RAIMUNDO FERREIRA
Ainda baseado na obra prima ‘O profeta’, de Kalil Gibran, o professor Raimundo Ferreira escreve sobre a ‘Generosidade’
GENEROSIDADE
O ser agraciado com a dádiva de ser poeta já possui um dom especial; imaginem, então, o cidadão que é poeta e, ao mesmo tempo, filósofo. Estas são as credenciais básicas desse gênio, Khalil Gibran, que, entre outras criações, nos presenteou com a obra-prima O Profeta.
Suas interpretações sempre surpreendem por sua leitura inesperada e, muitas vezes, contrária às percepções comuns. Em sua visão, os temas mais simples assumem um contexto humanístico, embasado nas leis naturais e distanciado das interpretações corriqueiras.
No capítulo sobre a generosidade, Gibran inicia afirmando que o ato de doar não deve buscar gratidão, sacrifício ou troca. Doar, segundo ele, deve brotar de um profundo desapego, de uma aceitação plena de que tudo é apenas uma dádiva da vida. Assim, por sermos parte desse milagre da existência, temos o dever — ou melhor, o privilégio — de praticar a generosidade com todos, sem distinção e sem esperar retribuição.
Gibran nos convida a imitar a vida na Terra, pródiga em abundância: as flores oferecem sua beleza e perfume sem saber quem as admira; as árvores produzem frutos em quantidade e não se interessam por quem os colhe ou como são usados. Elas apenas cumprem sua função natural de ser generosas.
A verdadeira generosidade, portanto, não consiste em dar o que sobra, mas em dar o que o outro realmente precisa — com a mesma espontaneidade com que o vento sopra ou o sol aquece.
O autor alerta ainda que o ato de doar não deve gerar humilhação nem submissão em quem recebe. A generosidade autêntica é aquela que honra tanto o doador quanto o recebedor, unindo ambos num mesmo sentimento de elevação e gratidão à vida.
Por fim, talvez o segredo esteja em doar com equilíbrio, sem comprometer a própria sobrevivência, sem buscar reconhecimento, e com a consciência tranquila de que, ao sermos generosos, apenas refletimos a própria generosidade da vida.