CULTURA & ENTRETENIMENTO
Como uma cineasta transformou salas de aula em cinema para 4,6 mil alunos no Acre por meio do projeto “Porto Cine Intinerante”

Escola Marina Vicente – Boa União
Entre estradas de terra e escolas lotadas, o projeto “Porto Cine Itinerante” rompeu as fronteiras da capital e provou que o cinema é uma linguagem universal.
Imagine a cena: as janelas são cobertas para bloquear o sol forte da tarde amazônica. O burburinho das crianças diminui aos poucos. De repente, um feixe de luz corta a sala e projeta na tela branca grande um mundo novo. Para muitos ali, na zona rural de Porto Acre e ou de Rio Branco aquela não era apenas uma “aula diferente” — era a magia do cinema acontecendo ao vivo.
Essa cena se repetiu 53 vezes ao longo do último mês de novembro. Liderado pela cineasta acreana Queli Cá, o projeto Porto Cine Itinerante realizou uma verdadeira maratona cultural que merece roteiro de filme.
Uma Aventura pelos Ramais Financiado pela Lei Aldir Blanc – edital 06 (Fundação Elias Mansour), o projeto tinha uma missão ousada: não esperar o público ir ao cinema, mas levar o cinema até o público. E a equipe levou isso ao pé da letra.
Metade da operação (52%) aconteceu onde o asfalto muitas vezes termina. De ramais na Transacreana a comunidades rurais em Porto Acre, a equipe do projeto carregou equipamentos, filmes e sonhos. O resultado? 4.613 espectadores impactados.
“Ver o brilho no olhar de uma criança que mora no ramal, assistindo a uma obra na tela grande dentro da sua própria escola, é indescritível. O cinema tem esse poder de conectar, de fazer sonhar”, conta a idealizadora Queli Cá.
Muito Mais que Pipoca e Tela O grande diferencial do Porto Cine Itinerante foi não subestimar seu público. O projeto não ofereceu apenas entretenimento passivo. Ao final de cada sessão, as luzes se acendiam e começava a segunda parte do espetáculo: o debate.
Alunos de todas as idades — dos pequenos do Ensino Infantil (creche) aos adultos do EJA e estudantes de escolas cívico-militares — foram convidados a pegar o microfone e falar. Discutiram identidade, cultura, realidade acreana e a consciência negra. A escola virou cinema; o aluno virou expectador e crítico de cinema.
Momentos Inesquecíveis
A turnê colecionou momentos marcantes:
• O dia da multidão: Em 19 de novembro, a Escola Marina Vicente Gomes, em Rio Branco, parou. Foram 900 alunos participando de uma maratona de 10 sessões consecutivas.
• A inclusão real: Na Filmoteca Acreana, uma sessão especial com recursos de acessibilidade emocionou ao provar que a arte não tem barreiras visuais.
Missão Cumprida
Ao encerrar o circuito no dia 25 de novembro, na Escola 15 de Junho em Senador Guiomard, o Porto Cine Itinerante deixa um legado que vai além dos números do edital. Ele deixa a memória afetiva em 4.613 corações (nesta edição) e a certeza de que a cultura no Acre está viva, pulsante e, mais do que nunca, na estrada.





