ESPORTE
CIEC, antigo campo do Maracutaia, será reinaugurado neste mês
DA REDAÇÃO/NA MARCA DA CAL
Nos últimos anos da década de 1970 surgia, no então bairro periférico da Estação Experimental, na capital Rio Branco, o campinho de terra batida apelidado pelos seus atores de Maracutaia.
O espaço físico faz parte hoje do Centro Integrado de Esporte (CIEC), que passa por ampla reforma. A obra está orçada no valor de R$ 1,8 milhão – uma fonte comentou que, além desse valor, foi feito ainda um aditivo de R$ 600 mil para a finalização das obras) e os recursos foram provenientes de uma emenda parlamentar do ex-deputado federal e hoje senador da república Alan Rick (União Brasil). Os trabalhos de revitalização do espaço físico estão sendo realizados na quadra poliesportiva, na sala de artes marciais, no campo de futebol (grama esmeralda, drenagem, alambrados, iluminação, arquibancadas e rede de proteção), no prédio administrativo e, ainda, no estacionamento, entre outros espaços.
As obras do Centro Integrado de Esporte (CIEC) estavam programadas para serem inauguradas no mês de fevereiro, conforme anunciou o senador Alan Rick durante uma agenda com desportistas ocorrida no mês de outubro de 2023, no hall de entrada do estádio Florestão. O político comentou ainda naquela oportunidade que o CIEC seria chamado de complexo esportivo “Airton Araújo”, numa homenagem ao estudante de medicina que era frequentador assíduo do espaço físico, falecido há mais de uma década. O personagem era irmão dos empresários Adem e Aldenor Araújo (Grupo Arasuper).
Conforme informações oriundas da comunidade do bairro Estação Experimental, o novo espaço físico do CIEC está quase pronto e tudo indica que será entregue aos moradores ainda na primeira quinzena deste mês, após várias fiscalizações das obras por parte de alguns líderes comunitários e a algumas visitas do próprio senador Alan Rick. No entanto, alguns moradores ainda prometem buscar entendimento com empresa que venceu a licitação das obras para a melhoria do sistema de iluminação do campo e da quadra do CIEC.
Em conversa com a nossa reportagem, alguns moradores do bairro agradeceram a sensibilidade do senador Alan Rick em atender uma antiga reivindicação da comunidade do bairro da Estação Experimental ao destinar uma de suas emendas para a recuperação Centro Integrado de Esporte (CIEC).
Surgimento do campinho do Maracutaia
Numa viagem na história, ficou evidente que o campinho do Maracutaia surgiu da necessidade de mais um espaço físico para a prática esportiva no bairro da Estação Experimental, principalmente para a garotada carente e exposta à vulnerabilidade social, apesar da administração do espaço, à época, relutar para que o local, de propriedade da Fundação do Bem Estar Social do Acre (Funbesa), não se transformasse num campo de futebol, pois alegavam que dentro do espaço físico já existia uma quadra poliesportiva e parte do terreno seria para a construção na nova sede do órgão. Porém, prevaleceu a vontade dos moradores e o campinho de terra batida passou a ser uma realidade e ainda uma ferramenta de inclusão social e de combate às drogas. Digno de registro é que os responsáveis pela sua criação adoravam futebol e eram trabalhadores com fome de justiça social e muitos deles eram adolescentes/crianças.
Um desses personagens era o saudoso Sr. Osmar Correa, pessoa carismática e de coração enorme. Um retirante cearense e pequeno proprietário de uma padaria que um dia, inclusive, chegou a ser um dos acertadores num teste da Loteria Esportiva, isso na década de 1970. Foi ele que criou o time mirim do São Paulo. A equipe era composta pelos seus três filhos: Pelé, Nem e Tuquinha, entre outros garotos.
As competições e outras histórias
E a paixão do Sr. Osmar e de outros abnegados pelo futebol do bairro da Estação Experimental, como o Sr. Dário D’Avila (Santa Cruz) e o Cosmo (Flamenguinho), foi suficiente para criarem inúmeras competições esportivas no Maracutaia, principalmente nas categorias de base.
A empolgação era tanta que o Sr. Osmar passou, ao lado de Sebastião Cândido, a narrar os jogos de uma cabine improvisada no tronco de uma seringueira, com o som sendo transmitido por um alto-falante instalado acima da cabine. Foi lá dessa cabine que o então cronista esportivo Roberto Vaz teve sua primeira experiência como narrador.
Com a chegada do saudoso professor Nino, então atacante do Juventus, no início dos anos 1980, para coordenar o setor de desporto da Funbesa, as competições ganharam força. Santa Cruz e Flamenguinho, São Paulo e dezenas de equipes dos bairros adjacentes passaram a disputar competições animadas num dos principais celeiros de atletas da base do futebol acreano.
Entre inúmeras histórias marcantes daquele celeiro de craques, uma delas dizia que o atleta participante deveria ter estatura de, no máximo, 1m60 (existia até mesmo uma vara para medir a estatura dos atletas). O regulamento deixava brecha sobre idade e o que houve foram inúmeros baixinhos veteranos em campo. Magide, Leco, Tancredo e Afrânio, entre outros, isso sem falar de um goleiro de quase 40 anos, à época, motorista de ônibus.
