Doutrina do Daime vai ganhar obra literária escrita por seguidor que nasceu no Alto Santo há meio século

O jornalista Jairo Carioca se prepara para editar o livro: “Vovô Irineu, todos vão se recordar e começar do Abc”. A obra será a primeira escrita por um seguidor que nasceu na comunidade do Alto Santo, em Rio Branco, há meio século. Além da vivência com os ritos, um trabalho de história oral, de 1989, baseia o trabalho. Até aqui são 33 anos de estudos e pesquisas. “É uma proposta de documentar a forma metódica como o Mestre Irineu arvorou sua escola espiritual, uma contribuição com os objetivos de resgate da Doutrina do Daime” diz o escritor.

A redação final do conteúdo será encaminhada para uma editora espírita de Minas Gerais que se interessou pela memória. A obra tem como título a expressão carinhosa: “Vovô Irineu”, forma como os irmãos do autor chamam até os dias de hoje o Mestre fundador da Doutrina no Acre. O subtítulo: “todos vão se recordar e começar do abc” segundo Carioca, é uma citação de um dos hinos do hinário o Mensageiro, de Maria Marques Vieira, a Maria Damião, seguidora que ajudou a fundamentar os trabalhos espirituais do Daime ao lado de Irineu Serra. “Uma proposta literária feita por uma senhora à frente do seu tempo na década de 40”, acrescentou o jornalista.

Carioca assegura que o conteúdo do livro tem linguagem simples voltada para o cotidiano de quem frequenta uma sessão, um hinário, uma sessão de cura, os ritos ensinados pelo velho Juramidam. Ele apresenta Irineu Serra como um homem comum e não como um mito. O pesquisador acredita que o Daime trouxe como pedra filosofal, como prisma perfeito, uma cosmogonia e uma cosmologia dignas de serem estudadas.

“Este livro é dedicado a quem segue a linha do Mestre Irineu e a quem deseja se aproximar dessa fonte. Este ser que nasceu em forma de brilhantes pedras finas deixou como legado o replantar as Santas Doutrinas. Essa é a grande missão revelada na luz do Daime. Isso precisa ser levado ao conhecimento de todos que tiverem boa vontade em conhecer essa escola divina para o caminho do bem”, disse Carioca.

Questionado sobre os modelos implantados pelo Brasil e vários países no mundo com costumes e práticas diferentes das ensinadas na fonte, Carioca afirma a existência de um movimento de grupos no Brasil e no exterior que buscam as origens. Ele defende estratégias que possam divulgar cada vez mais o modelo original.

“Nenhuma cultura foge do que os estudiosos chamam de mobilidade religiosa. É lamentável que algumas práticas ensinadas a partir das dissidências tenham contribuído para a desculturização. Sofremos muito em ver o nome e a imagem do Mestre Irineu associada a deformidades fora dos padrões de sua Doutrina. Mas, existem os que erram por falta de conhecimento. Um movimento tímido, porém, verdadeiro, quer se aproximar da fonte. Eis a importância da transmissão literária desse modelo ensinado pelo Mestre Irineu”, analisou.

Outro aspecto destacado pelo autor é a ligação da doutrina com a política de sustentabilidade. Um capítulo especial é dedicado a defesa da floresta, retratando a fé instituída desde as civilizações Incas. É das matas que a matéria-prima para confecção do Daime: o cipó jagube (Banisteriopsis caapi) e a folha chacrona (Psychotria viridis). “A força desse trabalho espiritual está na floresta. É o grande segredo. Daí a importância de nossas futuras gerações terem conhecimento dessa filosofia. Defender o equilíbrio ambiental é garantir vida futura, esse compromisso está presente na instrução do Daime”, analisou.

Carioca deixa claro que edita seu estudo sem querer ser presunçoso. “O Daime é a via mais autêntica. Este é o pedestal”, concluiu.