Connect with us

GERAL

Artigo do defensor Valdir Perazzo Leite: Francisco Miguel de Siqueira e o Inglês da Volta

Publicado

em

Faz uns cinco ou seis anos que recebi como regalo de uma descendente de Francisco Ricardo Nobre (O Inglês da Volta), o livro intitulado “Francisco Ricardo Nobre, O Inglês da Volta, e sua Descendência”, escrito pelo professor Yony Sampaio, em coautoria com Geraldo Tenório Aoun, editado pelo Centro de Estudos de História Municipal – CEHM, edição de 2003. Há uma nova edição do livro. Pretendo adquirir.

Li com muito gosto a obra genealógica do ilustre professor Yony Sampaio. Constatando que os descendentes do Inglês da Volta contraíram casamentos com vários parentes meus (Leite, Vasconcelos, Godê e Siqueira), fiz uma segunda leitura marcando aquelas passagens que me chamaram mais a atenção.

Essas leituras que fiz da obra se deram já faz quatro ou cinco anos. Mas os fatos relatados no livro estavam bem presentes na minha memória.

À medida que pesquisava sobre Francisco Miguel de Siqueira, no intuito não só de fazer sua defesa (restabelecer a dignidade de sua biografia), mas também no escopo de resgatar a memória da formação histórica do Vale do Pajéu, a partir da cidade mãe (Ingazeira), fiquei matutando: O Inglês da Volta foi homenageado com um livro da sua genealogia, que, ao fim ao cabo, é uma bela biografia!  Repito. Li com gosto.

E o Inglês da Volta deixou uma numerosa descendência que hoje se estende por vários Estados. Grandes personagens do Brasil descendem dele. O Cardeal Arcoverde, por exemplo. E muitos outros personagens ilustres.  Uma homenagem merecida, portanto.

No decorrer dessa semana voltei a revisitar o livro. Consultei-o novamente. Li especificamente a apresentação, a introdução e o que foi dito sobre a biografia de Francisco Ricardo Nobre (O Inglês da Volta).

O que foi escrito sobre a biografia do Inglês da Volta limita-se a umas quatro ou cinco páginas. Mesmo a família  na qual ingressou pelo casamento, não há certeza de qual era a linhagem. Sobre isso, o Prof. Yony Sampaio se vale do testemunho de Ulisses Lins de Albuquerque, extraído do livro “Um Sertanejo e o Sertão”. Disse o professor:

E até um inglês (embarcadiço que chegando ao Recife, com 11 anos, internou-se pelo interior) surgiu no lugar da Volta, de Afogados da Ingazeira, e dali não voltou mais: ligou o seu destino ao de uma sertaneja, da família Siqueira Cavalcanti (conforme uns me informaram, e, segundo outros, a uma descendente do mameluco Amorim, que provinha dos índios da serra de Jabitacá).  Seu nome era Richard Breitt, traduzido logo pela gente da terra como Ricardo Brito, e pelo que me informaram, sua mãe era holandesa”.

Pelo depoimento de Ulisses Lins de Albuquerque, o Inglês da Volta casou-se com uma Siqueira. Poderia até ser parenta de Francisco Miguel de Siqueira, já que os Siqueira do Pajeú descendem (todos) do Mestre de Campo Pantaleão Siqueira Barbosa. Mas, mesmo relativamente à linhagem da mulher com quem se casou, não há certeza. Yony Sampaio admite a hipótese de que sua mulher poderia ser da família Amorim.

O que se sabe sobre a biografia do Inglês da Volta é com base na tradição oral, transmitida pelos netos, diz Yony Sampaio. Não há certeza de dados sobre sua biografia, mesmo quando por escrito. É a opinião  do autor do livro acima citado:

Mas, afinal, que documentação há sobre o inglês. Os livros eclesiásticos de Ingazeira começaram em 1846. Os livros de Flores iniciaram em 1834, apesar de ser vila desde 1812. Nestes livros aparece repetidas vezes o casal: FRANCISCO RICARDO NOBRE E THERESA DE JESUS MARIA. Em um único registro, de 1842, é escrito Ricardo Nobre Cavalcanti, embora possa ser o filho de mesmo nome, que já era rapaz”. 