Com a fama adquirida, o Maracutaia passou a ser um dos campos de pelada mais requisitado de Rio Branco a partir dos primeiros anos de 1980. Com isso, não demorou para a criação do “Peladão da Funbesa”, competição organizada pelo saudoso professor José Aparecido Pereira dos Santos (Nino) e sua equipe da coordenação de desporto da Funbesa: Mustafa Anute, José Alício e Sônia Ferreira, entre outros.
A competição virou febre e, reunia, a cada ano, cerca de 40 equipes ou mais de diversos bairros da capital Rio Branco, mas viria a desaparecer nos primeiros anos da década de 1990. No entanto, digno de registro era a qualidade técnica da maioria das equipes, muitas delas recheadas de jogadores dos grandes clubes acreanos como: Antônio Júlio, Zito, Sabino, Carioca, César Limão, Delcir, Vidal, Oton Sales, Nelson Sales, Fran, Paulinho Rosas, Ilzomar Pontes, Ely, Mariceudo, Antônio da Loteca, Neco, Klowsbey, Maurício Generoso, Chicão Brígido, Waltinho, Magide, Zé Gilberto, Léo Rosas, Rozier, Redson, Nei Cordeiro, entre outros.
Os jornalistas Raimundo Fernandes e Roberto Vaz, na época, chegaram a destinar grande espaços nos seus veículos de imprensa aos torneios ocorridos na Funbesa.
O jornalista esportivo Manoel Façanha lembra que jogou cinco “Peladões” adultos no Maracutaia: Monark (1987), Escola Lindaura Leitão (1988), Funbesa (1989), Araújo (1990) e Estação (1991), mas o máximo onde conseguiu chegar foi à disputa de uma quarta-de-final com a camisa do time colegial. Naquela partida, a equipe do Lindaura Leitão perdeu para o Mercantil Araújo, de César Limão, Waltinho, Chicão Brígido & Cia, por 2 a 1. E, ainda, pelo time da escola, segundo ele, chegou a figurar entre os artilheiros, inclusive, à época, houve um registro fotográfico de Francisco Chagas, então fotógrafo do jornal O Rio Branco.
Também naquela mesma época, ocorria, paralelamente as competições adultas, os campeonatos da categoria infantil. Santa Cruz, São Paulo, Flamenguinho e Funabem/Mascarenhas estavam entre as principais equipes, logo após surgindo o Volta Redonda (1983) e o Vasquinho da Estação (1984). No primeiro (Voltaço), o qual o empresário Adem Araújo e o jornalista esportivo Manoel Façanha faziam parte, acabou ficando na terceira posição, após perderem a vaga na decisão no tapetão, mas ajudaram a protagonizar uma das maiores zebras do torneio, ao eliminar durante as semifinais o Santa Cruz, de César Limão, o Pelé, & Cia. No segundo, equipe formada pelos jogadores Mui, Grande, César Limão, Renísio Vidal, Pastor Carlos, Augusto, Gil, Nabor Sales, Manoel Façanha, Jonas e outros, ao comando do técnico Mustafa Anute, venceu na decisão extra o Mascarenhas/Funabem, uma equipe de muita qualidade e liderada pelo Rei Artur, na temporada de 1984.
No mês de dezembro de 1984, com o assassinato do presidente do Vasquinho, o comerciante José Gomes de Freitas, o Zequinha, o time desapareceu. O jornalista Manoel Façanha lembra que, após a morte do dirigente, grande parte do time estourou a idade na categoria infantil e, após um convite, ele aceitou jogar na equipe da Funabem, onde conquistou o seu bicampeonato, após vitória nas penalidades sobre o São Cristóvão/Floresta. Ary, Timbal, Zé Carlos, Façanha, Kiko, Cabecinha e Beto Seringueiro, entre outros nomes, faziam parte do elenco campeão. O goleiro Ary, hoje militar da Banda de Música da PMAC, chegou, inclusive, anos mais tarde, a vestir a camisa do Atlético/AC.
Origem do apelido de Maracutaia
O leitor deve estar perguntando: por qual o motivo o campinho da Funbesa, também ficou conhecido pelo apelido de “Maracutaia”. Segundo o jornalista Raimundo Fernandes, o motivo estaria associado ao fato de algumas competições terem iniciado, mas jamais terminadas devido às “brigas” entre os dirigentes de clubes participantes. Outra versão para o apelido, segundo o ex-atleta César Limão, teria sido uma escolha pessoal do Sr. Osmar, isso quando o campinho ainda estava em construção.
O certo é que o campinho da Funbesa ou Maracutaia, como queiram chamar, contou um dia com a presença física do lendário Mané Garrincha, quando este participou de uma agenda da extinta LBA, em 1979. Garrincha não jogou, mas esbanjou simpatia e ainda posou para inúmeras fotografias, uma delas com a equipe do Farinha.
Os grandes esquadrões
Entre as grandes equipes que passaram pelo campinho de terra batida da Funbesa podemos citar: Santa Cruz, Flamenguinho, São Paulo, Vasquinho, Funabem, Sabenacre, Liga Juvenil Experimental, Unidos da Estação, Fama Serraria, Mascarenhas, Mercantil Araújo e Os Impossíveis. Todas elas marcaram época e eram recheadas de bons jogadores.
Outras imagens e recortes de jornais da história do Maracutaia