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AcreNews relembra parte da história de Labib Murad, ex-vice-governador do Acre, médico por vocação, político por acaso
Foto: Labib Murad com o filho Beto e um dos netos: pelo menos 60 se seus 87 anos dedicado a vida do semelhante
Jorge Natal
Albert Einstein disse que as gerações futuras teriam dificuldade em acreditar que um ser como Gandhi andou na Terra. Guardadas as devidas e inúmeras proporções, poucas pessoas acreditam que exista uma pessoa como Labib Murad, de 87 anos. Confesso que é difícil escrever um material assim, uma vez que a pena quer nos puxar para o exagero e até para o pieguismo.
Até poucos dias, sequer o conhecia pessoalmente, tampouco participo de seus círculos de amizade. Mas a admiração vem de longe, mais precisamente de uma fila do Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), no início dos anos 80. Vi-o de branco atendendo muitas pessoas que o aguardavam, mesmo depois de as “fichas terem acabado”. Lembrei-me de uma propaganda da época e tasquei: Não basta ser médico, tem que ser humano, tem que gostar de gente”.
Nascido no interior do estado de São Paulo (Pirajuí), chegou à taba em 1968, numa época em que não existiam ultrassom nem médicos anestesistas. Casou-se com a acreana Malena Fecury e juntos tiveram os filhos Fabíola, Rafael e José Roberto. “Eu me formei no Rio de Janeiro e estava num plantão quando recebi o convite, para vir para o Acre, do então secretário de Saúde José Nabuco de Oliveira, que era um médico muito respeitado, detalhou o nosso homenageado, que foi o primeiro profissional a vir para o estado com residência médica (Cirurgia Geral).
Com CRM de número 23 ativo, é titular da cadeira 01 da Academia Acreana de Medicina e recebeu a comenda “Bisturi de Ouro”. Também ajudou a fundar a Pronto Clínica e contabiliza histórias incríveis na lida do ofício. Numa dessas, teve de concluir uma cesariana com a iluminação dos faróis de um carro na janela da Maternidade, após uma queda de energia deixar a sala às escuras.
Convite para ser gestor
Labib nunca foi ativista partidário, porém, principalmente por ser médico, era muito procurado por políticos aos quais atendia seus pedidos. “Eu sempre fiz política com o coração e não com fígado”, destacou ele, referindo-se à necessidade de agir com empatia, compreensão e senso de justiça, em vez de se deixar levar por emoções negativas como raiva, ressentimento ou vingança.
Foi por causa dessa leitura de mundo, dentre outras qualidades nobres, que o governador Joaquim Falcão Macedo foi pessoalmente à sua casa e o convidou para ser secretário de Saúde. “Tudo que aconteceu na minha vida, politicamente, foi porque pessoas foram à minha casa”, completou Murad, que até aquele momento não tinha nenhuma experiência como gestor público.
Ele voltaria à mesma função 12 anos depois, desta feita no governo de Romildo Magalhães, que acabara de assumir o cargo após a morte de Edmundo Pinto. Este o havia nomeado na representação política do Acre em Brasília. “Eu deixei o cargo porque estava com saudade da sala de cirurgia, mesmo porque eu tinha cumprido a minha missão de gestor”, afirmou ele. “A cirurgia é o que eu sei fazer de melhor”, completou Labib Murad, que também acumulou as especialidades em Ginecologia e Obstetrícia.
Vice-governador
Labib não desejou tampouco planejou, mas acabou sendo eleito vice-governador na chapa com Orleir Cameli. Ele nega qualquer desentendimento com o titular. “Eu nunca quis progredir na vida às custas de alguém, nunca articulei nada contra ninguém, até porque não sei. A minha missão é fazer o bem”, assegura ele, que só queria influenciar o governador para resolver os problemas da Saúde.
Fazer política com o coração, com ética e com causas implica, segundo ele, agir de forma humana, buscando soluções que beneficiem a maioria, mesmo que isso exija concessões e compromissos. “O amor por esta terra, pelos acreanos, pela minha família e pela minha profissão fizeram o Labib Murad”, declarou ele, que rejeita a pecha de homem íntegro, atribuindo a virtude a Jesus Cristo.