Mesmo o que está escrito em documentos sobre o Inglês da Volta, como relativo à sua biografia, não se pode afirmar com certeza. É o que concluiu Yony Sampaio no texto acima. Sobre a existência  histórica do personagem no Sertão do Pajeú (na Volta), não há dúvida. Deixou uma imensa e ilustre descendência. Dúvidas existem sobre sua biografia, dada a carência de documentos sobre ele.

O que quero concluir? O Inglês da Volta, face a diligência do professor Yony Sampaio, somando esforços de pesquisa com seu parente Geraldo Tenório Aoun, terminou por nos brindar  com uma genealogia do personagem histórico que não deixa de ser uma biografia,  também.

Uma belíssima contribuição para o regate da história do Vale do Pajéu, onde viveu Ricardo Nobre. Recomendo a leitura para todos que se interessam pela história das famílias que ocuparam à região.

Em 1999, já morando em Rio Branco, no Estado do Acre, reuni informações sobre os descendentes do meu bisavô Antônio Perazzo, e as compaginei no livro que intitulei “Da Itália Para o Brasil: Os Perazzo em Pernambuco”. O livro foi feito em coautoria com Elisa Perazzo, Sandra Perazzo e Rossini Corrêa.

Avançando com a pesquisa sobre o meu tetravô Francisco Miguel de Siqueira, cheguei à conclusão de que era dele que deveria ter partido para fazer a genealogia da minha família pelo lado materno, e não de Antônio Perazzo.

Antônio Perazzo era o imigrante (adventício) pobre e analfabeto que se projetou em razão do casamento com a neta do Coronel Francisco Miguel de Siqueira. Este é que teve um papel importantíssimo na vida pública de Ingazeira, cidade mãe das cidades do Pajéu.

Para o resgate da memória da formação histórica das cidades do Vale do Pajéu, a família importante no processo foi a família Siqueira, de Francisco Miguel de Siqueira e de seu sogro Agostinho Nogueira de Carvalho, meu penta avô.

Mas, por que o paralelo com a biografia do Inglês da Volta? Ora, sobre o Inglês da Volta, pelos autores acima citados, se escreveu (merecidamente), um livro genealógico que vem a ser também a biografia de Ricardo Nobre.

Francisco Miguel de Siqueira ocupou vários papéis públicos (e tudo documentado). Sua biografia é de uma atividade pública intensa.  Um importante personagem da vida pública da Ingazeira, como de resto do Vale do Pajéu.  Repita-se. Tenente Coronel da Guarda Nacional. Não preciso falar mais da importância dessa patente, e da instituição, como uma elite análoga à Nobreza. Elite no sentido de maior dever para com a comunidade.

Comandante da Guarda Nacional em Flores do Pajéu. Nessa condição lutou na Revolução Praeira, na defesa do Império do Brasil, vez que jurou lealdade ao Imperador e a Constituição de 1824. Lutou contra os revoltosos de “Quebra Quilos”, isto é, em defesa da legalidade. Líder do Partido Conservador. Juiz Municipal. Delegado. Grande proprietário rural. Procurador do Padroeiro São José da Ingazeira. Católico que muito contribuiu para a construção do cemitério local e da Igreja Matriz.  Deixou também, como o Inglês da Volta uma numerosa prole de 10 (10) filhos.

Fazendo-se uma comparação entre as duas biografias, e se cotejando os serviços prestados por cada um deles à formação histórica das cidades do Pajéu, maior razão seria que Francisco Miguel de Siqueira já tivesse sua vida compaginada em um livro.

Com Íria Nogueira de Carvalho, sua esposa (1803-1879), gerou os seguintes filhos: Agostinho Nogueira de Siqueira (1836-1856); Francisca Nogueira de Siqueira (1836-1856); Antônia Nogueira de Carvalho (1840 – ); Miguel Torquato de Siqueira Brito (1856 – ); José Januário de Siqueira; Leopoldina Lina de Siqueira; Maria Tereza de Jesus; Senhorinha Lúcia de Brito; Severino Mártir de Siqueira Brito (1844 -) e Izidro da Cruz Siqueira.

Aos descendentes de Francisco Miguel de Siqueira se impõe o dever de mandar escrever, por um competente escritor, sua rica biografia. Pelo menos um livro genealógico sobre todos os seus descendentes.

Chico Miguel, como era conhecido meu tetra avô é uma biografia à espera de um escritor!

