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ESPORTE

Afrânio Moura – Educador físico de excelência e craque de handebol

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Na Marca da Cal

Natural da cidade de Tarauacá, mas criado no bairro da Estação Experimental, em Rio Branco-AC, o professor Afrânio Moura de Lima fez parte da geração de ouro da lendária equipe de handebol masculina do CSU (1979-1983). No entanto, muita gente não sabe que, nos primeiros anos de 1980, esse baixinho idealista ainda encontrou um tempinho para fechar o gol da equipe de juvenis do Santa Cruz, em competições ocorridas no campo do Maracutaia, na Funbesa.

Farinha – 1980. Em pé, da esquerda para a direita: Preto Garrincha (in memoriam), José Alício e Delcir. Agachados: Jacaré, Gobeia e Afrânio Moura. Foto/Acervo Pessoal/Afrânio Moura
Equipe de futebol de salão do AJAX – 1980. Em pé, da esquerda para a direita: Railton, Gobeia, Nazareno. Agachados: Manoel, Magide e Afrânio Moura. Foto/Acervo Pessoal/Afrânio Moura

Estudioso e com espírito de liderança, o professor Afrânio Moura também foi um dos principais fundadores do grupo de jovens denominado Liga Juvenil Experimental (1981 – 1988). O grupo não tinha ligação política ou religiosa e o objetivo era a inclusão social de crianças/adolescentes/jovens, usando como ferramenta o esporte e a cultura.

Excursão do grupo de jovens da Liga Juvenil Experimental a cidade de Sena Madureira nos primeiros anos de 1980/Acervo Pessoal/Afrânio Moura

A vida de educador físico do professor Afrânio Moura começou bem cedo, aos 17 anos, após um convite dos professores Itamar Zanin e Evaristo de Luca pra ele ministrar aulas de educação física no Colégio Meta, em 1981. O foco no trabalho, os bons resultados conquistados nas quadras e, posteriormente, a conclusão do curso de Educação Física pela Universidade Federal do Acre – Ufac (1991-1994), fizeram dele uma das principais referências do desporto escolar do estado. O reconhecimento da brilhante na carreira ocorreria com a indicação para a coordenar a pasta de desporto da Fundação Garibaldi Brasil (2007 – 2012) e, posteriormente, a extinta Secretaria de Esporte e Lazer do Munícipio de Rio Branco – Semel (2013 – 2018), durante a gestão do Partido dos Trabalhadores (PT).

Casado com Cleusaní Dotto, com a qual tem um casal de filhos (Cecília e César Augusto), filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e hoje aposentado pelo INSS, o professor Afrânio Moura, de 59 anos, aceitou o convite nestas vésperas de eleições no país para falar da sua trajetória de vida e também de políticas públicas direcionadas a área do desporto. Confira abaixo a entrevista.

NA MARCA DA CAL: Muitos não sabem, mas o senhor no início da carreira de atleta era um promissor goleiro. Onde foram as primeiras peladas e qual o clube que defendeu?

Professor Afrânio – No glorioso Campo do Maracutaia, famoso “campinho de pelada da Funbesa”, em funcionamento até hoje, pela equipe do Santa Cruz, do saudoso Dário D’Avila.

Santa Cruz – 1981. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Alício (técnico), Afrânio, (…), Chiquinho, Magide e Kátio. Agachados: Ary, Jarmes, Rômulo e Manoel. Foto/Acervo Rômulo Afonso
Em 1981, o craque Magide e o goleiro Afrânio brilham com a camisa do Santa Cruz. Foto/Acervo Magide Anute

NA MARCA DA CAL: Como começou o seu interesse pelo handebol?

Santa Cruz – 1981. Em pé, da esquerda para a direita, os atletas Manoel, Magide e Afrânio Moura. Foto/Acervo Rômulo Afonso

PA – Começou através de programas sociais inseridos na Funbesa durante as décadas de 1970 e 1980, direcionados à comunidade de menor carente. E aproveitando esse espaço eu quero aproveitar para expressar a minha gratidão ao professor Sebastião Pedroza (in memória), que me possibilitou conhecer e praticar o handebol.

NA MARCA DA CAL: Fale um pouco da sua trajetória no handebol e se ele abriu portas para você.

PA – Quero expressar que, sem dúvida, o handebol foi o meio pelo qual consegui ser inserido em um contexto social e profissional de destaque no meio esportivo. Considerando que eu tive uma origem muito pobre, assim como vários da minha época, mas foi através da modalidade do handebol que, por exemplo, fui convidado a trabalhar como professor de Educação Física.

Também não poderia deixar de falar da importância da equipe de handebol do CSU, pois, através dela, eu e os professores Mustafa Anute e José Alício, entre outros contemporâneos da época, obtivemos essa projeção. Então, quero dizer que devo muito do que sou hoje ao handebol.

