ARTIGO
Cid Ferreira, o homem do prefeito Bocalom que tem dois anos pra tirar Rio Branco da feiura, revela como vai dar conta disso
Jorge Natal, especial para o Acrenews
Depois de uma longa e exaustiva jornada de trabalho, o que você acha de esperar mais de uma hora um ônibus para poder chegar ao terminal urbano? E ainda ter que pegar outro para finalmente chegar ao destino. No percurso de casa, ruas escuras, enlameadas, sem calçadas e faccionados à espreita. Bem-vindo a Rio Branco, uma cidade complexa e com problemas crônicos que parecem insolúveis.
‘Nascida’ às margens do rio Acre, esta centenária localidade anualmente é alagada. O fenômeno causa prejuízos e transtornos para milhares de pessoas, que não possuem moradia digna. E se no Nordeste existe a “indústria da seca”, temos uma versão às avessas por aqui. Moradias? Além de não serem prioridade nas políticas públicas, quando acontece é de forma inadequada (vide Cidade do Povo).
Quando o assunto é saneamento básico, somos uma África. Segundo o Instituto Trata Brasil, estamos entre as capitais que mais despejam seus dejetos nos cursos d’água, sem tratamento prévio, obviamente. O marco regulatório, política nacional para pôr fim a essa mazela, ainda não chegou a estas paragens.
Os nossos vizinhos fronteiriços, o Peru e a Bolívia, os maiores produtores de cocaína do planeta, encontram aqui tudo o que precisam: jovens para consumir e traficar seus produtos. Não é por acaso que temos a maior e mais jovem população carcerária do país, proporcionalmente falando. A disputa por esse “mercado de trabalho” está estampada nas manchetes dos veículos noticiosos: diariamente, uma pessoa morre de forma violenta em Rio Branco.
O nosso caótico e falido transporte coletivo, as ruas estreitas, esburacadas e de mão dupla, os congestionamentos e acidentes podem ser resumidos na seguinte assertiva: a cidade não foi planejada e há décadas vem sendo negligenciada.
O portal foi à Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Seinfra) conversar com o homem do prefeito Tião Bocalom, o supersecretário Cid Ferreira, de 61 anos, que, sob a orientação daquele, vai conduzir uma força-tarefa para mudar, ao menos em parte, esse quadro adverso.
Oriundo de uma família tradicional, acreano de boa cepa, o nosso personagem é formado em Ciências Contábeis e pertence ao quadro efetivo da Seplan (Secretaria Estadual de Planejamento). Além do bom currículo e trajetória, alia aquilo que é raro na administração pública: o perfil técnico com a sensibilidade política.
Veja os principais trechos da entrevista:
Acre News – No início da gestão, o senhor chegou a acumular três secretarias (Gestão, Seinfra e Finanças) e implantou algumas mudanças na máquina administrativa. Comente sobre nisso.
Cid Ferreira – A Prefeitura de Rio Banco é uma das mais modernas do país. O prefeito Bocalom, um homem muito atualizado, foi o maior entusiasta e patrocinador disso. Já no início da gestão, foram R$ 6 milhões para comprar equipamentos e software de última geração. O programa RBdoc, que abrangem todos os órgãos e autarquias, criou um ambiente virtual no qual o papel é dispensável nos procedimentos e atos administrativos.
Acre News – O que mais aconteceu para merecer destaque?
Cid Ferreira – Ainda em termos administrativos, estamos concluindo a atualização do plano diretor. Criamos a lei do alvará imediato, onde o contribuinte, no computador de sua casa, faz sozinho todo o procedimento para expedição e quitação do imposto. Hoje o servidor bate o ponto no seu próprio celular. Destaco também a informatização da Secretaria de Finanças, cujo serviço de atendimento ao público é célere e de excelência.
Acre News – Como é trabalhar numa cidade onde não existe planejamento?
Cid Ferreira – Estamos concluindo o novo plano diretor, faltando apenas a identificação das Áreas de Proteção Permanentes (APPs), onde também acontece a ocupação irregular. Como isso, vamos desamarrar a cidade, ou seja, ela está travada, engessada. Obviamente que cumpriremos todos os regramentos espaciais e do uso do solo. Como a cidade foi povoada por ocupações, temos o grave problema da regularização fundiária. Imagine que uma pessoa tenha um sítio nos arredores de Rio Branco. E aí ela resolve lotear e vender os terremos. E isso acontece sem comunicar o poder público. E, semente depois, a gente vai ter que fazer a projeção de ruas, das calçadas, das áreas de lazer e dos serviços de saneamento básico. Isso não vai mais acontecer.
