COLUNAS
Em sua coluna de hoje a jornalista Rafaela Vilaça diz “você pode ser o que você quiser”
A arte imita a vida, ou a vida imita a arte? Estamos sendo doutrinados?
Olá, caros leitores! Geralmente o colunista tem satisfação em levantar questionamentos sobre temas em voga, ou polêmicos, mas sempre pensei neste espaço, não como um recorte para lacrar ou que daqui a alguns anos estas palavras se tornem obsoletas ou sem contexto, penso num espaço que proponha a reflexão e o autoconhecimento.
Essa semana, não posso atar os olhos com a faixa da ignorância e deixar passar esse bate boca que nos chega através das telas de 8 mm. Aguardado pelas criancinhas de 40 anos e suas filhas, Barbie vem para quebrar paradigmas. Muitas mocinhas de 12 anos sequer compreenderam a profundidade das piadas de cunho sensual e o discurso empoderado ou feminista, além das sub linguagens usadas para compor as cenas como posicionamento de câmeras, expressões faciais, cores e tantos outros. Mas ao contrário do que se pode pensar, não vim crucificar o filme, longe disso.
Ao apreciar uma obra de arte, seja ela uma película, um quadro… percebemos e interpretamos através de um filtro. Um filtro pessoal cuja construção perpassa nossa própria trajetória de vida. E por esse motivo, o filme que, sob minha ótica despretensiosa, é poderosíssimo. Ele é um ponto positivo para as mamães de uma geração doente e sem rumo que sonhou com um mundo de possibilidades, mas não se preparou para os desafios da maternidade moderna. Além disso, ao derredor uma vemos adolescência mole, sem perspectiva, cheia de insegurança, precisando de um ícone que os represente em suas causas e virtudes. E em outra perspectiva, também estamos ladeadas de uma geração de quarentões e quarentonas, madura que divide a casa dos pais, mimadinhos e sem um norte. Conquistamos tudo que sonhamos enquanto geração doutrinada por barbies?
Mas no lançamento do filme e seus dias subsequentes os objetivos não alcançados não foram insuficientes para as barbiegirls não se vestirem do orgulho rosa. Várias ‘barbies’ adornadas de saíram do armário para prestigiar aquela que foi outrora nossa inspiração.
O filme trás seus exageros e críticas ao próprio sistema e produtos, sem deixar que o espectador o faça. Antecipa as mazelas do pensamento medíocre com a Barbie Estereotipada que foi criticada por anos e acusada de causar sentimentos de frustração e rejeição às meninas que eram diferentes. E demonstra também que as barbies comuns perdiam lugar nas prateleiras pelo desejo de consumo idealista popular.
Não foi a Barbie que cravou um modelo inalcançável e medidas utópicas, mas a mediocridade da mente humana que consome apenas o objeto, sem sequer racionalizar o tangível. Você pode ser o que quiser, sim! Mas quantos conseguiram ser realmente o que sonhou na infância? Quantos tiveram que se reinventar, buscar novos objetivos, novas possibilidades e habilidades? Quantos se sentem realmente felizes e realizado por suas escolhas, vivências e resultados. O filme mostra o abismo do ideal e o real, que nos consome diariamente.