GERAL
Cooperparquet completa 15 anos e consolida modelo de inclusão, trabalho digno e serviços de qualidade no Acre
Cooperativa fundada por mulheres nasce do sonho do parquet e se reinventa na prestação de serviços; hoje reúne 185 cooperados e atende órgãos estratégicos do Estado
A Cooperativa de Trabalho Tropical Parquet (Cooperparquet) celebra, neste 20 de setembro, 15 anos de atuação no Acre. Nascida do ideal de um grupo de mulheres formadas em um curso técnico de gestão, a cooperativa começou com a proposta de fabricar placas de parquet a partir de retalhos de madeira, iniciativa que originou o nome e moldou a identidade do empreendimento. Ao longo do caminho, o projeto evoluiu e a Cooperparquet se reinventou na prestação de serviços, mantendo o DNA de inclusão, participação e geração de renda.
Quem a Cooperparquet atende e o que faz
Atualmente com 185 cooperados, a cooperativa presta serviços para instituições como Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE-AC), Universidade Federal do Acre (UFAC) (inclusive no Campus Cruzeiro), Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), órgãos da administração estadual e municipal, Unimed Rio Branco, entre outros. O portfólio inclui apoio administrativo e operacional (auxiliar administrativo, recepção, serviços gerais, jardinagem, roçagem, copeiragem, garçom), interpretação de Libras, cuidado e apoio em diversas funções, além de gestão de contratos.
Da marcenaria ao serviço: a história que virou referência
A presidente Joelma Brasil Lima acompanha a cooperativa desde a fundação. Ela recorda que a primeira proposta era montar, em casa, placas de madeira para posterior padronização em marcenaria e venda ao mercado, um arranjo pensado para permitir que mulheres com filhos pequenos pudessem trabalhar sem se afastar da família.
“A cooperativa nasceu de um sonho pensado por mulheres. Quando percebemos a falta de recursos para escalar a produção de parquet, migramos para a prestação de serviços sem abrir mão da nossa essência: acolher pessoas e gerar oportunidades”.
“A cooperativa significa muito, não só para mim, mas para os 185 cooperados. É a nossa fonte de renda e de dignidade. Juntos somos mais fortes”.
Vozes que constroem a Cooperparquet
_“Gratidão que vira oportunidade”, diz Nasa, gestora de contrato no TCE-AC_
A trajetória de Maria de Nazaré, a Nasa, traduz o ciclo de formação, trabalho e ascensão que a cooperativa promove.
“Cheguei em 2011, por convite de amigas que queriam ajudar famílias, especialmente mães sem com quem deixar os filhos. Comecei na limpeza, depois aceitei o desafio de ser copeira por dez anos, e mais tarde me convidaram para ser gestora dos cooperados no Tribunal de Contas. Muita gente acha que cooperativa não dá chance de crescer. Eu sou a prova de que dá. Ver novos cooperados começando me enche de alegria; a gente orienta, acompanha e vibra com cada passo”.
Para Nasa, o diferencial está no acolhimento e na liderança comprometida.
“A Cooperparquet é família que abraça. Tenho gratidão à Joelma e à Gabriela, que dão o sangue para fazer acontecer. Hoje somos mais de 180 cooperados; só no TCE-AC, 32. Já expandimos para outros órgãos e até a Unimed. Meu sentimento é de gratidão e esperança: vejo a cooperativa em um patamar ainda maior nos próximos anos”.
“Humanização que muda a vida”, afirma Dainara Sales, auxiliar de limpeza no Juizado Cível.
Com um ano de casa, Dainara resume a quebra de preconceitos sobre o cooperativismo.
“Entrei receosa porque já tinha ouvido muita coisa negativa sobre cooperativa. Descobri um ambiente acolhedor, com garantia de direitos, descanso e substituição organizada quando precisamos nos ausentar. É diferente: você fala com a presidência, com a coordenação, e sempre há uma solução”.
O incentivo à formação também marcou sua experiência:
“A cooperativa estimula cursos para crescer. Se eu estudar administração, posso subir de função. Nas assembleias, tudo é votado por nós; participamos dos ganhos quando há sobras. Não é só trabalho: é pertencimento. Aos novos, digo: não tenham medo, aqui a gente cresce junto”.
