já pegou foi um mandim que dava um palmo.
Aí foi onde eu me lasquei.
– Ah, porra Dim! Peraí, né?! Mandim de um palmo? Grandes coisas, meu! Todo mandim chega a um palmo. Fica até maior, ora mais!
E o Dim completou:
– Um palmo de um olho pro outro, cearense abestado!