KATIANNY ARAÚJO
Dra Katianny Araújo aborda um tema relevante em sua coluna desta quinta-feira, 20: A interrelação entre dor aguda, crônica e saúde mental
A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano tecidual real ou potencial. É uma das razões mais comuns pelas quais os pacientes procuram atendimento com o profissional da saúde. A dor pode ser classificada em duas categorias principais: dor aguda e dor crônica. Ambas têm classificação clínicas distintas e requerem abordagens terapêuticas específicas.
O objetivo deste artigo é trazer clareza ao leitor, em relação, aos conceitos, mecanismos, avaliação e tratamento da dor aguda e crônica, proporcionando uma visão abrangente sobre esses fenômenos.
A dor aguda é uma resposta fisiológica imediata e de curta duração a um dano tecidual, como uma lesão ou cirurgia. Sua função principal é servir como um mecanismo de proteção, alertando o corpo sobre um perigo iminente e promovendo comportamentos que evitem danos adicionais. Os mecanismos subjacentes à dor aguda envolvem a ativação de nociceptores, que são receptores sensoriais específicos para estímulos nocivos. Estes sinais são transmitidos através de fibras nervosas A-delta e C para o sistema nervoso central, onde são processados e interpretados como dor.
A dor crônica, por outro lado, persiste por mais de três meses e frequentemente se estende além do período esperado de cura. Pode resultar de condições patológicas contínuas, como artrite ou neuropatia, ou ser mantida pela sensibilização central, onde o sistema nervoso central se torna hiper-responsivo. A dor crônica pode ser nociceptiva, neuropática ou mista. A plasticidade neural, tanto periférica quanto central, desempenha um papel crucial na perpetuação da dor crônica.
A avaliação da dor aguda envolve a identificação da causa subjacente e a determinação da intensidade e localização da dor. Ferramentas comuns incluem escalas de dor numérica (0-10), escalas visuais analógicas (EVA) e escalas descritivas verbais. A história clínica detalhada e o exame físico são essenciais para um diagnóstico preciso.
A avaliação da dor crônica é mais complexa e exige uma abordagem multidimensional. Além das ferramentas de avaliação da dor aguda, questionários específicos, como o Questionário de Dor de McGill e o Índice de Incapacidade de Dor, são utilizados. A avaliação também deve considerar fatores psicossociais, como depressão, ansiedade e impacto na qualidade de vida.
A gestão da dor, especialmente da dor crônica, apresenta desafios significativos. A variabilidade individual na resposta ao tratamento e a complexidade dos mecanismos subjacentes exigem abordagens personalizadas. A pesquisa continua a explorar novas terapias, incluindo terapias genéticas, tratamentos biológicos e avanços em neuromodulação. Além disso, há um interesse crescente em compreender a interseção entre dor, inflamação e o sistema imunológico.
A dor, tanto aguda quanto crônica, representa um desafio significativo para a prática do profissional da saúde, devido à sua complexidade e impacto profundo na qualidade de vida dos pacientes. A dor aguda, embora geralmente de curta duração, requer intervenção imediata e eficaz para prevenir complicações e facilitar a recuperação. O manejo da dor aguda envolve uma combinação de terapias farmacológicas, como analgésicos não opioides e opioides, e intervenções específicas, como bloqueios nervosos, visando aliviar rapidamente a dor e restaurar a função.
A dor crônica, por sua vez, é uma condição multifacetada que persiste além do período normal de cura e frequentemente está associada a sensibilização central e mudanças neuroplásticas. O tratamento da dor crônica é intrinsecamente mais complexo, exigindo uma abordagem multidisciplinar que inclua farmacoterapia, intervenções intervencionistas, terapias físicas e psicológicas.
A personalização do tratamento é crucial, considerando a variabilidade individual na resposta terapêutica e a necessidade de abordar tanto os aspectos físicos quanto psicossociais da dor.
No entanto, a integração de estratégias de tratamento, que combinem o melhor da farmacoterapia com suporte psicossocial e intervenções físicas, permanece essencial para melhorar os resultados dos pacientes e promover uma abordagem holística à gestão da dor.