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Artigo do defensor Valdir Perazzo: Coronel Francisco Miguel de Siqueira: um exemplo de reputação assassinada
Faz algum tempo que eu pretendia demonstrar como, ao longo dos anos (há mais de um século), vem sendo assassinada a reputação do meu tetra avô (especialmente na cidade da Ingazeira onde viveu), Tenente Coronel Francisco Miguel de Siqueira.
Resolvi fazer a demonstração das infâmias lançadas contra ele interpretando o que está transcrito em alguns livros, que se valeram do que está escrito no livro de Tombo de Afogados da Ingazeira, organizado pelo religioso francês, Padre Carlos Cottart.
Desde o início faço uma ressalva. As infâmias lançadas contra a memória do meu ancestral foram apenas reproduzidas por Carlos Cottart. Ele organizou documentos que encontrou quando chegou à cidade de Afogados da Ingazeira, trinta e dois anos depois da morte do Coronel. Meu tetra avô morreu em 1878 e Padre Carlos Cottart chegou em Afogados da Ingazeira em 1910.
São outros os personagens que denegriram a imagem do meu parente pela linha reta. Linhas abaixo declino os nomes dos que lançaram as infâmias contra o Coronel Francisco Miguel de Siqueira e os motivos (políticos) porque o fizeram.
Antes mesmo que Romeu Tuma Júnior publicasse o livro “Assassinato de Reputação: Um Crime de Estado”, um depoimento que deu a Cláudio Tognolli, demonstrando qual o método adotado para se destruir biografias de determinadas pessoas, constato que essa prática é antiga. Se chamava assassinato de caráter.
É uma prática que vem desde os anos 30. Consiste na divulgação pública de informação verdadeira ou falsa para destruir a reputação, o bom nome ou a credibilidade de uma pessoa, grupo ou entidade. Essas ações são dirigidas às pessoas notáveis, e ocorrem na política, nos negócios, no esporte e no mundo do entretenimento.
Francisco Miguel de Siqueira, meu tetra avô, era uma pessoa notável na comunidade em que exerceu importante liderança (Ingazeira). O livro de Tombo organizado pelo Padre Carlos Cottart faz essa constatação. É um fato! E contra fatos não há argumentos.
Foi Tenente Coronel da Guarda Nacional. Plínio Correia de Olveira, em seu livro “Nobreza e Elites Tradicionais Análogas”, afirma que a Guarda Nacional era integrada por uma elite análoga à nobreza do Império do Brasil. Foi comandante dessa força militar na cidade de Flores.
Líder do Partido Conservador, função que exerceu liderado que era pelo seu parente Monsenhor Joaquim Pinto Campos, várias vezes deputado no Império e autor de vários livros, dentre eles uma biografia de Dom Pedro II. Esse religioso, intelectual e político importante no Império fez reiterados elogios a seu parente como líder da Ingazeira.
Exerceu a função de juiz municipal e delegado. Foi contemporâneo de seu parente Espiridião de Siqueira Campos, de quem foi colega, ambos como Conselheiros, cargo que se assemelha ao de vereador na atualidade.
Exerceu importante função de autoridade sanitária durante a pandemia de cólera em meados dos anos 50, no século XIX. Sua mãe, Antônia Cunha de Siqueira, morreu vitimada pela doença em 1856.
Teve importante papel no sentido de combater os “Revoltosos do Movimento Quebra Quilos” e os revoltosos da “Revolução Praieira”. Diga-se de passagem que sempre na defesa da ordem e da legalidade. A “Revolução Praieira” tinha caráter liberal, e, portanto, era contrária ao Império do Brasil. Inspirava-se nos ideais da Revolução Francesa, de caráter extremamente anticatólico.
E não se pode negar ao Coronel Francisco Miguel de Siqueira a virtude da religião. O cemitério local da Ingazeira, construído com mão de obra escrava, teve sua total colaboração. Quem for ao templo da Igreja Católica da cidade, em uma das linhas do teto verá o nome do Coronel gravado, como testemunho de que o templo foi construído com seu esforço e de sua família.
Há muito tempo guardo uma cópia de uma escritura pública que é uma prova documental de que o Coronel Francisco Miguel de Siqueira era um Católico praticante. Consta da escritura que, como Procurador do Padroeiro São José, compareceu perante o registrador no ato em que seus parentes doaram as terras que hoje é onde está localizada a sede do município (Ingazeira).
Assinou a escritura pública como Procurador do Padroeiro São José, ato notarial em que estava presente o Missionário italiano Frei Caetano de Messina. Esse frade italiano teve importante papel em várias missões no Brasil e no Uruguai, onde faleceu. Diz o texto da escritura que se empenhou para que a doação fosse feita à paróquia.
Com certeza, o Coronel e seus familiares doadores, se sensibilizaram com a pregação do Capuchinho em favor da paz, reconciliando antigos inimigos. Aqui está a prova da catolicidade do Coronel.
E mais. Consta que o Coronel Francisco Miguel de Siqueira chegou a ter 30 (trinta escravos). Fazia questão que seus escravos fossem casados na Igreja Católica. Essa informação está bem documentada em texto do Historiador Esdras Siqueira.
Um homem dedicado à sua família. Morreu casado com Íria Nogueira de Carvalho, com quem teve numerosa prole. São seus filhos:
Tenente-Coronel Francisco Miguel de Siqueira (1801-1878)
Íria Nogueira de Carvalho (1803-1879)
Filhos:
- Agostinho Nogueira de Siqueira (1836-1856)
- Francisca Nogueira de Siqueira (1836-1856)
- Antônia Nogueira de Carvalho (1840 – …..) – na escritura da venda do Riachão seu nome consta como Antônia Nogueira de Brito
- Miguel Torquato de Siqueira Brito (1856 – …..)
