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COLUNA DA RAFAELA VILAÇA — Já fui pra praia num Passat
Já fui pra praia num Passat
Sabe aquele dia que você se dá conta de que o tempo passou?
Num fim de semana, calorento, passear na praça é uma boa opção para tirar as crianças de casa e passar calor em outro lugar…
Mas, o que fazer quando a praça está lotada de carros, cada um mais lindo que o outro? – Apreciar!
Tinha Fusca, Rural, Gol Quadrado, Variant, Fiat 66, Brasília e outros clássico. Era uma memória atrás da outra ouvida a cada carro avistado. Muitas conversas entre amigos revelavam o saudosismo. Meu avô tinha uma Variant; o primeiro Versalhes da cidade foi do meu tio; meu pai tinha uma Caravan dessas; o primeiro carro da minha prima foi um Fusca; meu primeiro carro foi um Santana quadrado… já fui pra praia num Passat 85.
A feira intitulada ‘Feria de Carros Antigos’ – foi aí que caiu a ficha: Antigo!
Antiga eu??? E todos os adultos que se encontravam ali naquele lugar. Cada um tinha uma história com um daqueles modelos emblemáticos da nossa infância.
O ano era, vamos pular essa informação, saindo de Minas Gerais para Guarapari, no carro da minha tia, a fita K7 reproduzia What’s up de 4 non Blonds e Requebra do grupo Olodum numa frequência alucinante. Eram horas virando a mesma fita de um lado para o outro. Quando muito, num ponto de parada para esticar as pernas e tirar água do joelho, ouvir a parada de sucesso das estações de rádio cidade a cidade pelo caminho era um alívio aos ouvidos… Que saudade!
De volta à praça, um barulho familiar roubou a cena. Um Opala 85 tirou o fôlego de muitos meninotes que sequer conhecem o poder daquela máquina. Um V8 – 4.1 conservado roncando de um lado e do outro um Fusca 69 com o escapamento soltando bum, bum, bum a cada momento, com um ritmo próprio capaz de abrir muralhas à sua frente. O ritmo avisava quem brincava na rua de Bets, e só quem viveu sabe o desespero que é correr para tirar as latas de óleo Soya do caminho, pois o carro do dono do mercadinho do bairro já estava a dobrar a esquina.
O fato é que o tempo passou. Já somos os velhos que compravam aqueles carros e levavam os filhos para a escola. As tias, que quando íamos fazer trabalho em grupo na casa do colega, serviam biscoitinhos e bolos com leite e Baré. Os tios das bancas de jornais que brigavam com a garotada que pegavam os Gibis e ficava lendo uma página atrás da outra sem pagar. Já somos as senhorinhas ou senhorzinhos que gritavam da janela – Eita, meninos da peste! Vou contar pra sua mãe! – quando tocávamos as campainhas e saíamos correndo para atrás dos muros e rindo em bando… bons tempos!
Procurei por alguns minutos um DeLorean, mas não tinha! Então, na verdade, não pousamos neste ano por acaso, não viemos de ‘De Volta para o Futuro’, vivemos até então, dia após dia.
Aquele Passat fez muitos despertarem pra isso: o tempo passou, somos antigos! Fazer o quê, né? Espero que isso também nos desperte para não ter uma vida no piloto automático. Sejamos, a partir de agora, os motoristas, e não as crianças do banco de trás. Se preciso for, pegue o retorno mais próximo, busque os sonhos daquelas sonecas no banco sem cinto de segurança que não foram realizados e realize. Não espere para dirigir sua vida quando na feira de carros antigos estiver um HB20 em exposição.