COLUNA DO EVANDRO Jorge Viana, a “amante argentina” da campanha em Rio Branco

A metáfora da “amante argentina” não tem um autor definido. Nelson Rodrigues usou, numa fila longa de filósofos, escritores e dramaturgos que também se apoderaram dessa alegoria para falar da licenciosa ‘senhora’ com a qual só é possível se encontrar na penumbra da noite. Seria um desperdício não avaliar a situação do ex-todo-poderoso Jorge Viana, o dono do PT no Acre, empregando outras metáforas. Ele é, definitiva e constrangedoramente, a amante Argentina da campanha eleitoral na qual se meteu seu próprio partido, num conluio com MDB, PCdoB e o PV, com objetivo de tentar volta à ribalta.

Na última sexta-feira, 16, a rigor, iniciaram-se os 45 dias mais inconvenientes da vida pública de Jorge Viana, a quem um dia o Acre se curvou e cuja volta ao protagonismo pode acontecer. A política possibilita. Lula voltou das cinzas, Flaviano foi ressuscitado no Acre, apenas para citar dois exemplos. Mais sim, faço aqui uma ressalva: não estou me referindo ao homem, ao engenheiro, ao empreendedor do café, pai, avô, Jorge Viana, e sim do homem público, é bom que fique claro, afim de evitar caracterização de richa pessoal. Cito o detentor de cargo público, o ex-governador, ex-senador, sobre quem a sociedade pode e deve fazer os mais liberados questionamentos.

Pois bem, dona Itelvina, esse Jorge Viana que um dia deu autógrafos e que, vez ou outra, passava carão em seus auxiliares em público, entre eles o atual candidato a prefeito dele, Marcus Alexandre, está sob um propósito humilhante, o de não aparecer em público com seu próprio candidato. Desgastado na opinião pública, Viana só poderá dar pitacos na campanha depois da última agenda do dia, já noite adentro. A amante Argentina, muita usada pelo Nelson Rodrigues, pelo Ancelmo Góis, vezes outras por Narciso Mendes aqui no Acre, perde para o nosso Viana. A metafórica personagem as vezes amanhecia com o seu Casablanca, Viana amanhece na Apex, disfarçado.

Esses dias, numa cena maltrabalhada, o candidato a prefeito emedebista/petista Marcus Alexandre, em entrevista em um outro canal, espinafrou, disque, seu ‘criador’. Constrangido, com pouco sangue nos lábios, para chancelar a opera bufa, disse que Jorge Viana só viaja, só pensa no Brasil, alguma coisa assim, para tentar passar a ideia de que seu guru o abandonou. A cena foi maldirigida, Marcus. Para os entendedores…

Jorge Viana é vaidoso, sempre foi. Já tratorou situações semelhantes, quando precisou ser humilde. Os melhores analistas da paróquia não sabem dizer até quando ele vai aguentar isso, essa humilhação pública. Ter que ser rejeitado de público, mesmo numa encenação, sendo útil apenas nos bastidores, é ó do borogodó, sobretudo para um narcisista. Essa humildade, até hoje, só Maurí Sérgio teve, quando percebeu que estava mal na opinião pública e topou se esconder para não prejudicar a eleição de Flaviano Melo, em 2000.

Nossa “amante Argentina”, a rigor, faz parte de um time de petistas que “largou” Marcus Alexandre a míngua, coitado. Marina Silva, Tião Viana, e alguma outras figuras mais locais não vão ao comício dele, nem às carreatas e passeatas. Como o próprio Jorge Viana disse em entrevista à TV Gazeta, a eleição de Marcus Alexandre em Rio Branco será importante para 2026, quando, passado todo esse constrangimento atual, caso a população devolva a prefeitura ao petista/emedebista, eles poderão estar todos juntos outra vez, reorganizando a frente popular, seguramente com outro apelido.

É o jogo da política, muito bem caracterizado pela fala profética do atual vice-presidente da República, Geraldo ‘picolé de chuchu’ Alckmin (PSB), do criminoso querendo voltar à cena do crime.

Bon dimanche!