Acre News – O senhor diz que a prefeitura só passou a existir de 2021 para cá. Explica isso?
Cid Ferreira – Antes disso, ela era apenas um puxadinho. Quem definia e executava tudo era o governo estadual, que pertencia ao mesmo partido e dava uma ajuda permanente. A constatação disso é órgãos passando por um processo de definição, ou seja, definindo a quem pertence.
Acre News – De acordo com o senador Márcio Bittar, o prefeito não deveria tomar para si a resolução do problema do saneamento básico, ou seja, ele deveria passar para a iniciativa privada que executaria os serviços e administraria o sistema. Comente sobre isso.
Cid Ferreira – Ao privatizar os serviços essenciais, pelo menos é que vem acontecendo Brasil afora, muitos moradores não terão condições de pagar pelo uso dos serviços. Um exemplo disso é a energia elétrica no Acre. A visão altruísta do prefeito fará com que muitas pessoas tenham acesso ao um bem da natureza e essencial como a água.
Acre News – Recentemente, num programa televisivo bastante prestigiado, um líder comunitário disse aquela região, a parte alta da cidade, estava abandonada. O senhor concorda com ele?
Cid Ferreira – Não somente aqueles bairros, embora eu não concorde com a expressão abandonados. Primeiro tivemos que fazer o dever de casa, os trabalhos internos, e fazer caixa. Agora, sim, vamos começar a contratar mais empresas para ajudar a Emurb, que estava sozinha. Mesmo assim, fizemos mil e trezentas ruas no tocante aos serviços de tapa-buraco, esgoto, recapeamento, calçadas e drenagens. Esse programa será lançado nos próximos dias pelo prefeito. Mas a cidade já mudou de cara porque está iluminada e limpa. Para fazer todos esses serviços, contamos com recursos próprios e de convênios.
Acre News – E esse imbróglio sobre o programa Ruas do Povo?
Cid Ferreira – Gestões anteriores captaram um financiamento de mais de R$ 400 milhões para executar aquele serviço, que, como é de domínio público, foi um fiasco. Foi o próprio governo estadual, através do Depasa, que judicializou o programa. Acredito que o motivo é porque eles não têm condições de prestar conta dos recursos.
Acre News – Nos próximos dias, a prefeitura pretende lançar um pacote de obras?
Cid Ferreira – A prefeitura assumiu o seu papel. Estamos fazendo os nossos prédios. Além disso, temos dois elevados que serão iniciados nas próximas semanas. Na região do bairro Cadeia Velha, faremos a reforma do terminal urbano, construiremos uma praça e faremos um novo mercado municipal, bem como um elevado para estacionamento. Também começaremos a contenção e revitalização da encosta do rio, cuja extensão será da Ponte Coronel Sebastião Dantas até a Terceira Ponte. Construiremos, ainda, vários postos de saúde, uma casa de acolhimento para as pessoas que vêm do interior. Também faremos quatro casas para idosos, três creches e um mercado no bairro São Francisco. Ainda neste verão, haverá uma virada de chave com uma profunda intensificação do nosso trabalho.
Acre News – Como o senhor avalia esses dois anos e cinco meses de administração?
Cid Ferreira – Do jeito que recebemos a prefeitura, seria muita pretensão minha, ao final de quatro anos, dizer que ficaremos na história como uma das gestões mais exitosas da capital. No entanto, se a população conceder mais um mandato ao Bocalom, tenho por certo que isso será uma realidade. O prefeito é comprometido com a cidade e com as pessoas. E olha que enfrentamos a pandemia, uma enxurrada do Igarapé São Francisco e a cheia do Rio Acre. Para fazer frente a estas duas últimas, a prefeitura desembolsou R$20 para socorrer a população imediatamente. Ah, estamos com um programa de ajuda humanitária para contribuir com o recomeço daquelas pessoas que perderam tudo.