ACRE
Da série ‘Personagens do Juruá’, Ere Hidson conta tudo sobre Pedro Negreiros, ex-prefeito de Cruzeiro que criou os festivais
O nome de batismo dele é Pedro da Silva Negreiros, nascido em 20 de fevereiro de 1939, exatamente quando iniciava a Segunda Guerra Mundial. Local de nascimento: seringal Boa Vista, no rio Paraná dos Mouras. Casou-se com Carminha Silva Negreiros, hoje uma histórica professora aposentada. Com ela teve três filhos: Francisca das Chagas Freire Negreiros (Simone), professora; Francisco Ernandes Freire Negreiros, funcionário público; e Maria Rosemere Freire Negreiros, também funcionária pública.
Prefeito tampão durante nove meses, em 1985, na abertura da redemocratização do país, acabou gostando da política e três anos depois se elege para ser prefeito de 1989 até 1992.
Uma vez eleito prefeito pelo voto popular, Pedro Negreiros não foi um político qualquer. Deixou marcas em sua gestão. Ficou conhecido como o maior construtor de escolas de seu tempo. Ele lembra com orgulho de ter erguida do chão escolas como a Corazita Negreiros, no bairro do Telégrafo, além de muitas escolas na zona rural. Naquela época, os hoje municípios de Porto Walter e Marechal Thaumaturgo era vilas e faziam parte de Cruzeiro do Sul. Nessas duas localidades, o prefeito Pedro construiu as primeiras delegacias de polícia. Na questão cultural, foi o primeiro prefeito a realizar os festivais de praia nos anos 80, o que acabou virando febre em todo o interior do Acre até hoje.
Pedro Negreiros é um homem lúcido apesar da idade avançada. Continua muito inteligente, ligado no mundo e com a memória excelente. Ele vai buscar coisas do arco da velha, sem titubear. Ele conta, por exemplo, que muitas de suas realizações, como pioneiro do primeiro projeto cidadão do Acre, levando cidadania e dignidade pra população nos seringais e zona rural, são momentos que lhe são frescos na mente. Lembra como se fosse hoje. Esse projeto foi, mais tarde, aperfeiçoado pelo Tribunal de Justiça do Acre, se tornando uma marca do Judiciário.
Na parte da agricultura, seu Pedro também deixou marcas. Ele destaca a construção do primeiro mercado do agricultor de Cruzeiro do Sul. No contexto habitacional, criou o bairro Cruzerinho Novo, que tirou moradores da parte alagada do bairro da Lagoa, construiu casas no Miritizal e distribuiu terrenos no Cruzeirão.
Durante sua vida ativa na política, apesar de não ser um homem afeito a badalações, fez muitos amigos. Saí contando os primeiros nos dedos, até se perder. Lembra com grande carinho o ex-deputado e ex-governador Rui Lino, aquele que Negreiros aponta como grande entusiasta da ligação por terra de todo o Acre. Antes mesmo do BEC iniciar as obras de construção da BR-364, no trecho de Rio Branco até Sena Madureira, numa época que não existia motosserra, foi iniciado o trecho com a utilização de mão-de-obra braçal, a base do machado.
Outra figura da política que Pedro Negreiros lembra com saudades é o ex-prefeito e ex-governador Orleir Cameli, que faleceu prematuramente aos 64 anos. “Foi uma grande perda”, registra. Pedro não esquece do momento em que passou a faixa de prefeito ao saudoso Orleir, seu sucessor.
No rol dos grandes políticos mantém o nome do ex-prefeito, ex-deputado federal e ex-senador Aluísio Bezerra, como alguém de muita visão nos projetos futuristas, que tinha como a abertura da estrada o para Pacífico, passando por Cruzeiro do Sul, alavancando o “desarollo/progresso” do Juruá. O governador Edmundo Pinto, que apesar de ter sido seu adversário, está em sua lista dos melhores. “Foi um grande homem”, carimba. Outra figura que Negreiros põe na conta da dívida que o Acre tem com ele é o ex-deputado estadual, federal, senador e ex-governador Nabor Teles da Rocha Junior.
Pedro Negreiros se aposentou, não sem antes enriquecer seu currículo ao assumir como secretário de agricultura do Governo Jorge Viana, na região do Juruá. O secretário estadual da pasta era Tião Bocalom (PP), atual prefeito de Rio Branco.
Morando na capital, seu Pedro é uma daquelas joias, verdadeiros baús da nossa história que precisam ser cuidados. Seu legado é de valor inestimável. Ele hoje olha pra trás e garante não ter nada que lhe magoe. Pelo contrário. Vive satisfeito com o que se tornou o Juruá, uma região próspera e que teve a sua contribuição para isso.