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A história do estivador Arleudo, que diz ser filho rejeitado de um famoso dentista do Acre entre os anos 1950 e 1970, cuja sobrevivência precisou garantir com as costas

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Evandro Cordeiro para o AcreNews

Quem frequenta o histórico Mercado dos Colonos, no centro velho de Rio Branco, ali na cabeceira da ponte metálica, pelo menos nos últimos 40 anos, provavelmente viu alguma vez aquela figura marcante de um estivador branquelo, tímido, transitando por dentro e nos arredores com as costas sempre abarrotadas de alguma coisa. Esse sujeito invisível para sociedade, tem nome, sobrenome e muita história para contar. É o Arleudo Ferreira da Silva, um jovem senhor de 63 anos, com um corpo franzino e bem calejado pelo tempo e pela lida, mas ainda muito forte. Na vida, o Arleudo é, no momento, um elemento solitário e para viver ainda precisa da estiva, como sempre foi mesmo sendo filho de um famoso e rico dentista que teria feito fama e fortuna no Acre entre os anos 1950 e 1970. Ele acusa um tal “Doutor Matoso” de ter-lhe rejeitado a paternidade, mesmo sabendo ser ele resultado da relação com Marieta Ferreira da Silva, sua mãe, uma amazonense que veio parar no Acre sozinha no final da década de 1950 sem que o filho saiba até hoje a razão.

A mãe, hoje falecida, segundo Arleudo, não conseguiu brigar para garantir a paternidade. Por essa razão, ele teve que, desde o final da década 1970, se virar para sobreviver. “Ela morreu faz tempo e eu só tive uma irmã, que também já morreu”, conta o velho estivador. Ele ainda foi em Manaus, nos anos 1980, mas hoje nem tem mais razão para voltar a terra da mãe, uma vez que não tem mais parentes por lá.

Sendo resultado dessa relação controversa entre a mãe e o dito dentista, o Arleudo revela que não contou pipoca, não se acovardou para vida. Esqueceu o infortúnio que foi ser-lhe negada a paternidade, botou os sacos nas costas e foi ganhar dinheiro, ainda que caraminguás, para sobreviver. Diz ele que nos anos 1970 e 1980 o porto ali do centro, em frente ao Mercado dos Colonos, começava a ferver ainda de madrugada. Toda a produção desaguava ali, afinal era no Mercado dos Colonos, hoje chamado de Marcado Olavo da Farmácia, e que só não “morreu” de vez devido a umas pensões onde se vende comida caseira, que o morador da capital se encontrava. Para comprar a feira “de um tudo” e até para a boêmia. Os botecos e as nada requintadas casas de licenciosidade era naquele derredor. “Aqui o cara comprava e feira, a carne, o peixe e ainda saia trovisco de cana”, conta o Arleudo, numa mistura de nostalgia com uma notada melancolia. Ele olha sempre pra baixo e parece precisar de cuidados, embora até hoje, aos 63 anos, tenha força suficiente para carregar uma saca de farinha, se for preciso. “Ele bota o saco ou um balde d’água nas costas e vai embora. Tem uma força descomunal”, testemunha Jhones Rego, ex-diretor do mercado.

O estivador Arleudo relembra os bons tempos do Mercado dos Colonos e também dá época em que foi amparado pelo Sindicato dos Estivadores. Ele rasga elogio a um ex-presidente chamado Antônio Pinto. “Ele era muito bom com nós”, cunha a adulação da forma simplória com a qual costuma se comunicar. Arleudo revela que conseguiu se aposentar, mas pela idade. Com o fim das movimentações nos portos da capital, depois do asfaltamento da BR-364, a estiva sucumbiu e ele e tantos outros ficaram meio de cara para cima. “Umas pessoas me ajudaram a me aposentar”, revela sua lembrança pueril.

Quando passa pelos corredores do mercado, o Arleudo é cumprimentado pelos poucos comerciantes, ganha um troco aqui e acolá, nada que chegue perto do que era 20 e tantos anos atrás, mas ele não falta um dia. Amanheceu o Arleudo está lá. E revelou a reportagem: “Daqui só pro cemitério. Eu gosto do mercado”. Ali foi o único porto seguro que abiscoitou na vida, literalmente.

CONHEÇA O MERCADO

O Mercado dos Colonos, mais conhecido como Mercado Velho, ou Mercado Olavo da Farmácia, foi construído no final da década de 1920, na gestão do Governador do ainda Território do Acre, Hugo Carneiro. Sua construção foi um marco na história da urbanização de Rio Branco por ter sido a primeira grande construção em alvenaria da cidade. Todas as embarcações vindas de Manaus e Belém, com o que havia de mantimentos a época, faziam parada naquele barranco.

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