RAIMUNDO FERREIRA
Em sua coluna desta segunda-feira, 6, o professor Raimundo Ferreira escreve sobre ‘Alegria e tristeza’, faces da mesma moeda, segundo Gibran
ALEGRIA E TRISTEZA
Raimundo Ferreira de Souza
Segundo a visão de Khalil Gibran, no capítulo Alegria e Tristeza de sua obra O Profeta, essas duas experiências humanas são como duas faces da mesma moeda. Isso significa que a expectativa de alegria pode, caso não se realize como imaginado, transformar-se em tristeza — e o inverso também acontece.
Por exemplo: você pode acreditar que irá se deliciar com uma iguaria apresentada como sendo de excelente qualidade, mas, ao provar, talvez o paladar rejeite o sabor, gerando frustração e tristeza. O contrário também é possível: algo aparentemente simples pode surpreender e trazer grande satisfação.
De modo geral, Gibran assegura que as alegrias e as tristezas estão ligadas a interesses e expectativas. Muitas vezes, são experiências desconhecidas até o instante em que se realizam, ficando sempre sob o risco de resultar em contentamento ou decepção. Entre o encontro e a despedida, por exemplo, as sensações transitam entre a possibilidade de prazer e a de dor — num jogo momentâneo e inevitável.
Tudo, portanto, parece mover-se no campo das ilusões. O mais curioso é que, diante disso, o ser humano se deixa encantar, agindo muitas vezes como ingênuo ou ignorante diante da realidade. Ainda assim, aposta todas as fichas na busca por manter a alegria e a felicidade. Poucos compreendem que a alegria e a tristeza estão mascaradas: no mesmo poço de onde pode surgir o riso, muitas vezes também se acumulam lágrimas. Quanto mais fundo a tristeza mergulha em nós, maior pode ser a alegria que dela brota.
Nas palavras de Gibran: “Quando estiverdes alegres, olhai bem dentro do vosso coração, e descobrireis que só aquele que vos deu tristezas vos dá também alegrias.”
Mesmo assim, vivemos nessa expectativa ilusória — resistindo com todas as forças para alcançar o prazer e a sensação passageira da alegria.
Sobre essa resistência, que se apoia na esperança e na fé humanas, há uma pequena anedota que ilustra bem essa questão: Jogaram um ratinho em um recipiente com água. Ele se debateu por vinte minutos e morreu. Jogaram outro ratinho; também lutou por vinte minutos, mas, quando estava à beira da morte, foi retirado, enxugado e devolvido ao recipiente. Dessa vez, resistiu por quarenta minutos antes de morrer.
O que explica a diferença? A esperança.
O segundo ratinho acreditou que poderia ser salvo novamente — e essa expectativa o fez resistir ao sofrimento pelo dobro do tempo. Assim também acontece conosco: a esperança, ou mesmo a fé de que algo virá em nosso favor, amplia nossa resistência e a capacidade de suportar as adversidades.