ARTIGO
Bolsonarista vota em Bocalom, Lulopetista vota em Marcus; Fora disso, é trairagem e oportunismo
Valterlucio Bessa Campelo
Com as convenções municipais, foi dada a partida na campanha eleitoral municipal. Com times e treinadores em campo, agora é com o eleitorado e, obviamente, com as campanhas. Os partidos e coligações escolheram seus candidatos, estabeleceram suas alianças visíveis e as invisíveis, alguns acordos foram feitos à luz do dia e outros no vestiário. Os times vão à caça do eleitor.
Com dois candidatos puxando a fila segundo as últimas pesquisas, e outros dois tentando um lugar ao sol, o cenário na capital não parece deixar muitas dúvidas. Entre Bocalom, do PL, e Marcus Alexandre ex-PT no MDB, quem errar menos, ganha. Até aqui ambos tem seguido uma estratégia que não deixa dúvidas. Bocalom se coloca claramente como o representante da Direita e o Marcus tenta em vão disfarçar seu DNA esquerdista, embora suas companhias, o passado, o presente e o futuro sejam evidentes.
Venho há temos chamando a atenção para isso que, a rigor, é o que mais diferencia os candidatos, ou seja, a posição ideológica de cada um. Duvidam? Acompanhem os programas dos candidatos e verão praticamente a mesma coisa, as mesmas alternativas, os mesmos compromissos, os mesmos temas. Claro, afinal, estamos tratando da mesma cidade e, considerando que a realidade se impõe, estranho seria se os candidatos tivessem soluções milagrosamente diferentes para os mesmos problemas.
Numa disputa local, de cidades pequenas e médias, dado que os problemas são todos conhecidíssimos, assim como as soluções e a crônica carência de recursos, haverá muito pouca diferenciação entre os programas dos candidatos. Outro dia dei muitas risadas vendo na TV um velho conhecido falando das faculdades intelectuais de seu candidato, de sua criatividade, do prestígio ao planejamento e sensibilidade em relação aos problemas da cidade etc., etc. Ora, ora. Há décadas temos os mesmos problemas que apenas adquiriram amplitude e intensidade facilmente metrificadas assim como suas soluções. Se há alguma nesga de razão na fala miserável de que eleição municipal é como a de síndico, é que assim como num condomínio, todos sabem o que fazer.
O que muda mesmo é justamente o perfil ideológico dos candidatos. Enquanto Bocalom se afirma o tempo todo como Bolsonarista e tem no seu entorno partidos evidentemente relacionados à direita no espectro político, Marcus é lulopetista, ou seja, seu entorno, assim como seu histórico é de militância de esquerda. Enquanto Bocalom acena para 2026 com o apoio ao candidato Bolsonarista (se não for o próprio Bolsonaro), o lado do petemedebista garante apoio ao representante do lulopetismo (se não for o próprio Lula). No fim das contas, Bocalom é Bolsonaro e Marcus é Lula.
Alguns analistas, normalmente a soldo da “Agência de Pescadores do Eleitor Xucro”, defendem a exclusão da ideologia do debate eleitoral, o que seria a instalação definitiva da miséria política. Ora, o povo tem que saber que além daquele sorriso e da linguagem corporal treinada pelo marqueteiro, os partidos do candidato da esquerda votam em Brasília a favor do aumento de impostos, da censura, da liberação do aborto em qualquer fase de gestação, da descriminalização das drogas, do desencarceramento de criminosos, das saidinhas, do desarmamento civil, da adoção da ideologia de gênero nas escolas e assim por diante. Por que um candidato esconderia isso de seus eleitores a não ser para enganá-los?
Do mesmo modo, o outro candidato, de direita, cujos partidos apoiadores votam em defesa da vida, da família, da propriedade, do armamento civil, da prisão de qualquer traficante, da liberdade etc., precisa falar disso. Por que um candidato de direita esconderia isso de seu eleitor? Não faz sentido dizer que por causa do buraco na rua não se pode falar sobre a visão de mundo que o candidato possui. Pode e deve. Cada um que explique porque sua coligação defende esta ou aquela pauta.
De última hora, sabe-se lá por quais motivos, embora não seja proibido desconfiar, o deputado Roberto Duarte, presidente do PR, ex-Bolsonarista, resolveu aderir ao bloco lulopetista. Ele que na vinda do Bolsonaro ao Acre este ausente da programação, apresentou desculpas esfarrapadas, risíveis, inverossímeis, do tipo que só engana se o freguês for muito abestado. Oportunamente esmiuçarei este assunto, por enquanto fica exposta e vergonhosa contradição que, acredito, lhe será cobrada muito duramente pelos eleitores que lhe restarem. As eleições de 2026 estão logo ali e, certamente, o eleitor de direita e o próprio Bolsonaro lembrarão de que lado ele esteve e com quem se abraçou em 2024.
Outro fator digno de nota é a estranha relação que alguns possuem com seus apoiadores e financiadores. Por que cargas d’água o candidato da esquerda esconde suas companhias e lideranças, sendo elas de importância vital para seus partidos? Por que o lulopetismo/vianismo não deu as caras na convenção do PTMDB? Cadê a Marina Silva? Por que a cor vermelha sumiu dos palanques? Por que o Lula não apareceu numa Live apoiando seu candidato? Como explicar tanta coisa escondida?
O eleitor deve estar assistindo o pontapé inicial dessas eleições achando que tem candidato tão mentiroso quanto o chefe supremo, ou seja, um farsante que faz alianças inexplicáveis e esconde na cara dura seus verdadeiros apoiadores. Essa pantomima certamente será desmascarada no curso da campanha, esperemos que o povo não se deixe enganar como no passado pela farsa vermelha.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS e em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro de contos mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail valbcampelo@gmail.com.