COLUNA DO PROFESSOR RAIMUNDO FERREIRA — O silêncio da liberdade

Apesar do ambiente iluminado, com acomodações para varias pessoas, com três atendentes atrás do balcão atentas e dispostas para recepcionar quem se aproxima, mas o ambiente é tenso e de certo modo sinistro, ninguém ousa olhar para o lado, ninguém se arrisca sair de dentro de si, ninguém aventura-se a indagar se a pessoa ao lado está bem , ou ao menos comentar sobre a temperatura ambiente – se está muito frio, agradável, ou necessitando calibrar ao gosto de alguém. Na verdade, qualquer atitude diferente, digamos de buscar contato, pode ser entendida como inconveniência, mesmo assim, alguma campainha desavisada quebra o silêncio e a pessoa mesmo sem culpa, sente-se culpada e se afasta para atender. Na continuidade do silêncio, no íntimo, todos reprovam o ocorrido, nesse ambiente de tensão e calmaria não deveria acontecer interferência, pois, as pessoas já estão em outro nível, muito além dos contatos e diálogos presenciais, a tecnologia proporcionou isso, cada indivíduo, não importando a idade, sexo, credo e ideologia, possui o seu brinquedo e sua forma particular de se comunicar e se divertir, por exemplo, nesse ambiente tenso e sisudo, de vez em quando, alguém esboça um sorriso abafado, franze a testa, demostrando alguma tensão, se desligam um pouco, com um ar taciturno, como se estivesse se deparado com alguma preocupação, entre outras reações e dessa forma compenetrada e silenciosa as pessoas seguem administrando suas vidas. Como produto do meio, não poderíamos ser diferentes, continuamos na mesma cantilena. Sinceramente, não sabemos exatamente se estamos reclusos e enclausurados dentro de nós mesmos, ou se estamos tão libertos, blindados e transparentes, a ponto de não nos enxergarmos mais presencialmente em estado físico, ou seja, atingimos a evolução plena, a condição de dependência total dos sinais eletrônicos emitidos aos nossos receptores. Para as nossas necessidades básicas, se alimentar por exemplo, a escolha e o pedido não há problema, pode ser resolvido eletronicamente, no entanto, o ato da ingestão, aí já requer nossa presença física, quanto às acomodações residenciais, quase tudo pode ser operacionalizado de forma eletrônica, por sinal nesse setor, podemos até forcar a afirmativa de que as pessoas residem fisicamente no ambiente, mas as relações de toda ordem, são todas operacionalizadas dentro e através do aparelho celular, é bem possível que, se bifurcarmos em uma situação extrema, onde seja necessário optar entre a retirada total do receptor e uma temporada no local dos sonhos, sem acontecer o advento da comunicação por um mês, é bem possível que um percentual expressivo de pessoas dispensariam a temporada dos sonhos, mesmo porque, para os convertidos e viciados em celulares, sem comunicação não existiria vida possível nem liberdade.