Muitas dissertações de conclusão de cursos de História já deveriam ter sido escritas sobre ele, como forma de resgate da memória da formação histórica das cidades do Pajéu!  Porém, até agora, nada escrito sobre ele.

A maledicência que ficou registrada sobre ele em livros eclesiásticos, sem que tivesse tido direito de defesa, por dois padres adversários políticos (um liberal; ideologia anticlerical, portanto, e outro defensor do movimento subversivo Quebra Quilos; adversário do Governo Constitucional Monárquico), prejudicaram – não apenas à memória de Francisco Miguel de Siqueira  – mas a própria  História do Vale do Pajéu.

Além da maledicência de que foi vítima o Coronel Francisco Miguel de Siqueira, não sei o motivo, mas se constata que personagens fora da lei, como regra, despertam maior interesse por suas biografias do que os que estiveram na defesa da lei e da ordem. É o caso do Coronel.

Antônio Silvino, que descendia dos pais do Coronel Francisco Miguel de Siqueira – era tri neto de Miguel Ferreira de Brito e dona Antônia Cunha de Siqueira), sobre ele existem várias biografias escritas, reportagens, documentários (não me recordo se há filmes).  Nada sobre o Coronel! Sua biografia  perdeu-se na noite da História!

O escritor Leonardo Ferraz Gominho, em seu livro “MANOEL NETO no rastro de LAMPIÃO”, constata o paradoxo que constatei entre a trajetória de Francisco Miguel de Siqueira e a de seu parente Antônio Silvino. Ele se estarrece ao confirmar que Lampião só foi menos biografado do que Che Guevara, e que, sobre Manoel Neto (defensor da ordem e da lei), quase nada se escreveu.

Vou transcrever o que disse o escritor Leonardo Ferraz Gominho, sobre à questão, porque é um dado interessante da nossa mentalidade sertaneja:

Ainda no período áureo do cangaço lampiônico,  mais  precisamente no ano de 1926, Érico Almeida concebia o primeiro trabalho conhecido inerente à vida e ao tormento que o “famigerado” Virgulino Ferreira da Silva – o Lampião – afligia ao sertão nordestino. Quase cem anos depois e centenas, talvez milhares, de obras publicadas, este se tornaria o brasileiro mais biografado de todos os tempos e o segundo em toda América Latina, perdendo apenas para o famoso guerrilheiro e revolucionário “Che” Guevara.

Curioso e mesmo estranho é que, até o presente momento, aquele que notoriamente foi, não o seu maior inimigo, mas, com certeza, seu maior antagonista, jamais tenha sido objeto de qualquer trabalho específico, figurando apenas em capítulos resumidos e em episódios esparsos de obras generalistas”.

É uma reflexão que precisamos fazer. Qual a razão dessa preferência? Olavo de Carvalho em um artigo intitulado “Bandidos & Letrados”, examina às causas pelas quais formamos essa mentalidade de devotar maior simpatia por personagens que agiram “fora da lei”.

Diante dessa conjuntura, existem temores das autoridades da cidade da Ingazeira até em discutirem a História do município, sob o ângulo do perfil biográfico de seu mais ilustre personagem do século XIX!

O livro de Yony Sampaio está organizado em capítulos que se referem a cada um dos 12 filhos do Inglês da Volta. Nós, descendentes de Francisco Miguel de Siqueira poderíamos organizar sua genealogia em capítulos; um capitulo para cada um dos seus 10 filhos.

O livro que organizei da minha genealogia só contemplou os descendentes da minha trisavó (filha de Francisco Miguel de Siqueira), Leopoldina Lina de Siqueira.

É um trabalho muito significativo! Descobrir os parentes dos outros 09 (nove) filhos de Francisco Miguel de Siqueira. Só conheço os Perazzo como seus descendentes.

Uma bonita pesquisa a ser feita! Mãos a obra!

Valdir Perazzo Leite

 

Continue lendo

EXPEDIENTE

O Portal Acrenews é uma publicação de Acrenews Comunicação e Publicidade

CNPJ: 40.304.331/0001-30

Gerente-administrativo: Larissa Cristiane

Contato: siteacrenews@gmail.com

Endereço: Avenida Epaminondas Jácome, 523, sala 07, centro, Rio Branco, Acre

Os artigos publicados não traduzem, necessariamente, a opinião deste jornal



Copyright © 2021 Acre News. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por STECON Soluções Tecnológicas