Em meados dos anos de 1980, o professor Afrânio Moura recebe das mãos do saudoso craque Emilson Brasil (in memoriam) o troféu de melhor atleta de handebol da temporada. Foto/Acervo Pessoal Afrânio Moura.
Equipe de handebol da Assermurb – 1983. Zé Alcir (in memoriam), Ernandes, Magide, Zé Alício, Magide, Afrânio, Zé Alício e Raimundo Martins. Raimundo Vaz (ao fundo). Foto/Acervo Pessoal/Afrânio Moura

NA MARCA DA CAL: Você foi um militante assíduo do grupo de jovens “Liga Juvenil Experimental” na década de 1980. Fale um pouco dessa experiência e também da importância dela.

Equipe de handebol do Independência – Meados dos anos de 1980. Em pé, da esquerda para a direita: Raimundo Janelinha (in-memória), Deca, Orlando, Hernandes, Carlão, Zé Alcir (in-memória) e Magide. Agachados: Afrânio, Raimundo Martins, Amiraldo, Mustafa e Zé Vieira. Foto/Acervo Manoel Façanha

PA – Nesta época, o bairro da Estação Experimental era considerado um dos bairros de grande vulnerabilidade social. Eu e muitas outras crianças e adolescentes vivíamos nesse contexto. Lembro-me que, naquela época, tinham vários programas sociais desenvolvidos pelo governo, através da Funbesa, da Funabem e do Projeto Rondon, onde tinham como foco proporcionar atividades esportivas e culturais à nossa comunidade.

Lembro-me ainda que, mais para frente, foi implantado no nosso estado três unidades do Centro Social Urbano (CSU), sendo uma na cidade de Sena Madureira, uma outra no município de Cruzeiro do Sul e a terceira na capital Rio Branco, no bairro da Estação Experimental (área da Funbesa). A chegada desse órgão aumentou o leque de atividades oferecidas à comunidade, como as já proporcionadas pelo Projeto Rondon, com presença de agentes, inclusive, oriundos do estado do São Paulo e outras localidades do país. E, foi a partir deste contexto que percebemos a necessidade de nos organizarmos de uma forma que pudéssemos ser protagonistas nesse processo, também. Foi daí que criamos, nos primeiros anos da década de 1980, a Liga Juvenil Experimental – LJE, grupo de jovens que não tinha nenhum vínculo político ou de cunho religioso.

Colônia de Férias organizada pelo grupo de jovens da Liga Juvenil Experimental em janeiro de 1985/Acervo Pessoal/Afrânio Moura

Quero explicar neste espaço que LJE foi um grupo formado apenas por jovens, que se auto organizaram com suas reuniões semanais para debater suas pautas de ações, com seu estatuto próprio, com sua carteirinha de identificação, usando sempre o esporte e a cultura como suas principais ferramentas de inclusão social. Lembro-me ainda que neste período organizamos torneios, campeonatos, excursões, passeios, festas, encontros temáticos, colônia de férias, arraiais, olimpíadas, entre outras atividades. Mas as duas grandes referências eram mesmo o time de handebol do CSU masculino e feminino e a tradicional e campeoníssima quadrilha junina da Liga Juvenil Experimental. Então, somando tudo isso, não tenho dúvida de dizer que fomos protagonistas da nossa época, ao ponto, digo eu, de certo forma, de fazer uma revolução social na Estação Experimental.

Equipe de handebol do CSU – 1981. Em pé, da esquerda para a direita: Professor Nino (técnico), Pelé, John, Zé Alício, Magide e Raimundo Martins. Agachados: Carlão, Mustafa, Raimundo Vaz e Afrânio Moura. Foto/Acervo Pessoal/Afrânio Moura
Quadrilha junina da Liga Juvenil Experimental – Meados dos anos de 1980. Ynha, Afrânio Moura, Sonja, Lilian, Raimundo Vaz, Roberto Vaz e John Taboada. Cila (ao fundo). Acervo Pessoal/Afrânio Moura
Quadrilha junina da Liga Juvenil Experimental – Meados dos anos de 1980. Roberto Vaz, Afrânio Moura, Sonja e Ynha. Acervo Pessoal/Afrânio Moura

NA MARCA DA CAL: Você ainda muito jovem passou a ministrar aulas de educação física no Colégio Meta e acabou virando uma referência do desporto escolar. Fale, resumidamente, disso e também dos títulos.

O professor Afrânio Moura em solenidade de formatura do ensino médio, ocorrida no auditório do CSU, nos primeiros anos de 1980. Foto/Acervo Pessoal/Afrânio Moura

PA – Essa é a minha identidade e o meu orgulho: ser professor de Educação Física. Quando iniciei no Colégio Meta, eu tinha apenas 17 anos. Isso só foi possível por eu ser um atleta de alto rendimento da modalidade de handebol naquela época, associado ao fato de ser aluno do próprio colégio no período noturno. Somando esses dois fatores, certo dia fui convidado pelos professores Itamar Zanin e Evaristo de Luca para preencher a vaga de um outro professor que havia se ausentado, em 1981. Topei e fiquei mais de duas décadas no colégio.

Também quero registrar que na minha vida de educador ministrei aulas nos colégios particulares do Anglo e do Primeiro Passo. No setor público, trabalhei como professor provisório na Escola João Aguiar.

