RAIMUNDO FERREIRA
Coluna do professor e arquivista Raimundo Ferreira de Souza: A música que sucesso
A MÚSICA QUE FAZ SUCESSO
Raimundo Ferreira
Para emitir alguma opinião sobre essa temática, vamos narrar uma história real do interior do Acre, no município de Tarauacá, que é sempre relembrada nas rodas de conversa como um dos casos mais pitorescos da região.
Certo dia, o prefeito do município, avaliando que a preferência musical do povo tarauacaense era pelo cantor popular Amado Batista — e, por sinal, não estava enganado — decidiu contratá-lo para realizar um show na cidade.
Segundo testemunhas, a notícia se espalhou rapidamente e o povo se mobilizou. Pessoas vieram de canoa pelos rios e igarapés; outras chegaram montadas em burros e cavalos pelos varadouros; houve ainda quem viajasse longas distâncias de bicicleta. O pessoal da cidade também aderiu em peso ao evento.
De acordo com os relatos, se os ladrões quisessem aproveitar a ocasião para arrombar e roubar as casas, poderiam ter saqueado rua por rua — pois não havia praticamente ninguém em casa. Só que isso não aconteceu porque até os ladrões foram ao show.
Esse episódio emblemático e curioso ilustra bem a questão das preferências musicais: o estilo de um cantor e as circunstâncias locais — como o acesso à música e aos artistas — podem influenciar fortemente na aceitação popular. É daí que surge o jargão popular dos comunicadores: “tal música fez sucesso” ou “tal artista estourou em determinada localidade”.
A verdade é que a cultura musical, como manifestação artística, sofre grande variação de região para região. Além disso, dentro de uma mesma área, há subdivisões de gosto e aceitação, influenciadas pelos meios de divulgação e pelo acesso que as pessoas têm às músicas. Assim, o público vai conhecendo, assimilando e adotando certos estilos e artistas, enquanto despreza outros que não conseguem atingir o mesmo nível de popularidade.
Diante desse universo multifacetado da cultura musical brasileira, surge uma indagação: quando falamos da consagrada sigla MPB — Música Popular Brasileira, afinal, de qual Brasil estamos falando? Do Sul? Do Norte? Do Centro-Oeste? Ou de outras regiões e sub-regiões? Acreditamos que essa reflexão merece ser debatida e devidamente ajustada.
Outra questão igualmente relevante é a tentativa de classificar certos estilos musicais como sendo de “boa qualidade”, rotulando-os como música de “primeira classe”, enquanto outros — como o brega e estilos afins — são injustamente rebaixados. Essa hierarquização revela mais sobre quem define os critérios do que sobre a real riqueza e diversidade da música brasileira.

