RAIMUNDO FERREIRA
Coluna do professor Raimundo: Ele escreve “Sobre meio ambiente no Acre”
SOBRE MEIO AMBIENTE NO ACRE
Sempre que nos propomos tecer alguns comentários referentes ao meio ambiente no Acre, ficamos preocupados que as argumentações podem não serem suficientes para abordar o problema com a abrangência, profundidade e importância que o assunto merece. Para início de conversa, lamentavelmente não podemos tomar como parâmetro as orientações do passado, mesmo porque, por essa época não existiu qualquer normalização que orientou as ocupações onde as pessoas eram alocadas para fixar residência, ou seja, as pessoas situaram-se ao acaso, sem qualquer planejamento, norma de conduta e/ou decisão sobre planos de ocupação. Os imigrantes oriundos do nordeste, que foram atraídas para trabalhar nessa região, vieram tentar melhorarias para suas vidas e consequentemente povoar o território. Chegavam aqui através da única via de acesso, o rio Acre, desembarcavam, nos povoados ou nas sedes dos seringais nativos, alguns eram instalados nas margens do Rio Acre, mais a maioria adentravam mata a dentro para as colocações de seringa, no interior dos seringais, objetivando exclusivamente trabalhar na extração do látex, produção da borracha natural e colheita da castanha do Brasil, tendo como suporte mínimo para sobrevivência, os equipamentos de trabalho e uma arma de fogo (espingarda) para abater alguns animais silvestres que iriam lhe subsidiar na alimentação básica. Deparando-se com essa situação, o trabalhador (seringueiro) sentia-se como se tivesse caído numa cilada, pois, não tinha alternativa que não fosse enfrentar o trabalho duro para sobreviver e em algum momento tentar sair dessa situação da melhor maneira possível, trabalhando sobre um esforço sobre-humano, tentando acumular algum saldo, ou ao menos saldar as dividas com o patrão. Sobre as questões da preservação propriamente, mesmo sem contar com dados científicos comprobatórios, enfatizamos a teoria de que a aparência exuberante dessa selva em todo seu esplendor impressionou esses personagens da época, de modo a fazê-los acreditar que a natureza era infinita e possivelmente permitiria o usufruto para sempre sem qualquer risco à sua integridade, seja por desmatamentos ou alguns poluentes dispensados ao meio ambiente. Na verdade, essa era uma visão míope que impediu esses atores a não identificarem, que apesar das aparências gigantescas desse bioma, mas na pratica trata-se ecossistema frágil e que requer cuidados especiais, assim sendo, essa natureza aparentemente forte e de características intransponíveis, não consegue reciclar e nem tão pouco restaurar continuamente os ambientes naturais que sofrem ataques de devastação no seu interior, apresentando a media e longo prazo, avarias e descaracterizações dos habitats naturais, conforme observamos na atualidade, e que não deixam de ser reflexos dessa conduta mal conduzida que remonta desde a ocupação inicial desse território. Sobre as personagens que por aqui comandavam e eram comandados, de certo modo podemos amenizar suas atitudes e culpas, mesmo porque entendemos que em um sistema brutal de trabalho em condições de semiescravidão, conforme acontecia por essa época, essa preocupação não passava pela cabeça e nem pelos interesses do patrão, muito menos dos seringueiros, que chegavam até aqui buscando alternativas mais viáveis e sobrevivências mais dignas para suas vidas. Assim sendo, quando observamos hoje a situação de desmatamento, degradação, devastação do meio ambiente, especialmente o descaso com os mananciais, acreditamos que estas circunstâncias não são fenômenos de agora e nem tão pouco episódios isolados, pois, remonta descaso desde a ocupação. Hoje estamos discutindo a questão da cobertura vegetal das nascentes e margens dos rios e igarapés, ou recomposição das matas ciliares, que vem a ser a mesma coisa e observamos que toda essa situação está beirando ao caos, na nossa visão esse cenário vigente de devastação apenas explicita o reflexo do descaso ocorrido no passado, que passou por ocupação sem qualquer planejamento e/ou orientação e infelizmente continua sofrendo o descaso dos poderes públicos, que até hoje as autoridades não se preocuparam em criar estruturas para reciclar lixos sintéticos e nem para tratamento de esgotos domésticos, e todos estes dejetos e lixos sólidos terminam por infestar áreas abertas e também sendo encaminhados para o leito dos mananciais, sem contar ainda com a contribuição que a população também realiza, dispensando seus objetos em desuso na calha dos rios e igarapés como se fossem papa entulhos. Para se iniciar um trabalho de recuperação e possível restauração dessa situação, por exemplo, na questão da recomposição das matas ciliares, de acordo com um inventário vigente, dezembro de 2011, para os mananciais menores com 10 metros, deve manter-se a faixa com 30 metros para matas ciliares, até 50 metros de largura, faixa de 50 metros, de 200 metros até 600 metros, a faixa a ser conservada deve ser de 100 a 200 metros. Meio a estas questões normativas evidenciamos alguns problemas, entre eles, a seleção das espécies que faziam parte das matas ciliares originais, o outro problema de ordem legal, seria a invasão de propriedades privadas, pois, o estabelecimento destas normas certamente vão contrariar muitos interesses e além destas questões, que certamente concorreriam para obstaculizar a execução do projeto, quem conhece um pouco da extensão dessa devastação, mesmo não querendo ser pessimista, mas certamente tem boas razões para acreditar que a implementação de uma tarefa dessa monta vai requerer grande mobilização social, muita vontade política, muitos recursos públicos, um grandioso projeto e que não só a ideia seja implantada na prática, mas que garanta a manutenção e consequentemente a execução do projeto a longo prazo, de modo que as futuras gerações possam vislumbrar outro cenário de restauração e melhoria para o meio ambiente acreano. Evidenciamos essa preocupação, porque conforme somos sabedores, as ideias oficiais, mesmo sendo úteis e de grande utilidade para a região e para o povo, geralmente só duram enquanto perdura o mandato do governo de plantão.