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Agosto Lilás: No Acre, a história da Gecilene inspira mulheres a romperem ciclos de dor e violência
Por Jéssica Monteiro
“Quem se ama, se liberta.” Essa é a mensagem que a acreana Gecilene da Silva Santos, 47 anos, manicure e formada em Gestão Pública, leva para outras mulheres no Agosto Lilás, mês de enfrentamento à violência contra a mulher. Sua trajetória, marcada por perdas dolorosas e pela coragem de recomeçar, se tornou símbolo de resistência e superação.
Casada por 20 anos, foi esposa, mãe e o pilar de uma família. No entanto, enfrentou duas traições conjugais, uma delas seguida do retorno do marido com um filho nos braços, fruto da infidelidade. Ferida, mas com um coração generoso, acolheu a criança como se fosse sua. Anos depois, o casamento chegou ao fim após uma nova traição.
Além da dor da separação, Gecilene enfrentou a crueldade de uma gravidez de risco. Sua filha, Eth Vitória, viveu apenas 58 dias. Naquele momento de fragilidade, ainda ouviu de pessoas muito próximas que a culpa pela morte era dela, por sofrer de pressão alta. Hoje, saudável, não precisa de nenhum medicamento, e encara sua própria vida como prova de que a fé e a força interior podem reconstruir o que parecia destruído.
Em 2021, perdeu a mãe e, desde então, assumiu o cuidado do pai. Mais recentemente, em agosto de 2025, sofreu outro golpe: teve tirado de seus braços o menino que havia criado com amor, o filho que o ex-marido deixou sob seus cuidados.
Diante de tantas perdas, poderia ter se calado. Mas escolheu diferente. Decidiu se amar. Eliminou 26 quilos, transformando não apenas o corpo, mas também a alma. Livrou-se de culpas e mágoas que não lhe pertenciam. Hoje, divorciada, Gecilene cuida de si, do pai e da sua história com dignidade.
“Ninguém precisa aceitar migalhas. Nenhuma mulher nasceu para viver calada”, afirma, com firmeza.
O Agosto Lilás, instituído pela Lei Maria da Penha, busca conscientizar a sociedade sobre a importância de romper o ciclo de violência. No Acre, campanhas vêm sendo realizadas em escolas, bairros e comunidades, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que histórias como a de Gecilene não se repitam.
Inspiração para outras mulheres
A trajetória de Gecilene é um grito de resistência. Entre dores e recomeços, escolheu o amor-próprio como forma de libertação. Hoje, representa tantas acreanas que enfrentam o preconceito, a violência e a sobrecarga da vida, mas que também carregam dentro de si a coragem para florescer.
Neste Agosto Lilás, sua história ecoa como mensagem:
Quem se ama, se liberta. E nenhuma mulher deve viver calada.