Artigo de Ezio Gama: A Humanidade e a trans humanidade

Deus criou a humanidade. Uma pergunta que devemos fazer é: o que é o ser? E o que é humano? a ontologia “é o estudo ou conhecimento do Ser, dos entes ou das coisas tais como são em si mesmas, real e verdadeiramente”.

O ser hoje está cada vez mais fragmentado, multifacetado, dividido em partes. Com isso, está desconectado do seu ser, de sua identidade e propósito. Socialmente, como fenômeno do comportamento, está se perdendo em suas múltiplas definições, defendendo a causa de querer ser o que quiser ser. Ou seja, quem define o ser não é mais sua identidade humana, biológica, familiar e cultural, mas seus desejos e sentimentos abstraídos de uma nova percepção do mundo. Um mundo em desconstrução.

Para alguns filósofos, há uma crise infinita do ser, sua natureza, essência plena e integral agora dando lugar ao que é fluido, diluído. Se perdeu a identidade, agora tudo é efêmero e relativo, desconstruído e recriado. Depende do gosto, da ideologia, do estado psíquico, da ciência biogenética. Vive-se ou um paradoxo ou um dilema, perde-se o sentido do ser, se moldando ao não ser, ou como dizia certo filósofo “o eterno vir a ser”. Porém, agora multifacetado e negado em sua identidade e essência.

A engenharia genética está em busca de uma nova humanidade. Inteligência artificial, manipulação do genoma, úteros artificiais, definição do sexo do bebê e alimentos artificialmente fabricados. Hoje, até a carne está sendo produzida a partir de proteínas extraídas de pena de ave, para se construir alimento proteico a partir das células dali extraídas.

Todas as esferas da vida em breve serão afetadas por criação artificial, seja alimento, vestuários, medicamentos e DNA animal e humano. Tudo parte de uma engenharia social e tecnológica para a reconstrução do novo homem, feito à imagem e semelhança da pseudo-deusa chamada “ciência”. O humano está se desumanizando em busca do divino. Papéis são invertidos. Enquanto dizem que a mente humana criou Deus e não o contrário, estão se passando por deuses criando tudo à sua “imagem e semelhança”. Acreditamos e defendemos a ciência, a verdadeira ciência, que não anula a criação original e de origem divina, mas que a usa em benefício da humanidade.

A humanidade busca agora a divindade, a superação dos limites, transcendendo para uma nova ordem. A divindade autoproclamada, do self, do ego, do mundo das aparências e fantasias. Os ídolos, com seus símbolos, modelos e padrões, como semideuses regados a luxo, vaidade e fama, se estabelecem como divindades a ser imitadas e seguidas nas redes sociais, bem como nos palcos e shows pirotécnicos.

Enquanto todo esse caldeirão borbulhando em meios de comunicação e redes, o ser, criado à imagem e semelhança de Deus se perde na tentação do que é proibido, fazendo do certo o errado e do errado o certo. Inverte os valores e os papéis, se despindo das roupas de luz divina, se desnudando e escancarando sua vergonha, consciente ou não, porém, muitas vezes sem forças para reagir. Mas, com tudo isso, ainda se importa, sim. Porque, no fundo, todo ser humano quer ser valorizado, respeitado e quer ser tratado com dignidade e amor.

Quantas pessoas exploradas, abusadas, vivendo cativas, em relacionamentos abusivos ou vítimas de sistemas autoritários e tiranos? Enquanto isso, estão tentando roubar a vida humana e robotizá-la ou transformá-la em zumbis, seja por novas drogas sintéticas ou ideologias fabricadas. Mas há tempo de olhar para o alto e se reconectar com o verdadeiro Deus e criador e sua essência. Assim, se tornar um novo ser, criado com um propósito e para ser o verdadeiro senhor de sua história.

Ezio Gama é sociólogo e atua na área de Psicologia Social e Desenvolvimento Humano.