Sobre a conquista de títulos, principalmente no comando das equipes do Colégio Meta, quero dizer que isso foi muito marcante e valoroso na minha carreira de educador físico. Os bons resultados foram frutos de muita dedicação e amor ao trabalho que desenvolvia na instituição. Somando-se a tudo isso, quero explicar ainda que o Colégio Meta contava na época com grande número de alunos e isso facilitava na formação de equipes competitivas para a participação nos Jogos da Primavera, maior evento esportivo da época e com grande número de modalidades esportivas inseridas na disputa. Lembro-me ainda que, ao final de todas as modalidades, eram somadas as pontuações das escolas participantes para apontar a classificação geral dos jogos e o Colégio Meta sempre era o campeão.

Equipe de handebol da Assermurb – 1988. Carlão, Raimundo Martins, Márcio, Valdiro e Afrânio Moura. Foto/Acervo Pessoal Afrânio Moura
Time de voleibol do Colégio Meta – década de 1990. Em pé, da esquerda para direita: Afrânio, Kelly, Priscila, Cinira, Marcela, Kleysia. Agachadas: Anne, Joana Mansour, Cíntia, Marcela Fidelis e Larissa. Acervo Pessoal/Manoel Façanha
Os professor Nino (in memoriam) e Afrânio Moura durante o projeto “Rua de Lazer”, no centro de Rio Branco, na década de 1990. Foto/Acervo Pessoal Afrânio Moura

NA MARCA DA CAL: O tempo passou e senhor acabou virando gestor/secretário/coordenador de desporto do município (2007 a 2018). O que o senhor analisa de mais positivo durante sua passagem nestas pastas?

Professor Afrânio Moura fala durante atividade de entrega de material esportivo do “Esporte Comunitário”. Foto/Manoel Façanha

PA – Eu, particularmente, analiso, como de mais positivo na minha gestão ter estabelecido uma política pública de esporte e lazer para o município de Rio Branco, com alguns instrumentos de gestão, participação e de financiamento, que funcionava, inclusive, como referência nacional, seguindo a verticalização da Política Nacional de Esporte e Lazer, tendo como base as resoluções definidas na três grandes Conferências Nacionais de Esporte e Lazer. Entretanto, na prática, apresentando e executando um calendário municipal de esportes, contemplando, praticamente todas as áreas/modalidades, com destaque para o campeonato municipal de futebol denominado “Copão Comunitário”, com aproximadamente 200 equipes e mais de 4.000 atletas. Também cito outras duas atividades que considero como momentos históricos no nosso município de Rio Branco: o lançamento da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer – SEMEL e, o revezamento da Tocha Olímpica. Esses dois fatos são inesquecíveis para mim.

O professor Afrânio Moura, ao lado da esposa Cleusaní Dotto, prestigiou o lançamento do livro “Jornalismo Esportivo no Acre na era do Futebol Profissional”. Foto/Danto Freitas
O professor Afrânio Moura, então secretário da Semel, reunido com a crônica esportiva para discutir apoio ao Torneio Início 2014. Foto/Acervo Manoel Façanha
O professor Afrânio Moura, o empresário Oswaldo Dias, Mariana Klemer, o então prefeito Marcus Alexandre e a gestora esportiva Ritinha, numa edição de Copão Comunitário ocorrida na Arena da Floresta, em 2017. Foto/Acervo Pessoal Afrânio Moura.

Por fim, quero dizer que toda essa infraestrutura de espaços e equipamentos esportivos e de lazer que foram construídos, reformados e ampliados, sendo, proporcionalmente, uma das maiores do país, em termos quantitativos, foi possível pela decisão do nosso então prefeito Marcus Alexandre, que priorizava o esporte na sua gestão.

NA MARCA DA CAL: Agora, falando de eleições, o que o senhor espera dos candidatos, quando eleitos, no tocante a propostas de políticas públicas na área do desporto, pois vivemos ainda os reflexos negativos da pandemia da covid-19 e também de más gestões?

PA – Primeiramente é preciso coragem para se tomar uma decisão política de priorizar, também, como política pública, a área de esporte e lazer como um órgão específico para esta pasta, com autonomia administrativa, orçamentária e financeira. Não menos importante é \ necessidade de fazer um chamamento da sociedade civil, através de mecanismos de participação, como um Conselho Estadual de Esporte. E, para isso tudo funcionar, é necessária uma equipe comprometida, associado a um bom plano de trabalho.

NA MARCA DA CAL: Vivemos num mundo bem diferente daqueles das últimas três décadas. Crianças e adolescentes usando sem limites a tecnologia (celulares, computadores/vídeo games) e deixando de lado as atividades físicas, fato esse que vem prejudicando a saúde física e mental de parte da juventude, isso sem falar da crescente escala da violência urbana. Como educador físico, qual o conselho que o senhor daria às autoridades do país no sentido de criar políticas públicas para mudar essa realidade?

PA – Eu aconselho a criação de uma política pública de estado de esporte, lazer e cultura, entre outras, como uma ferramenta aliada para ajudar a minimizar e prevenir essas mazelas, garantindo o acesso aos espaços e equipamentos de lazer, esportivos e culturais, com atividades assistidas. Também quero dizer que apoio às iniciativas individuais e voluntárias afins da comunidade.

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