“Cooperação na prática, respeito à família”, salienta Onélia Abreu, tradutora e intérprete de Libras (UFAC)
Com 18 anos de profissão, Onélia Abreu chegou à Cooperparquet pela UFAC em 2023, em um momento de transição para o modelo cooperativista.
“Eu não conhecia o cooperativismo. Houve estranheza no início. A cooperativa nos apresentou um curso e explicou direitos como descanso e auxílio natalino. Aquilo clareou as ideias. O que mais me marcou foi a humanização: quando precisei me ausentar por motivo de saúde dos filhos, houve substituição e apoio. Senti a diferença entre um comando distante e uma gestão que ouve e cuida”.
Onélia destaca a gestão democrática e o diálogo cotidiano:
“Participamos de assembleias em que tudo é colocado com transparência. Temos voz para avaliar gestores e processos. No dia a dia, o gestor nos escuta, entende necessidades familiares, ajusta horários e garante cobertura para que o serviço não pare”.
Esse cuidado transformou sua rotina e a presença junto à família:
“Antes, trabalhava 44 horas e não tinha vida fora da instituição. Com a cooperativa, 30 horas, mais qualidade de vida e até a possibilidade de outro vínculo. Posso ir à escola dos meus filhos, viajar com eles, e voltar sabendo que o posto estará coberto. Isso melhora o meu trabalho e a minha paz”.
Emocionada, ela deixa um recado aos que ainda têm dúvidas:
“Há três anos, passei por uma cirurgia do coração e recebi uma segunda chance. Digo a quem está chegando: conheça a cooperativa, dê-se a chance de ser acolhido. Aqui a gente encontra união, respeito e caminho para crescer. Sinto orgulho de fazer parte dessa família”.
Impacto social e trabalho com propósito
A Cooperparquet se consolidou como porta de entrada no mercado para diferentes perfis: jovens no primeiro emprego, pessoas acima de 40 anos, egressos do sistema prisional e trabalhadores em requalificação. O ambiente de gestão democrática, com assembleias, avaliação de lideranças e divisão de sobras, fortalece a cultura de justiça e corresponsabilidade.
Durante a pandemia, a direção garantiu renda a cooperados em tratamento de saúde e organizou transporte para reduzir riscos, mantendo contratos e proteção social.
“Nenhum cooperado ficou desamparado. A gente se reinventou para atravessar a crise e seguir de pé, juntos”, relembra Joelma.
Inovação, crescimento e próximos passos
Depois de encerrar o ano anterior com 84 cooperados, a Cooperparquet praticamente dobrou de tamanho e projeta chegar a 200 até o fim do ano, ampliando contratos e áreas de atuação, com qualificação continuada e serviços digitais.
“Para os próximos 15 anos, queremos ampliar a participação de novas lideranças e manter o foco na qualidade com cuidado às pessoas”, conclui Joelma Brasil.
Sistema OCB/AC destaca a relevância da cooperativa para a economia acreana
O presidente do Sistema OCB no Acre, Valdemiro Rocha, ressalta a contribuição estrutural da Cooperparquet:
“A Cooperparquet traduz o melhor do cooperativismo de trabalho: inclusão produtiva, governança participativa e entrega de valor ao contratante. Ao abrir portas para quem mais precisa e garantir serviços qualificados aos órgãos públicos, a cooperativa movimenta a economia local, profissionaliza mão de obra e prova que o cooperativismo é caminho concreto de desenvolvimento com dignidade”.
Serviço
Cooperativa: Cooperparquet – Cooperativa de Trabalho Tropical Parquet.
Fundação: 2010 (15 anos)
Cooperados: 185
Atuação: Prestação de serviços (administrativos, operacionais, Libras, gestão de contratos etc.)
Órgãos e instituições atendidos: TCE-AC, UFAC (incluindo o Campus Cruzeiro), TJAC, órgãos estaduais e municipais, Cooperativa Unimed Rio Branco, entre outros.
Texto: Andréia Oliveira