- José Januário de Siqueira (Padrinho de minha bisavó Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza)
- Leopoldina Lina de Siqueira (minha trisavó). Tenho cópia do seu inventário, cujo inventariante foi meu bisavô o italiano Antonio Perazzo.
- Maria Tereza de Jesus
- Senhorinha Lúcia de Brito
- Severino Mártir de Siqueira Brito (1844-….)
- Izidro da Cruz Siqueira (1845-….)
Dito isto, vejamos agora o que ficou registrado no livro de tombo de Afogados da Ingazeira e por quem.
Vejamos também se o que se disse contra o Coronel Francisco Miguel de Siqueira se constituía em fatos graves, que pudesse macular sua biografia.
Em princípio constato que são coisas vagas. Maledicências mesmo. Não há um fato concreto, como por exemplo, um homicídio, uma tentativa de homicídio, um ato de corrupção, uma violação, uma fraude ou uma prevaricação, etc. Não. Nada concreto.
Foram infâmias lançadas, no silêncio da secretaria do templo da Igreja Católica, sem que o Coronel tivesse oportunidade de se defender. Aliás, templo da Igreja Católica que ele e sua família construíram. Transcrevo abaixo um texto contido no livro “Afogados da Ingazeira – Páginas da Sua História”, do escritor Fernando Pires, e que foi transcrito do livro de Tombo:
“O coronel Francisco Miguel de Siqueira, chefe político da Ingazeira, sempre insultava os padres que se estabeleciam na Ingazeira. Nesse dia agrediu, na Igreja, o padre João Vasco, que saiu chorando da povoação. O padre foi para o Recife, entregando a freguesia ao capelão de Afogados, padre Pedro de Souza Pereira”. O texto transcrito está na página 42.
Quem escreveu o texto acima foi o Padre Pedro de Souza Pereira. Logo adiante transcrevo a reputação do Padre Pedro de Souza Pereira, que consta também no livro de Tombo. E essa impressão sobre o Padre Pedro de Souza Pereira é do juízo do Padre Carlos Cottart. É a opinião de Carlos Cottart.
Da mesma página 42 do livro acima citado, transcrevo texto em que uma autoridade local (Juiz Municipal da Ingazeira) denuncia ao líder estadual (Governador da Província de Pernambuco) gravíssimo fato atribuído ao padre João Vasco. E aqui um fato concreto, não é uma maledicência como as que foram ditas contra Chico Miguel.
Vejamos: “Devo informar a V.Exa. que o vigário desta freguesia, João Vasco Cabral d´Algonez, em suas prédicas (sermões), feitas todos os domingos na missa conventual, vive concitando o povo à revolta e a não obedecer ao governo”.
Os motivos da divergência entre o Coronel Francisco Miguel de Siqueira e o Padre João Vasco Cabral d´Algonez eram de ordem política. O padre era a favor do movimento subversivo denominado “Quebra Quilos”. Movimento rebelde contra o Império do Brasil que o Coronel tinha, constitucionalmente e legalmente, o dever de reprimir na condição de membro da Guarda Nacional.
Agora vejamos a reputação do padre Pedro de Souza Pereira, na concepção do Padre Carlos Cottart. Eis o texto que consta à fl. 95 do livro acima citado:
“Falecia o Pe. Pedro de Souza Pereira em Afogados da Ingazeira. Seus restos mortais estão sepultados na Catedral do Senhor Bom Jesus dos Remédios. O Pe. Pedro era descuidado, e a sua administração paroquial foi negativa; nem Sacrário existia na matriz que consistia numa capela de taipa, baixa e sem estilo.
Na visita de 1896, deixou o visitador escrito no livro de Tombo observações graves e o altar mor ainda sem Sacrário e Santa Reserva; os livros irregulares, os vasos para os Santos Óleos imprestáveis, o ensino religioso nulo, a Igreja indecente por sua categoria de Matriz. E Alguns, ao reparar essa negligência, observaram que o altar não passava de balcão de negócios do vigário”.
Meu Deus… Os que se queixavam da negligência do Padre Pedro de Souza Pereira (é o que está afirmado pelo visitador) é que fazia do altar onde se celebrava a Santa Missa um balcão de negócio.
O padre João Vasco instigava à população a se revoltar contra o Governo Constitucional do Império. Adversário político do Coronel Chico Miguel.
O padre Pedro de Souza Pereira era líder do partido liberal. Partido de inspiração nas ideias da revolução francesa, extremamente anticlericais. O Coronel Chico Miguel líder do partido conservador. Adversários políticos.
Há informações (registrei em outro artigo), de que foram anuladas eleições presididas pelo Padre Pedro de Souza Pereira por suspeita de fraude.
Ora, ora! Contra o Coronel Francisco Miguel de Siqueira esses dois padres nada disseram, de concreto, que pudesse atingir sua reputação. Apenas maledicências, sem que ao Coronel fosse dado o direito de defesa.
Conclusão. Ao longo desses últimos 150 (cento e cinquenta) anos, o Coronel Francisco Miguel de Siqueira teve sua reputação assassinada, sem um fato concreto, por dois padres contra os quais haviam fatos verdadeiros de suas péssimas reputações, e fatos constatados por autoridades civis e eclesiásticas.
Valdir Perazzo Leite